quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

CALENDÁRIO - ANO NOVO: 2016 OU 2022 ?

Google Imagens

Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
O ano de 2015 chegou ao fim porque aqui no Ocidente o tempo é baseado no calendário solar que é medido pelo tempo gasto pela Terra para completar uma volta ao redor do Sol. Enquanto a maioria das pessoas acredita estar em 2016, historiadores e astrônomos contestam e esclarecem a disparidade existente no calendário e na ordem das datas estabelecidas. Esses detalhes e acontecimentos embora não venham possuir importância no âmbito pessoal, para a história e a ciência são relevantes.

Uma pesquisa histórica nos ensina que a era cristã tem inicio no nascimento de Cristo cuja data verdadeira é desconhecida. A estimativa de datas em que se baseia nosso calendário, foi feita durante a Idade Média por um monge chamado Dionisyus Exiguus, O Pequeno, que vivia em Roma no ano 525 e, segundo uma serie de fontes, inclusive a Enciclopédia Católica, de fixar o ano 1 de nossa era em 753 A.U.C. (Ab Urba Condita), depois da fundação de Roma (a história de Roma abrange um período de 1229 anos, de 753 a.C. a 476 d.C. ) . Acontece que Dionisyus utilizando a data de 25 de dezembro do ano 753 errou nas contas por cerca de 4 anos e além disso não se deu conta de fixar o ano zero; ele apenas chamou o ano de 752 de ano 1 antes de Cristo e o de 753 de ano 1 AD (Ano Domini ou  Ano do Senhor). Para alguns estudiosos, acontecimentos ligados ao nascimento de Cristo tiveram lugar em 754.

A era Cristã foi adotada pela Igreja em 532 por sugestão de Dionisyus que decidiu contar os anos a partir de 1º de janeiro em seguida ao nascimento de Cristo. Nessa época a idéia do zero era desconhecida. Em 440 é que a Igreja decidiu que a data do nascimento de Cristo seria 25 de dezembro do calendário romano. Os cronologistas por sua vez, decidiram retardar sete dias o inicio da era Cristã para que coincidisse com o inicio do ano 754 da fundação de Roma. Analisando fatos históricos ligados a Roma e Israel, palco dos acontecimentos, o cálculo de Dionisyus carece de fundamento. Isso porque se Cristo houvesse nascido em 754 da fundação de Roma, Herodes já estaria morto há cinco anos e os apóstolos Mateus e Lucas estariam mentindo. Sendo válido este raciocínio , estamos pois brindando o ano de 2022 ou 2023 segundo o qual Cristo deve ter nascido cerca de seis ou sete anos que o registrado no calendário ocidental, considerando o erro maior cometido por Dionisyus.

Em seu livro “A Infância de Jesus”, o papa Bento XVI diz que Maria deu à luz entre 7 e 6 a.C. o que vem corroborar o acima colocado. Nosso calendário é Gregoriano que adveio do Juliano e este por sua vez dos egípcios. Ao longo dos séculos, as modificações introduzidas não teve como corrigir as discrepâncias que ocorriam e a solução foi a introdução de um novo calendário em 24/02/1582 pelo papa Gregório XIII através da bula “Intergravissimas” . Para isto ele consultou o astrônomo napolitano Luigi Lilius (1510-1576) e depois o jesuíta,matemático e astrônomo alemão Cristophorus Clavius (1537-1612). Para ajustar a diferença existente, foram necessários diminuir 11 dias ao ano 1582. A quinta-feira 04 de outubro passou para a sexta-feira dia 15.   Mesmo com as regras estabelecidas no calendário gregoriano que utilizamos a partir de 1582, ele não é perfeito e apresenta um excesso de 0,0003 dias em relação ao ano trópico, ou seja, de 1,132 dias em quatro mil anos. Traduzindo em segundos para melhor compreensão, o ano gregoriano que utilizamos tem 31.556.952 s e a exata translação da Terra ao redor do Sol é de 31.556.925 s. Daí sobrevém o excesso acima colocado. Por isso, não vale a pena encetar uma reforma no calendário para introduzir a fração de segundo, pois a atual diminuição da rotação da Terra já dará conta disso.

