sábado, 17 de janeiro de 2015

RETORNO DAS ATIVIDADES




Hoje,dia 17/01/15, depois do recesso, o Observatório Astronômico de Piracicaba retoma as atividades.

Aproveitamos este período de recesso para manutenção de equipamentos, preparação de cursos e programação de eventos.
Atendimento:aos sábados das 19 às 22h (exceção em dias chuvosos).
Um ótimo 2015 a todos!

sábado, 3 de janeiro de 2015

ANO-NOVO: 2015 OU 2021?

Imagem: http://www.appsindicato.org.br/Include/Paginas/noticia.aspx?id=10892

                                Nelson  Travnik                   
 nelson-travnik@hotmail.com

Para a civilização cristã é mais um ano que passou. Em meio a festas,brindes  e  abraços,  em  algum momento  lhe  passou  pela  cabeça  queestamos comemorando o ano errado? Uma  pesquisa  histórica  nos  ensina   que  a  era  cristã  tem  inicio  no nascimento de Cristo cuja data verdadeira é desconhecida. A estimativa de datas em que se baseia o nosso calendário, foi feita durante a Idade Média por  um  monge  chamado  Dionisyus  Exiguus  e,  segundo  uma  série  de fontes, inclusive a Enciclopédia Católica, de fixar o ano 1 de nossa era em 753 A.U.C. (Ab Urba Condita), depois da fundação de Roma. Acontece que Dionisyus  utilizando  a  data  de  25  de  dezembro  do  ano  753 errou  nas contas por cerca de 4 anos e além disso não se deu conta de fixar o ano zero; ele apenas chamou o ano 752 de ano 1 antes de Cristo e o de 753 de ano 1 AD (Ano Domini ou Ano do Senhor).

A era cristã foi adotada pela Igreja em 532 por sugestão de Dionisyus que decidiu contar os anos a partir de 1º de janeiro em seguida ao nascimento de Cristo. Em 440 é que a Igreja decidiu que a data do nascimento de Cristo seria 25 de dezembro do calendário romano. Os cronologistas por sua  vez,  decidiram  retardar  sete  dias  o  inicio  da  era  cristã  para  que coincidisse com o inicio do ano 754 da fundação de Roma. Analisando fatos  históricos  ligados  a  Roma  e  Israel,  palco  dos  acontecimentos,  o cálculo  de  Dionisyus  carece  de  fundamento.  Isto  porque  se  Cristo houvesse nascido em 754 da fundação de Roma, Herodes já estaria morto há cinco anos  e os apóstolos Mateus e Lucas estariam mentindo. Sendo válido este  raciocínio,  estamos pois  brindando o ano de 2021 ou 2022 segundo o qual Cristo deve  ter nascido cerca de seis ou sete anos  que o registrado pelo calendário ocidental, considerando o erro maior cometido por Dionisyus.

Em seu livro “A Infância de Jesus”, editado em cinqüenta países, o papa Bento XVI diz que Maria deu à luz entre 7 e 6 a.C. o que vem corroborar o acima colocado.  Nosso calendário é Gregoriano que adveio do Juliano e este  por  sua  vez  dos  egípcios.  Ao  longo  dos  séculos,  as modificações introduzidas não teve  como corrigir as discrepâncias que ocorriam e a que para isto consultou o astrônomo napolitano Luigi Lilius (1510-1576) e depois  o matemático alemão Cristophorus Clavius (1537-1612). Mesmo com as  regras  estabelecidas  no calendário  gregoriano que utilizamos a partir de 1582, ele não é perfeito e apresenta  um excesso de 0,0003 dia sem relação ao ano trópico, ou seja, de 1,132 dias em quatro mil anos. Essa diferença pouco significa para a humanidade mas para a datação de fatos históricos, em astronomia, ciência espacial e cálculos  relativísticos, tal é inadmissível e para isso é que foram criados os relógios atômicos. São eles que controlam a diminuição da rotação do nosso planeta via marés e no fato  da  Lua  afastar-se  de  nós 3,5  a  4   centímetros  por  ano.  O  efeito acumulativo da diminuição da rotação da Terra cresce proporcionalmente não ao tempo, mas ao seu quadrado. Isso faz com que várias medições diárias com resolução de nanosegundo são realizadas contribuindo assim com o estabelecimento do Tempo Universal, UT.  Isso tem levado alguns organismos a pensar em um novo calendário,  mas por enquanto essas tentativas não vingaram e o calendário atual parece que vai permanecer por longo tempo.

