sábado, 29 de dezembro de 2018

FOGUETES ARTESANAIS

Imagem: Secretaria Municipal de Educação

O lançamento faz parte da programação de hoje do Observatório Astronômico

 

 O Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum (Oapes), órgão da Secretaria Municipal de Educação, estará aberto à visitação pública neste sábado, encerrando as atividades do ano, A visitação terá início às 17h30 com observações solares, demonstrações junto ao relógios de Sol e até lançamento de foguetes artesanais que constituem uma grande atração principalmente para as crianças. A partir das 20h terão início as observações aos telescópios com destaque para as belezas das comstelações de Órion e de Touro.

Segundo Nelson Travnik, responsável pelo Oapes, 2019 ae inicia com um Eclipse Total da Lua no dia 20-21 de janeiro, visível no Brasil com início as 23h36 e terminando as 4h48. A totalidade começa as 1h41 e o fim às 2h43, com duração de 62 minutos. No dia 2 de julho irá ocorrer um Eclipse Total do Sol com visibilidade apenas para Argentina e Chile. Em Piracicaba será visto apenas como parcial com 38% do disco solar encoberto pelo disco lunar. Enquanto nesse dia o Oapes ficará aberto para observação pública, um astrônomo deverá se deslocar para a cidade escolhida de La Serena, no Chile, para observações científicas. Interessante notar que em 14/12/2020 outro Eclipse Total do Sol também irá ocorrer na Argentina e no Chile. No dia 16 também de julho estará  ocorrendo um Eclipse Parcial da Lua com algumas partes visíveis no Brasil. No dia 11 de novembro teremos uma rara passagem do planeta Mercúrio na frente do disco Solar e que será visível no Brasil. O próximo depois só em 13/11/2032.

2019 - Um ano de evento

Em 20/12/2017, a ONU proclamou 2019  como o "Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos", em homenagem aos 150 anos da descoberta de um sistema periódico de elementos químicos por Dmitri Mendeleev.

No Brasil, o evento de maior expressão e que atrairá as atenções de todo o mundo, está reservado para o dia 29 de maio. Há 100 anos dessa data, na cidade de Sobral - CE, num Eclipse Total do Sol, com visibilidade plena, foi comprovado a distorção do espaço-tempo na presença de um forte campo gravitacional, pela Teoria da Relatividade Geral do alemão Albert Einsten (1879-1955). Mais tarde em visita ao Brasil ele diria: "O problema concebido pelo meu cérebro, incumbiu-se para resolvê-lo o luminoso céu do Brasil". Celebrando o ano dessa importante efeméride, o 22º Encontro Nacional de Astronomia (Enast) será realizado em Sobral, do dia 4 a 18 de novembro.


Saiba mais

Estão programados três cursos  de astronomia, que serão abertos a população com idade mínima  de 14 anos. As inscrições podem ser feitas até o dia 5 de fevereiro. Também estão programadas palestras de astrônomos convidados. As datas ainda não foram divulgadas.   

Fonte: Gazeta de Piracicaba, 29/12/2018 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