Entretanto se essa ínfima diferença pouco significa para a humanidade,  para a datação de fatos históricos, em astronomia, ciência espacial e cálculos relativísticos, tal é inadmissível e para isso é que foram criados os relógios atômicos. São eles que controlam a diminuição da rotação do nosso planeta via marés e no fato da Lua afastar-se de nós 3,5 a 4 centímetros por ano. O efeito acumulativo da diminuição da rotação da Terra cresce proporcionalmente não ao tempo mas ao seu quadrado. Pesquisas indicam que há 900 milhões de anos o dia durava apenas 18 horas e o ano tinha 480 dias. Isso faz com que várias medições diárias são realizadas com resolução de nanosegundo.

O calendário é pois um conjunto de regras baseadas na astronomia e através dela é que qualquer iniciativa terá que se apoiar.  O calendário deveria ser universal, segundo cálculos astronômicos pois como está é historicamente arbitrário e matematicamente errôneo.


Nelson Travnik, é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França. 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Sinais no céu MAGOS NÃO FORAM ATRÁS DE UMA ESTRELA

                                                                                                Nelson Travnik
                                                                                                                nelson-travnik@hotmail.com



Todos os anos não há quem fique indiferente diante da beleza do presépio iluminado por uma estrela ou um cometa. O Natal é sempre um momento mágico para a cristandade. No presépio são vistos três Magos vindos do Oriente. De passagem por Jerusalém teriam perguntado: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos homenageá-lo”. Assim começa o capítulo dois do Evangelho segundo Mateus. Era essa a informação que os Magos, sacerdotes do zoroatrismo, religião devida a Zoroastro que viveu no século VII a.C. e cuja bíblia é o Zend Avesta, possuíam. Um evento celeste indicava o nascimento de um líder daquele povo, cujos ancestrais viveram na Babilônia e lá deixaram marcas importantes do seu monoteísmo antes de voltarem para Canaã e codificarem suas leis. A partir deste relato, muitas teorias têm sido propostas para identificar a real natureza daquele evento cósmico. Para que um astro pudesse impressionar as pessoas só poderiam ser um cometa brilhante, uma estrela nova ou supernova, um alinhamento planetário, raras conjunções muito próximas entre planetas e estrelas e mesmo a tese que nenhum fenômeno celeste tenha de fato acontecido. Pesquisas modernas através de computadores de última geração aliados a representação do céu daquela época no Planetário, apontam para uma raríssima conjunção tríplice entre Júpiter e Saturno na constelação de Peixes. Essas conjunções ocorrem quando ambos estão em oposição ao Sol e devido ao movimento combinado, faz com que Júpiter cruze com Saturno três vezes. Utilizando o método computacional, a conjunção foi vista em 1940, 1980 e irá ocorrer novamente em 2238 e 2279. Tendo em vista que o fenômeno ocorreu em 29 de maio, 1º de outubro e 4 de dezembro do ano 7 a.C. na constelação de Peixes, é importante lembrar que esta constelação simbolizava tradicionalmente o cristianismo, dois peixes, um em cima do outro em sentido opostos. Cálculos mostram outrossim que a mudança equinocial de Áries (Carneiro) para Peixes ocorreu no ano 54 a.C. Essa conjunção tríplice foi excepcional, comprovada pelos computadores da NASA, dotados de um software especialmente criado para perscrutar como as estrelas e planetas se