Esses  cálculos  mostram  que  a  diminuição  da  rotação  da  Terra  se encarregará no futuro de se elaborar um novo calendário. Acredito que o calendário  deveria  ser  universal, segundo  cálculos astronômicos.  Como está  é  historicamente  arbitrário  e matematicamente errôneo. Quando brindamos um ano novo  significa que transcorreram 365 dias, 05 horas,48 minutos e 14 segundos. São essas voltas ao redor do Sol que ditam a nossa existência. Quanto anos  você tem? Ah, eu já dei tantas voltas  ao redor do Sol. Ninguém diz isso, mas poderia falar.

Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França. 

BRASILEIROS NA LUA?

Nelson Travnik

nelson-travnik@hotmail.com

Para o leigo, o título a primeira vista sugere que se trata de um astronauta brasileiro ir à Lua. No futuro isto irá acontecer mas por enquanto no espaço ficamos apenas com o Major Marcos C. Pontes que a bordo na nave russa Soyuz TMA-8, partiu em 30/03/2006 rumo a Estação Espacial Internacional, ISS, ali ficando até 8 de abril. Da ISS à Lua há um longo caminho... Mas não se trata de um astronauta ir a Lua mas sim, que em nosso satélite natural, grandes personalidades mundiais em diversas áreas do conhecimento, tem lá seus nomes perpetuados bem como nos planetas rochosos e alguns de seus satélites. Embora tenhamos no Brasil muitos nomes consagrados internacionalmente, até o presente há somente dois deles homenageados na Lua. O primeiro é Santos- Dumont, uma cratera com 8.7 km de diâmetro situada nas coordenadas selenográficas de 27.7° N e 4.8° E, na região dos Montes Apeninos, próxima por sinal ao local da alunissagem da Apollo 15. Ela foi batizada em 1976 na 16ª Reunião da União Astronômica Internacional, IAU, realizada na Austrália, por sugestão do astrônomo Luiz Muniz Barreto (1925-2006) então diretor do Observatório Nacional do Rio de Janeiro. Ele havia enviado cinco nomes de ilustres brasileiros para a IAU batizar crateras na Lua. Só conseguiu a de Santos-Dumont. A cratera está na face visível e é melhor observada com telescópios de porte médio no sétimo dia de lunação quando o terminador (círculo máximo que separa as regiões iluminadas das não iluminadas pelo Sol) coloca em evidência a formação. Há 18 anos, no dia 20/09/1996, ela foi por mim fotografada pela primeira vez no País no Observatório Astronômico de Piracicaba, SP, órgão da Secretaria Municipal de Educação através do refrator “Steinheil” 175/2625 mm com ampliação de 300 vezes. Antes disso, ela só existia desenhada ou fotografada em mapas lunares, mas sem denominação. Recentemente a cratera foi fotografada com grande definição pelo Observatório Lunar de Belo Horizonte, MG, por seu diretor Ricardo José Vaz Tolentino.



A outra cratera lunar com nome de um brasileiro é a De Moraes, alusiva ao astrônomo Abraão de Moraes (1916-1970), emérito diretor do Observatório Astronômico e Geofísico da USP. O nome foi aprovado pela IAU em 1979. A cratera de impacto com 3,5 km de profundidade e nas coordenadas selenográficas 49.38° N e 143° E, fica no lado oculto da Lua, portanto inacessível para nós. Com um diâmetro de 54.4 km possui ao lado duas crateras satélites batizadas de De Moraes S (diâmetro de 43.2 km) e De Moraes T (diâmetro de 46.8 km). O nome dessas crateras foram aprovadas pela IAU em 2006.


UMA  NOVA  CRATERA  BRASILEIRA?

É provável que mais um astrônomo brasileiro seja imortalizado no espaço. Trata-se de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (1935-2014) conhecido como o “Flammarion Brasileiro”. Ele faleceu em 25 de junho deste ano (2014) no Rio de Janeiro, sua cidade natal. No Brasil é até a presente data o maior divulgador da astronomia. Escreveu mais de 65 livros e centenas de artigos em revistas e jornais. Seus trabalhos de pesquisa e descobertas são conhecidos internacionalmente bem como o estímulo e atenção que sempre dispensava aos astrônomos amadores. Nada mais justo que seu nome tenha sido lembrado para que seja perpetuado em uma cratera lunar ou marciana consoante proposta apresentada por mim em 9 de novembro último na Assembléia Final do 17º Encontro Nacional de Astronomia, celebrado na cidade de Maceió, AL. A proposta aprovada por unanimidade ficou de ser encaminhada pela Comissão Organizadora do 17º Encontro, a Sociedade Astronômica Brasileira, SAB, e esta, julgando válida, a encaminhará a União Astronômica Internacional, IAU,  para apreciação e aprovação. Será mais um brasileiro no espaço, imortalizando assim sua memória da qual os astrônomos e amantes da ciência do céu muito lhe devem.

Nelson Travnik é astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba, SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.