ASTRÔNOMOS NÃO FORAM CONSULTADOS
Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
A Bandeira do Brasil é uma das mais belas e sugestivas do mundo e também a única que representa grande parte do firmamento que envolve a Terra. Contudo contém erros grosseiros de astronomia.
Há exatos 129 anos, com a deposição de D. Pedro II, era proclamada a República Federativa do Brasil, então nação considerada de 1º mundo com uma forte economia. Naturalmente a Bandeira do Império introduzida em 1822, teria que ser substituída por outra. A nova Bandeira foi estabelecida pelo Decreto nº 4 de 19/11/1889, mantendo a tradição das antigas cores nacionais e inserindo um céu de puríssimo azul. É a mais bela e completa ilustração já imaginada para uma bandeira nacional, única no mundo que corresponde a uma visão da esfera celeste, inclinada segundo a latitude do Rio de Janeiro, local da Proclamação, às 08h30 do dia 15/11/1889.
Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
A Bandeira do Brasil é uma das mais belas e sugestivas do mundo e também a única que representa grande parte do firmamento que envolve a Terra. Contudo contém erros grosseiros de astronomia.
Há exatos 129 anos, com a deposição de D. Pedro II, era proclamada a República Federativa do Brasil, então nação considerada de 1º mundo com uma forte economia. Naturalmente a Bandeira do Império introduzida em 1822, teria que ser substituída por outra. A nova Bandeira foi estabelecida pelo Decreto nº 4 de 19/11/1889, mantendo a tradição das antigas cores nacionais e inserindo um céu de puríssimo azul. É a mais bela e completa ilustração já imaginada para uma bandeira nacional, única no mundo que corresponde a uma visão da esfera celeste, inclinada segundo a latitude do Rio de Janeiro, local da Proclamação, às 08h30 do dia 15/11/1889.
CÉU
ÀS AVESSAS
Uma
consulta a uma simples carta do céu, mostra que o céu da Bandeira
está às avessas. A
posição das estrelas não coincide em suas posições e magnitudes
aparentes. O erro mais grosseiro é a posição do Cruzeiro do Sul. A
posição da estrela épsilon conhecida como ‘intrometida’ e que
representa o Estado do Espírito Santo está invertida bem como a
constelação do Escorpião. A reação não se fez esperar e na
época Eurico de Góis declarou que os que trabalharam na elaboração
da Bandeira não interpretaram convenientemente o Decreto nº 4 que
exigia que as estrelas fossem dispostas na sua situação astronômica
quanto a posição, distância e tamanho relativo. Os legisladores
procuraram na ocasião apresentar uma justificativa para amenizar e
convencer os leigos que aquele céu visto às 08h30 do dia 15 de
novembro estaria refletido na Baia da Guanabara, portanto em pleno
dia! Outros argumentaram que era o céu visto fora da Terra sobre o
Brasil. A questão foi debatida nos jornais, na tribuna do congresso
e até o povo foi instado a opinar. Mas logo tudo ficou esquecido.
Mais tarde, a Lei nº 5443 de 28/05/1968 surgiu para justificar o
erro, mas nada foi feito. Não só o céu, mas também há erros
quanto a faixa com os dizeres ‘Ordem e Progresso’ que alguns
afirmam ser o Equador Celeste e outros a Eclíptica (faixa zodiacal
onde se deslocam o Sol, os planetas e asteróides do cinturão). Do
jeito que está não pode ser nem uma nem outra. Todos os erros
astronômicos constam de dois livros: “A Bandeira Nacional” de
Eduardo Prado publicado em 1903 e depois pelo IBGE e “A Bandeira
Nacional” de Rubens de Azevedo publicado em 1988 pela Edições
Tukano – Artes & Literatura.
O
QUE FAZER?
O
projeto poderia ser realizado corretamente
com a tarefa a
cargo dos astrônomos do Observatório Nacional que estavam ali
pertinho, no bairro de São Cristovão. Porque isto não foi feito?
Talvez por puro revanchismo. Os republicanos sabiam que o Imperador
era astrônomo amador, amava astronomia, tinha um pequeno
observatório no telhado do Palácio Imperial de São Cristovão,
hoje Museu Nacional, onde recebia as crianças para palestras e
observações, bem como um apartamento no então Imperial
Observatório para descansar após horas de observação. Além de
custear expedições científicas, adquiriu instrumentos, modernizou
o Observatório e contratou astrônomos europeus de renome para aqui
trabalhar. Convidado pelo renomado astrônomo francês Camille
Flammarion, em 29/07/1877 compareceu para a inauguração do seu
Observatório de Juvisy. Na ocasião inaugurou a luneta de 24 cm,
plantou nos jardins do Observatório um cedro do Líbano (que existe
até hoje!) e concedeu a Flammarion a comenda da “Ordem da Rosa”.
Era Membro Titular da Sociedade Astronômica da França e mais tarde
foi imortalizado no asteroide ‘Brasília’ descoberto por A.
Charlois (1864-1910) no Observatório de Nice, França. Quanto a
Bandeira, no inicio o projeto poderia ser alterado e várias
consultas foram feitas posteriormente aos astrônomos do Observatório
Nacional para uma correção, mas tudo ficou como o estabelecido no
Decreto nº 4 de 19/11/1889. A mudança seria simples, poucas pessoas
notariam a diferença e o mais importante: mostraria o céu de acordo
com o que vemos. Tal pode ser conferido no dia 20 de maio às 20h00
pois a situação se repete com o Cruzeiro do Sul alto no céu no
meridiano do Rio de Janeiro. Mas após décadas fica difícil
proceder modificações agora que todos estão solidários com a
Bandeira. O mais sensato é, portanto, deixá-la como está e
considerar então que tudo é simbólico e as estrelas nas
constelações estão como se fossem atiradas ao acaso. “Cientes de
que nada perfeito, orgulhamo-nos de que a nossa Bandeira contenha
lineamentos fundamentais da cultura humana, segmentos de nossa
história e projetos permanentes de realizações futuras. A Bandeira
aí está mais gloriosa que nunca” (Raimundo O. Coimbra).
Nelson Travnik é
astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias
Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.
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