comportaram àquela época longínqua. A pesquisa mostrou os dois planetas muito próximos um ao outro, provavelmente menos de 0,5 graus e que, somados os brilhos, naturalmente chamou a atenção dos Magos. Não somente a constelação de Peixes e o brilho dos planetas, acrescente-se o significado de Júpiter, poder e Saturno, realeza. Como sabemos, a estirpe de Jesus era da casa de Davi. Não existe nos evangelhos uma data precisa para o nascimento de Jesus. A única referência sobre a “estrela de Belém” é do evangelho de Mateus escrito em aramaico e que não chegou até nós, pois se extraviou no ano 70 d. C. O certo é que na região em que Jesus nasceu o frio é intenso em dezembro, janeiro e fevereiro e, por conseguinte, imprópria para que os pastores permanecessem no campo com seus rebanhos. A data de 4 de dezembro deve ser, portanto, descartada e com isto a data de 1º de outubro ou próxima dela merece ser considerada. Como sabemos, impossibilitada de precisar a data, a Igreja para se impor aos adeptos do mitraismo, culto pagão a Mitras, o deus de luz dos persas e que era a mais popular festa romana pagã, colocou o Natal em 25 de dezembro substituindo assim as Saturnais comemorando o “Natalis Solis Invicti” – Nascimento do invencível deus Sol – por uma grande festa cristã. Alguns estudiosos acreditam que o nascimento ocorreu no dia 12 de novembro quando a constelação de Peixes estava sob o horizonte sudeste de Belém com Júpiter e Saturno em magnífica conjunção. A história nos diz que o reinado de Herodes, o Grande, na Judéia, estendeu-se entre os anos 37 a.C. até 4 a.C. como da sua morte em abril/maio. Isto coloca a conjunção tríplice nos últimos anos do seu reinado. Trata-se, pois, de um fenômeno celeste notável, de grande significado astronômico e místico para os Magos e que bem poderia representar uma peregrinação de Leste para Oeste. E que não eram reis e sim sacerdotes do zoroatrismo, sábios observadores do céu e muito conceituados entre os medas e persas. Foi um escritor inglês chamado Beda que em 673 os batizou de Gaspar, Melchior e Baltazar. A tradição da Igreja considera três por terem sido três os presentes dados ao recém-nascido: incenso, ouro e mirra, uma resina aromática. Note-se que as igrejas síria e armênia falam em doze. Sejam estas ou outras hipóteses, é praticamente impossível determinar com precisão a data de um fato ocorrido há mais de dois milênios. Seria um transtorno geral, ou mesmo universal, se tivéssemos de comemorar o Natal não em dezembro, mas em outra época conforme as pesquisas feitas. O importante é que um fenômeno astronômico extraordinário marcou indelevelmente a maior data da cristandade, tão relevante que dividiu a história em antes e depois de Cristo.


Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

FINADOS - MOMENTOS DE REFLEXÃO E PRESENÇA DA ASTRONOMIA

Nelson  Travnik
nelson-travnik@hotmail.com


No próximo dia 2, é o momento de reverenciarmos nossos familiares e amigos que partiram para um outro plano. Saudades, lembranças, preces e instantes de reflexão. A palavra cemitério vem do grego ‘koimeterion’ e significa ‘lugar onde dormir’. Em meio a jazigos ricamente construídos, deparamos com alguns extremamente simples contendo belíssimas frases e mensagens afetivas expressando o sentimento dos familiares. “Fui quem tu és, serás como eu sou” é a frase que está no portal de um cemitério em Minas e que nos leva a refletir sobre a efemeridade da vida. Ver que somente a moralidade de nossas ações perpetua e confere beleza e dignidade a nossa existência.