ESPAÇO, TEMPO, VIDA: Ano que foi, ano que vem

 
Imagem: wikipedia

Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
Pelo Calendário Gregoriano que adotamos, estamos adentrando em 2019 muito embora uma pesquisa histórica, indique que, na realidade, iremos ingressar o ano novo de 2025 ou 2026. Mais recentemente, abordando o assunto, no seu livro “A Infância de Jesus”, o papa Bento XVI diz que Maria deu a luz entre 7 e 6 a.C. Seja um ou outro, o fato é que neste 1º de janeiro iniciamos mais uma jornada ao redor do Sol. Nesses 365 dias, nosso planeta irá percorrer 942,4 milhões de quilômetros algo que, em linha reta, nos levaria além do planeta Júpiter. Isso permite algumas reflexões sobre espaço, tempo e vida.
No mundo atual, como estranhos em seu próprio habitat, multidões não se interessam em saber afinal o que são, onde estão, para onde vão e seu destino final. A maioria vive porque respiram e se contentam com o preconizado pelas religiões, sem questionar o que lhe é imposto pelos livros sagrados. Advindo qualquer infortúnio, é a vontade de Deus. É mais cômodo viver assim. Infelizmente não se dão conta que estão entorpecidos pelo sistema que as transforma em máquinas de consumismo como símbolo da felicidade. Um sistema inserido na sociedade que as utiliza e descarta como objetos. Seu dia-a-dia é preenchido pela chupeta eletrônica e por infindáveis conquistas tecnológicas que todavia a prende a um emaranhado de dúvidas sobre sua própria existência. O ser humano tão complexo é desconhecido por ele próprio, vive a Era Espacial de grandes realizações científicas mas ainda não aprendeu a encontrar a grandeza de sua pequenez e da sua estupidez.
Continuamos a ser um enigma, uma gota num oceano de incertezas que por um instante aparece e dissipa como bolhas de sabão que as crianças fazem flutuar no ar. Poucos são cônscios de que a sabedoria do ser humano não está no quanto ele sabe, mas no quanto ele tem consciência de que não sabe. É preciso portanto ter humildade para compreender o mundo insondável da psique humana; que somos ínfima partícula na vastidão cósmica e que o universo estará ignorando quando o Sol, nosso habitat e os demais planetas um dia desaparecer sem testemunha do último gemido. Pura ilusão é pois achar que somos o ápice da civilização. Os egípcios, os romanos, só para ficar nesses dois exemplos, cultuavam o mesmo pensamento. O que sobrou dessas civilizações? Ruínas, pedras e pó. No universo, nascimento e morte estão sempre de mãos dadas. Quando nascemos estamos programados para morrer. Tudo que é belo um dia morre. Não sentimos o perfume das flores que já morreram.
Somos apenas uma espécie transitória, viajantes em uma jornada cósmica, dentro de uma cápsula do tempo, girando e dançando nos torvelinhos e redemoinhos de um universo infinito. O céu nos envolve por todos os lados e a luz de miríades de estrelas que contemplamos, é um monumental concerto cósmico que aconteceu há dezenas, milhares ou milhões de anos. A observação do céu é, por conseguinte, uma experiência de transformação e ampliação da consciência, uma grande elevação espiritual que proporciona uma imensa satisfação íntima e nos ensina que na história da Criação, cem milhões de anos passam como um dia; apagam-se e dissipam-se como fugitivo sonho no seio da eternidade que todo absorve. Mais do que uma mera propriedade lógica de certos enunciados, o conhecimento do cosmos é um poema da vida, um poder espiritual que aprofunda e transforma a visão de nós mesmos. Através da lei universal de ação e reação, causa e efeito, há o equilíbrio do Universo.
Nesse raciocínio e contemplação retrospectiva, surge uma inevitável questão de cunho filosófico : qual é o destino final de todos os seres inteligentes que existiram, existem e vão existir nesse planeta? Somos apenas um cérebro sofisticado que tomba numa sepultura para não ser mais nada? Apenas feitos do pó das estrelas ? Nada sobrevive além disso ? Tema de uma milenar discussão, não cabe nesse artigo enveredar por essa questão pois somos engrenagens microscópicas de um mecanismo desconhecido.
Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

domingo, 2 de dezembro de 2018

A BANDEIRA DA REPÚBLICA

ASTRÔNOMOS NÃO FORAM CONSULTADOS
Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
A Bandeira do Brasil é uma das mais belas e sugestivas do mundo e também a única que representa grande parte do firmamento que envolve a Terra. Contudo contém erros grosseiros de astronomia.
Há exatos 129 anos, com a deposição de D. Pedro II, era proclamada a República Federativa do Brasil, então nação considerada de 1º mundo com uma forte economia. Naturalmente a Bandeira do Império introduzida em 1822, teria que ser substituída por outra. A nova Bandeira foi estabelecida pelo Decreto nº 4 de 19/11/1889, mantendo a tradição das antigas cores nacionais e inserindo um céu de puríssimo azul. É a mais bela e completa ilustração já imaginada para uma bandeira nacional, única no mundo que corresponde a uma visão da esfera celeste, inclinada segundo a latitude do Rio de Janeiro, local da Proclamação, às 08h30 do dia 15/11/1889. 






