quinta-feira, 15 de junho de 2017

OBSERVATÓRIO INICIA OBSERVAÇÕES DO PLANETA SATURNO


Com entrada gratuita, a partir deste sábado, o Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum, OAPES, órgão da Secretaria Municipal de Educação, SME, dá início à temporada de observações daquele que é conhecido como “a maravilha do sistema solar”, “a mais bela flor do jardim celeste” ou “o senhor dos anéis”.
Conhecido e reverenciado desde a remota antigüidade pelos babilônicos no século VII a. C., transformou-se em um dos deuses do panteão grego-romano como o ‘senhor do tempo’ representado por um velho empunhando uma foice. Na Roma Antiga realizavam-se as Saturnais, festa durante todo o mês de dezembro em honra a Saturno.



Quem já viu pôde conferir: por mais bonita que seja uma fotografia, nada substitui uma observação ao vivo através do telescópio. É uma experiência mágica que arranca exclamações e muitas vezes emociona. E são as crianças que mais se entusiasmam.
A observação detalhada do planeta requer instrumentos de porte médio e grandes. As efemérides astronômicas assinalam que em outubro irá ocorrer a inclinação máxima do sistema de anéis em relação à Terra ou seja, 26,9º, permitindo visualizar o hemisfério norte. A oportunidade, portanto, este ano é única! Em contrapartida, em março de 2025 irá acontecer o contrário: os anéis estarão sendo vistos de perfil, como se estivessem desaparecidos!

UM GIGANTE GASOSO
O segundo maior planeta do sistema solar é também o mais gasoso. Se a densidade da Terra em relação a água é de 5.56, a de Saturno é 0.67 (densidade da cortiça) donde se conclui que o planeta acha-se em estado ígneo-gasoso e com uma densidade tal que se colocado em um imenso
oceano ele boiaria! O gigante gasoso marca o limite dos planetas visível a olho nu, situado a uma distância média de 1.350.000.000 km. A essa distância a luz percorrendo 300.000 km/s, necessita 67 minutos a atingir nossa retina. É bom lembrar desse detalhe quando observar o planeta e recordar que um engenho espacial, a sonda espacial Cassini/Huygens
 ançada em 15/10/1997 somente chegou a Saturno em 1º/07/2004! Praticamente 7 anos! Após ter estudado o planeta por 13 anos, em 15 de setembro próximo deve ingressar na atmosfera do planeta encerrando uma missão coroada de êxitos.



SERVIÇO
Visto a olho nu a leste com uma tonalidade amarelada na constelação do Sagitário, ele poderá ser observado durante toda a noite e assim ficará visível por vários meses. A maior aproximação à Terra irá acontecer no próximo dia 15. Com entrada gratuita, o OAPES abre a visitação pública
todos os sábados das 18h30 ás 21h30. As observações de Saturno começam às 20h30, mas antes disso estará acontecendo observação do planeta Júpiter e objetos siderais notáveis como a “Caixa de Jóias” na constelação do Cruzeiro do Sul. Com amplo estacionamento, o OAPES está situado no km 3 da rodovia Fausto Santomauro, SP 127, que liga Piracicaba a Rio Claro.

Nelson Travnik, astrônomo diretor do OAPES e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

domingo, 4 de junho de 2017

Alô, tem alguém aí?



Nelson Travnik

Há 50 anos, vibrações estelares captadas por um radiotelescópio seriam obras de ETs. Muitos acreditaram ser um código para estabelecer contato com os terráqueos.

Em julho de 1967, a irlandesa Susan Jocelyn Bell Burnell (1943 - ) detectava acidentalmente com o radiotelescópio da Universidade de Cambridge, Inglaterra, um sinal muito regular – pulsos de radiação que se sucediam a uma freqüência de um por segundo . Em parceria com seu orientador, o radioastrônomo  inglês Antony Hewish (1924 - ) pensaram num primeiro instante tratar-se de um sinal emitido por uma forma de vida extraterrestre. Essa hipótese incendiou a mente de multidões : finalmente havíamos  recebido sinais dos nossos irmãos do espaço ! Os sinais foram atribuídos a “pequenos homens verdes” conhecidos pela sigla LGM (Little Green Men)  Uma outra hipótese entretanto, para explicar a regularidade precisa das emissões, era de que os sinais provinham de perturbações terrestres como o facho periódico de um farol que gira. Mas a regularidade dos pulsos demonstrou que se tratava de algo novo.