OS  MARCADORES  DO  TEMPO

O tempo determina inexoravelmente a duração da nossa existência e o mais antigo instrumento concebido pelo homem para medir isto é o relógio do Sol. A partir de uma simples estaca no chão, os relógios do Sol evoluíram em formas e tamanhos objetivando determinar a hora e com isto as estações do ano e o calendário com a maior precisão possível. De extraordinário valor pedagógico , histórico, cultural e turístico, eles se encontram nas mais variadas formas em praças, escolas, paredes de prédios, igrejas, conventos, mosteiros, fazendas antigas e estações de trem. No Brasil o mais antigo fica na parede da igreja de São Francisco Xavier em Niterói, fundada pelo padre José de Anchieta em 1572. Outro antigo e bonito exemplar encontra-se em Tiradentes, MG, instalado em 1712 em frente a igreja de Santo Antonio. No País já foram catalogados mais de 200 desses aparelhos. Esse levantamento foi realizado pelo Clube de Astronomia do Rio de Janeiro, CARJ. O existente na Praça Nossa Senhora da Conceição em Franca, SP, construído pelo frei Germano d’ Annecy em 1886, é considerado o mais bonito. De várias faces, foi construído com mármore de carrara.


RELÓGIOS  DO  SOL  EM  CEMITÉRIOS ?

Por mais estranho que possa parecer, existem no Brasil dois relógios do Sol em cemitério. E todos eles em Minas Gerais. O primeiro se encontra em Belo Horizonte, no Cemitério do Bonfim. Foi construído pelo escultor Eustáquio Pinto a pedido do pai do falecido senhor Fenelon Ribeiro que foi associado nº 201 do Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais, CEAMIG. Não há data de sua construção mas é certo que foi entre os anos de 1980 e 1990. A informação é do astrônomo e membro do CEAMIG, Antonio Campos. O segundo por mim construído em 2006, encontra-se instalado no Cemitério Municipal de Matias Barbosa, MG, no túmulo perpétuo da família Travnik. É do tipo vertical em mármore branco  contendo um Sol radiante. As pessoas que visitam o túmulo constatam que ele marca a hora certa. Pequena diferença fica por conta da chamada ‘equação do tempo’ pois ele marca a hora solar verdadeira.  A fotografia abaixo mostra detalhes do relógio.






Nelson Travnik é astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba, SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França. 






ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU


nelson-travnik@hotmail.com


Em Piracicaba/SP, o Observatório Astronômico introduz atividades que estão motivando estudantes a conhecer melhor o planeta em que vivem e as coisas do céu e espaço.

O sucesso do programa “Educação com Descontração” se faz sentir no agendamento das visitas escolares: elas duplicaram esse ano.

O atendimento de forma dinâmica e descontraída, realizado pelo Observatório vinculado à Secretaria Municipal de Educação, é gratuito e estimula crianças e jovens a se interessar pelo estudo de ciências e em particular pela astronomia e astronáutica. A partir dos anos 90, a “chupeta eletrônica” que domina a atual geração, tornou necessária a elaboração de novos projetos educacionais para ir de encontro ao despertar cedo para a pesquisa e investigação. Os modernos meios de comunicação fazem que os jovens muitas vezes estão envoltos em conhecimentos e questões que vão muito além da sala de aula. O mundo passa por mudanças cada vez mais aceleradas e isto faz com que o professor, outrora dono do saber, sinta-se muitas vezes constrangido face as frequentes perguntas que lhe são formuladas. Para amenizar este desconforto e preencher o currículo cada vez mais ‘recheado’ por noções de astronomia e astronáutica, o Observatório realiza anualmente o curso “Metodologia no Ensino da Astronomia e Astronáutica” dirigido aos professores da cidade e região. É uma poderosa ferramenta para capacitar os docentes nessas áreas.  Por outro lado, observa-se nas atividades extraclasse, que a visita a um órgão vinculado a ciência e cultura, tornou observatórios e planetários como um dos alvos preferidos pelas escolas. Isso está comprovado pelos trabalhos apresentados nas Feiras de Ciências.


