sábado, 20 de dezembro de 2014

ASTRÔNOMOS COMEMORAM O DIA NACIONAL DA ASTRONOMIA


Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com

A grata efeméride foi escolhida durante o 2º Encontro de Astronomia do Nordeste, celebrado em Recife/PE, de 30 de junho a 3 de julho de 1978, quando astrônomos aprovaram por unanimidade o título de “Patrono da Astronomia Brasileira” a D. Pedro II (1825-1891). A escolha do dia 2 de dezembro celebra a data de nascimento do imperador, tido como o mais erudito governante do País. A partir da escolha a efeméride ganhou força e a data passou a comemorar o Dia Nacional da Astronomia, o Dia do Astrônomo.


MOTIVOS


Foram muitos. Como astrônomo amador, modernizou o Imperial Observatório do Rio de Janeiro criado por seu pai, D. Pedro I, contratando astrônomos europeus de renome para aqui trabalhar. Tinha um quarto privativo no Observatório para descansar após horas de observação.
Instalou um observatório no telhado do Palácio Imperial de São Cristovão, hoje Museu Nacional, onde atendia alunos ministrando conhecimentos da ciência do céu. Mesmo sob forte oposição do Parlamento, concedeu verbas necessárias para três missões científicas para que os astrônomos pudessem observar a rara passagem do planeta Vênus pelo disco solar em 6/12/1882, fenômeno que iria se repetir somente em 8/6/2004. Os dados obtidos foram um sucesso permitindo calcular com precisão a distância Terra – Sol. Junto com o astrônomo Luiz Cruls, o imperador efetuou a primeira análise espectroscópica de um cometa e observou o eclipse solar de 1857. Mantinha contato com renomados astrônomos europeus dentre eles Camille Flammarion que o convidou para a inauguração do seu Observatório de Juvisy em 29/7/1887. Na ocasião D. Pedro II inaugurou a luneta de 24 cm, concedeu a Flammarion a ‘Ordem da Rosa’ e plantou uma árvore nos jardins do observatório que existe até hoje! Uma placa ao lado da árvore assinala o gesto do nosso imperador. Costumava dizer que se não fosse imperador gostaria de ser professor.  Acredita-se que tamanha devoção ao céu veio através do litógrafo e artista francês Louis Boulanger (1798-1874) e de Frei Pedro de Santa Mariana (1782-1864). D. Pedro II doou vários instrumentos seus ao Imperial Observatório e importou um círculo mural, uma pendula sideral, uma luneta meridiana e aparelhos magnéticos e meteorológicos. Mas faltava um telescópio de grande porte e ele foi encomendado na Inglaterra. Desgraçadamente o navio que transportava o instrumento chegou ao Rio justamente na ocasião da Proclamação da República e os republicanos não perderam tempo: mandaram o telescópio de volta! Em 1890, já no exílio, D. Pedro II foi homenageado com o nome do asteroide Brasília de número 293, descoberto no Observatório de Nice, França, pelo astrônomo A. Charlois (1864-1910). Sua devoção a astronomia certamente levou seu espírito muito além do asteróide, para junto das estrelas.



Nelson Travnik é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba, SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.