CÉU ÀS AVESSAS

Uma consulta a uma simples carta do céu, mostra que o céu da Bandeira está às avessas. A posição das estrelas não coincide em suas posições e magnitudes aparentes. O erro mais grosseiro é a posição do Cruzeiro do Sul. A posição da estrela épsilon conhecida como ‘intrometida’ e que representa o Estado do Espírito Santo está invertida bem como a constelação do Escorpião. A reação não se fez esperar e na época Eurico de Góis declarou que os que trabalharam na elaboração da Bandeira não interpretaram convenientemente o Decreto nº 4 que exigia que as estrelas fossem dispostas na sua situação astronômica quanto a posição, distância e tamanho relativo. Os legisladores procuraram na ocasião apresentar uma justificativa para amenizar e convencer os leigos que aquele céu visto às 08h30 do dia 15 de novembro estaria refletido na Baia da Guanabara, portanto em pleno dia! Outros argumentaram que era o céu visto fora da Terra sobre o Brasil. A questão foi debatida nos jornais, na tribuna do congresso e até o povo foi instado a opinar. Mas logo tudo ficou esquecido. Mais tarde, a Lei nº 5443 de 28/05/1968 surgiu para justificar o erro, mas nada foi feito. Não só o céu, mas também há erros quanto a faixa com os dizeres ‘Ordem e Progresso’ que alguns afirmam ser o Equador Celeste e outros a Eclíptica (faixa zodiacal onde se deslocam o Sol, os planetas e asteróides do cinturão). Do jeito que está não pode ser nem uma nem outra. Todos os erros astronômicos constam de dois livros: “A Bandeira Nacional” de Eduardo Prado publicado em 1903 e depois pelo IBGE e “A Bandeira Nacional” de Rubens de Azevedo publicado em 1988 pela Edições Tukano – Artes & Literatura.

O QUE FAZER?

O projeto poderia ser realizado corretamente com a tarefa a cargo dos astrônomos do Observatório Nacional que estavam ali pertinho, no bairro de São Cristovão. Porque isto não foi feito? Talvez por puro revanchismo. Os republicanos sabiam que o Imperador era astrônomo amador, amava astronomia, tinha um pequeno observatório no telhado do Palácio Imperial de São Cristovão, hoje Museu Nacional, onde recebia as crianças para palestras e observações, bem como um apartamento no então Imperial Observatório para descansar após horas de observação. Além de custear expedições científicas, adquiriu instrumentos, modernizou o Observatório e contratou astrônomos europeus de renome para aqui trabalhar. Convidado pelo renomado astrônomo francês Camille Flammarion, em 29/07/1877 compareceu para a inauguração do seu Observatório de Juvisy. Na ocasião inaugurou a luneta de 24 cm, plantou nos jardins do Observatório um cedro do Líbano (que existe até hoje!) e concedeu a Flammarion a comenda da “Ordem da Rosa”. Era Membro Titular da Sociedade Astronômica da França e mais tarde foi imortalizado no asteroide ‘Brasília’ descoberto por A. Charlois (1864-1910) no Observatório de Nice, França. Quanto a Bandeira, no inicio o projeto poderia ser alterado e várias consultas foram feitas posteriormente aos astrônomos do Observatório Nacional para uma correção, mas tudo ficou como o estabelecido no Decreto nº 4 de 19/11/1889. A mudança seria simples, poucas pessoas notariam a diferença e o mais importante: mostraria o céu de acordo com o que vemos. Tal pode ser conferido no dia 20 de maio às 20h00 pois a situação se repete com o Cruzeiro do Sul alto no céu no meridiano do Rio de Janeiro. Mas após décadas fica difícil proceder modificações agora que todos estão solidários com a Bandeira. O mais sensato é, portanto, deixá-la como está e considerar então que tudo é simbólico e as estrelas nas constelações estão como se fossem atiradas ao acaso. “Cientes de que nada perfeito, orgulhamo-nos de que a nossa Bandeira contenha lineamentos fundamentais da cultura humana, segmentos de nossa história e projetos permanentes de realizações futuras. A Bandeira aí está mais gloriosa que nunca” (Raimundo O. Coimbra).




Nelson Travnik é astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.