PENSAR , AGIR , CRIAR  E  INOVAR

Em primeiro lugar nosso planeta, a seguir o Sol e os astros do universo. Tudo é feito com instrumental pedagógico moderno para plena compreensão dos alunos. A questão da elaboração do calendário, do mecanismo das estações do ano, do movimento anual do Sol na esfera celeste, a orientação com a influência da declinação magnética, tudo é explicado através de uma visita aos cinco modelos de relógios do Sol existentes. Dois deles chamam a atenção: um único no País que dispara um canhão quando o Sol atinge o meridiano local e outro que é uma réplica em tamanho grande de um relógio do Sol portátil usado na Idade Média e que se encontra em exposição no Observatório. Também é motivo de inusitado interesse o contato com três exemplares de meteoritos encontrados na Líbia, Patagônia e no Brasil. O mais famoso deles é um pedaço do Bendegó, o maior do País com 5.400 kg encontrado na Bahia e que se encontra em exposição no Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Aguardando o disparo do canhão solar



OBSERVANDO  O  ASTRO-REI

Pela sua importância crítica para a humanidade como fonte de luz, calor e vida, outra atividade que desperta inusitado interesse é a observação do Sol realizada de três formas distintas: pelo método direto visual ao telescópio com filtro especial, por projeção e com um instrumento que permite a observação com um filtro centrado na raia do Hidrogênio Alpha, possibilitando observar  protuberâncias fruto de gigantescas explosões,  que podem estar ocorrendo. Tudo ao vivo e com experiências envolvendo a decomposição da luz através de um prisma. Essa atividade está sendo enfatizada devido a celebração do “Ano Internacional da Luz”, promulgado pela ONU-UNESCO.

Sol sem mistérios: observando as protuberâncias solares

RUMO  AO  ESPAÇO
Relembrando  Konstantin Tsiolkovsky (1857-1935), “a Terra é o berço do homem, mas não se pode viver eternamente no berço” o atendimento escolar se encerra com uma palestra onde, ao final, é enfatizado a exploração espacial com a trajetória dos foguetes desde sua origem na China no século XI juntamente com a pólvora, aos dias atuais. A aula a seguir vai para a ampla área externa do Observatório onde é preparado o lançamento de um foguete artesanal segundo projeto da Agência Espacial Brasileira, AEB. Em meio a grande expectativa é iniciada a contagem e feito o disparo do foguete que chega a atingir mais de 100 metros de distância.  Irrompem ruidosas manifestações e aplausos lembrando aquelas vistas nos lançamentos espaciais. Um dos objetivos visados pelo Observatório é incentivar as escolas a participarem da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, OBAA, realizada anualmente e que este ano reuniu mais de um milhão de participantes. É inegável que os grandes feitos espaciais e as descobertas da astronomia contagiam e motivam as pessoas a conhecer melhor o universo. Proliferam clubes estudantis de astronomia no Brasil e em todo mundo. Nas Feiras de Ciências o tema é sempre destaque. Neste cenário, as atividades educacionais do Observatório levaram-no a ser considerado atualmente uma referência no Estado de São Paulo.


SERVIÇO

O Observatório Astronômico de Piracicaba está localizado no km 3 da rodovia Fausto Santomauro que liga Piracicaba a Rio Claro. O agendamento das visitas escolares bem como inscrições para o curso “Metodologia no Ensino da Astronomia e Astronáutica” se faz através do telef. 19-3413-0990. Endereço para correspondência: Secretaria Municipal de Educação – Observatório Astronômico de Piracicaba, Rua Cristiano Cleopath 1902, B. dos Alemães, Piracicaba/SP, 13419-310. Informações e notícias: http://observatoriopiracicaba.blogspot.com.br

Nelson Travnik, é astrônomo, responsável pelo Observatório Astronômico de Piracicaba e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.


sábado, 3 de outubro de 2015

ECLIPSE DA SUPER LUA FRUSTA PIRACICABANOS



Não somente em Piracicaba mas em toda a região as más condições atmosféricas impediram que a fase mais importante do eclipse total da Lua de 23h11 do domingo ás 00h23 de segunda-feira não pudesse ser visualizada. Contudo antes disso a partir das 22h07, em várias ocasiões houve espaços entre as nuvens e o eclipse parcial foi bem observado.