Não tardou muito para que Bell descobrisse que certos sinais pulsados de radio, chegavam com enorme precisão a cada 1,33728 segundos vindos da constelação de Vulpecula (Raposa). Outros sinais foram identificados por Hewish no centro da nebulosa do Caranguejo da constelação zodiacal do Touro. Identificado o objeto no coração da nebulosa, viu-se tratar de um novo tipo de estrela que recebeu o nome de pulsar, oriundo da contração de expressão inglesa “Pulsating Radio Sources” que equivale a ‘fonte de radio pulsante’. Coube a Thomas Gold (1920-2004) verificar que os pulsares eram estrelas de nêutrons em rotação. Identificados, eles emitem em todos os domínios dos comprimentos de onda das faixas de radio. A partir da descoberta, observações em outras faixas do espectro eletromagnético demonstrou que os pulsares podem ser observados não só em raios gama e raios X bem como em luz visível. Utilizando técnicas fotográficas ultra-rápidas, foi possível flagrar as pulsações do pulsar da nebulosa do Caranguejo. Desvendado o ‘mistério’ tornamos a ficar isolados no universo.   

O que são?

A existência de estrelas formadas basicamente de nêutrons, foi proposta em 1932 pelo físico russo Lev Davidovich Landau (1908-1968) pouco depois de se descobrir que essa partícula (juntamente com prótons e elétrons) formava o átomo. Esse modelo concebido pelo astrofísico Walter W. H. Baade (1893-1960) e pelo astrônomo suiço Fritz Zwicky (1898-1974), foi confirmado com a observação da supernova de Shelton SN 1987, em 1987, na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia satélite da nossa galáxia. Sua massa inicial estava compreendida entre 8 e 20 massas solares. Estrelas de nêutrons é, pois, a explosão final de uma estrela solitária de grande massa. Quando no momento da explosão, ela brilha com luminosidade de uma galáxia inteira! São objetos extremamente compactos e sua compacidade pode ser entendida pela densidade que é definida pela massa de um dado volume. A água por exemplo, tem densidade de um grama por centímetro cúbico. A densidade do ouro é 19 vezes maior. Qual seria a densidade em uma estrela de nêutrons ? Praticamente inimaginável. Elas tem densidade de 100 milhões de toneladas por centímetro cúbico (densidade do núcleo atômico) ! No espaço de uma colherzinha de chá por exemplo, seria algo de milhões de toneladas ! Com exceção dos buracos negros, é a maior compacidade conhecida. Isso pode ser entendido para uma estrela  centenas ou milhares de vezes maiores que o Sol e que, após a explosão, converte-se a uma esfera de 20 km de diâmetro. E como explicar a vertiginosa rotação da estrela? É o que em física é conhecido como conservação de momento angular. Vejamos : uma estrela comum tem velocidade de rotação de algumas dezenas de quilômetros por segundo. A rotação das estrelas de nêutrons é algo inimaginável – a cada pulso observado ela completa uma volta e essa volta se dá a centenas de pulsos por segundo ! A rotação mais rápida observada  emite 716 pulsos por segundo o que significa que ele gira mais de 700 vezes por segundo em torno do seu próprio eixo ! Mais  tarde os astrônomos constataram que a maioria das estrelas de nêutrons não são pulsares pois sua emissão de radio já terminou há muito tempo, pois sua vida média é de só 10 milhões de anos a não ser que seja uma binária (duas estrelas submetidas aos mesmos laços de gravitação). A estrela de nêutron, um pulsar, é pois a resultante de uma estrela massiva que ao explodir se transforma em uma bela e grandiosa nebulosa, contendo gases, poeira e outros elementos que irão contribuir para a formação de novas estrelas e com isto sistemas planetários similares ao nosso. Nascimento, vida, morte e renascimento. Eis a tônica que prevalece no Cosmo.

Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.