O Observatório Astronômico de Piracicaba, órgão da Secretaria Municipal de Educação, esteve recebendo visitantes já a partir das 18h00 e registrou ao final um público recorde de aprox. 1100  pessoas. Afora aqueles levados por vários visitantes, vários telescópios foram disponibilizados  o que proporcionou a quase ausência de grandes filas junto aos instrumentos. O ponto alto foi a emoção e vibração principalmente dos jovens que estavam vendo o fenômeno pela primeira vez. Receberam informações que aquela sombra arredondada vista na Lua era uma das provas que nosso planeta é uma esfera.

O Observatório aproveitou o evento para a inauguração de mais um instrumento, uma luneta alemã da renomada firma Carl Zeiss de 110 mm de abertura.

Outro evento foi também a inauguração oficial do grupo “Amigos do Observatório Astronômico de Piracicaba” que doravante estará reunindo interessados da cidade e região para estudos e observações com o objetivo de desenvolver trabalhos científicos em diferentes áreas da astronomia. Para tanto o Grupo já conta com alguns telescópios contando com o espaço físico do Observatório.


A característica do eclipse da Super Lua que somente se repetirá em 2033, frustrou a sua não observação mas nem por isso é desanimador pois teremos outro belo eclipse total lunar em 31 de janeiro de 2018. Mas neste ano a atração principal não será o eclipse e sim a grande aproximação do planeta Marte em setembro após a última que aconteceu em 2003 e que levou na noite da máxima aproximação,  mais de 2 mil pessoas ao Observatório.

SECRETARIA  MUNICIPAL  DE  EDUCAÇÃO
OBSERVATÓRIO  ASTRONÔMICO  DE  PIRACICABA
Informação  a  imprensa  -  28 de setembro de 2015


sábado, 26 de setembro de 2015

27/09/2015 PIRACICABA VERÁ ECLIPSE DA SUPER LUA

OBS: PROGRAMAÇÃO PODERÁ SER ALTERADA EM VIRTUDE DO TEMPO


Este será um eclipse com a Super Lua, algo que ocorreu somente cinco vezes no último século e que só se repetirá em 2033. A Super Lua significa que nosso satélite se encontra no perigeu, menor distância à Terra ou, 356.876 km. Quando isso acontece, a Lua se apresenta 14% maior e 30% mais brilhante. Fenômeno terá duração de mais de três horas. Observatório Astronômico montou programação especial a partir das 19h30.


OBSERVAÇÃO
O eclipse poderá ser observado de qualquer ponto da cidade favorecido pela posição alta da Lua no céu, a olho nu e sem necessidade de qualquer proteção. Contudo para uma melhor visão as pessoas devem procurar locais afastados da iluminação urbana. O uso de um binóculo irá realçar a visão da sombra da Terra invadindo as formações lunares a velocidade de 1 km/s. Como a temperatura na superfície lunar nessas ocasiões cai drasticamente de mais a menos 100° C, podem surgir fenômenos luminescentes em algumas áreas mesmo imersas na sombra. Nessas ocasiões podem acontecer também a ocorrência de algum fenômeno transitório conhecido pela sigla TLP. Quando ocorre a totalidade, a Lua não fica invisível pois parte da luz solar é desviada pela atmosfera terrestre e atinge nosso satélite.


LUA   COLORIDA
A coloração assumida pela Lua durante a fase da totalidade, é algo que sempre atrai atenção. É nessa ocasião que os raios solares ao atravessar nossa atmosfera, as envia ao espaço e atingindo nosso satélite assumem uma coloração que vai do vermelho ao laranja e ao amarelo. Ela varia de eclipse para eclipse e, curioso, permite avaliar o grau de poluição da nossa atmosfera. A cor avermelhada ou fortemente alaranjada denota que é grande a quantidade de poeira e gases expelida por queimadas e erupções vulcânicas na atmosfera. Uma tonalidade acinzentada indica que nossa atmosfera está saudável. Como os raios solares passam através da atmosfera se dobram para dentro devido a um fenômeno físico que se denomina refração.


A   MARCHA   DO   ECLIPSE 


Tecnicamente o eclipse começa ás 21h11 e termina ás 02h22 com a fase penumbral onde as pessoas não notam qualquer mudança significativa no brilho da Lua. O grande espetáculo vai ter inicio ás 22h07 quando a sombra terrestre denominada umbra, atingir a superfície lunar. A totalidade, ponto alto do eclipse, começará ás 23h11, o meio do eclipse será ás 23h47 e o fim ás 00h23 já na segunda-feira. Irá durar precisos 01h12. A saída da sombra se dará ás 01h27.


O QUE FAZ UM ECLIPSE LUNAR SER ALGO QUE DESPERTA TANTA ATENÇÃO?
Talvez pelo fato de serem mais comuns, observados em grandes extensões do planeta e isentos de cuidados e preparativos especiais que ocorrem nos eclipses solares. É um evento que oferece excelente oportunidade de ordem educacional onde os alunos aprendem a conhecer inúmeros aspectos do nosso satélite e seus movimentos. O fenômeno oferece outrossim meios para os professores de ciências, física, matemática, biologia, geografia, história e até sociologia efetuarem um trabalho interdisciplinar uma vez que é algo divulgado intensamente nos meios de comunicação. Não só o eclipse, mas a Lua sempre exerceu forte fascínio sobre a humanidade. Muitas lendas, romances, versos, canções, crenças, misticismos, esoterismo, a Lua aquece o sonho dos namorados como é inspiradora da crença em lobisomem, bruxarias e manifestações de loucos. A isso acrescente a “Lua de São Jorge”, “Lua Soberana”, “Lua de Alegria” e “Nobre Porcelana”. A Lua indubitavelmente exerce magia nas pessoas de todas as classes sociais.


NO   OBSERVATÓRIO   ASTRONÔMICO
A programação terá inicio ás 19h30 com projeção de vídeo e palestra de como observar e fotografar. Uma publicação especial estará à disposição dos interessados. A partir do inicio do eclipse ás 22h07, estarão em ação seis telescópios do Observatório e vários outros do grupo “Amigos do Observatório Astronômico de Piracicaba”. Eles também estarão a postos fornecendo informações para os interessados. Como o local é amplo e oferece excelente visão, aqueles que possuírem binóculo ou telescópio  poderão instalar na área do Observatório.


SERVIÇO
Observatório Astronômico de Piracicaba, km 3 da rodovia Fausto Santomauro que liga Piracicaba a Rio Claro. Entrada grátis. Não será necessário agendamento. A programação se encerrará ás 01h27. Caso ocorram chuvas, a programação será cancelada.  

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

CURSO: INTRODUÇÃO A ASTRONOMIA

Dia 12/09/2015 : Inicio do curso "Introdução a Astronomia". Inscrições : a partir das 15h30 no Observatório. 40 vagas, gratuito, 5 aulas sempre aos sábados das 17h00 ás 19h00. Certificado de Participação para quem desejar. Não estão valendo inscrições agendadas devido a desistência de muitos prejudicando aqueles que desejam fazer o curso. Inscrições só pessoalmente antes da 1ª aula dia 12. O curso será ministrado por Nelson Travnik. Idade mínima para fazer o curso : 14 anos.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

OBSERVATÓRIO INSTALA RELÓGIO DO SOL INÉDITO NO PAÍS

A nova atração é parte do Museu do Tempo que o Observatório Astronômico de Piracicaba/SP, órgão da Secretaria Municipal de Educação, estará oferecendo às escolas a partir de agosto.


Segundo o astrônomo Nelson Travnik, autor do projeto e construção, a idéia de um relógio do Sol com um canhão que dispara quando o Sol cruza o meridiano local, surgiu de uma visita feita ao Observatório de Paris em 2011. O projeto de fazer um semelhante afim de testar seu funcionamento, enriquecer o acervo do Observatório e propiciar mais uma atração nas visitas escolares, foi concretizado com sucesso. O primeiro modelo desse relógio foi feito na França por volta de 1800. Quando orientado corretamente, o canhão disparava ao meio dia. Segundo Travnik, a maior dificuldade encontrada foi o canhão modelo antigo, contornada contudo por uma doação do seu colega de São Paulo, Luigino Drioli. O trabalho de gravação foi executado em Americana por  Valdemar G. Terra Neto. O Observatório soma agora cinco relógios do Sol, cada um de um tipo diferente.

LABORATÓRIO   A   CÉU   ABERTO
Pela gama de conhecimentos que proporciona, são até hoje largamente utilizados nas visitas aos observatórios e planetários.  Sua beleza estética, interesse, curiosidade que desperta nas pessoas e o valor pedagógico é inquestionável. Algumas escolas os possuem em suas unidades bem como estão presentes em praças, jardins e até em paredes de prédios e igrejas como vistos principalmente na Europa.  Ele é a mais antiga ferramenta do homem para medir o tempo, estabelecendo um calendário que permitiu conhecer  as épocas das estações do ano, imprescindível mesmo à sua sobrevivência nas latitudes elevadas. No Brasil o relógio do Sol mais antigo está na igreja de São Francisco Xavier,em Niterói, RJ,  fundada em 1572 pelo padre jesuíta José de Anchieta.

MEDIR  O  TEMPO , UMA  ETERNA  PREOCUPAÇÃO
Impossibilitado de marcas as horas quando não havia Sol, surgem então os relógios de água, Clepsidra e os de areia, Ampulheta. Ninguém sabe exatamente quando surgiu o relógio mecânico e nem quem foi seu criador, mas é certo de que ele data do inicio do século XIV. O relógio de pendulo a partir de 1656, criado pelo astrônomo holandês Christiaan Huyghens (1629-1695), introduziu uma grande precisão nas medições do tempo. A seguir graças ao cronômetro de John Harrison (1693-1776), acertado com o meridiano de Greenwich (Londres), é que foi possível resolver o grande problema das navegações com a determinação das longitudes. Sempre na procura da precisão, aparecem os relógios digitais e a seguir os atômicos com uma precisão de tempo que chega ao nanosegundo ou seja, o milésimo do milionésimo de segundo e que funcionam com base na mecânica quântica. Graças a ele, largamente utilizados nas missões espaciais e em cálculos relativísticos, foi possível determinar que a Terra está mais lenta um segundo por ano. Anualmente   é feito um acerto entre a hora atômica e a hora astronômica. Em nosso País, a Hora Legal Brasileira é determinada por relógios atômicos instalados na Sala da Hora do Observatório Nacional do Rio de Janeiro/CNPq – MST.  Quem quiser saber a hora, com precisão, é só ligar para o Serviço da Hora: (21) 2580.6037. 

RELÓGIO  DO  SOL  COM  UM  CANHÃO !
Ele dispara quando o Sol cruza o meridiano local. A partir de agosto, as escolas que visitam o Observatório Astronômico de Piracicaba, SP, contarão com mais essa atração que é parte do Museu do Tempo que soma agora cinco relógios do Sol. O novo relógio foi extraído de uma fotografia que vi no Observatório de Paris em 2011. O primeiro modelo foi feito na França em 1800. A dificuldade maior foi encontrar um canhão modelo antigo, contornada contudo com a doação do meu colega de São Paulo, Luigino Drioli. O trabalho de gravação foi executado pelo amigo de Americana, Valdemar G. T. Neto.



quinta-feira, 16 de julho de 2015

NESTE SÁBADO, UM RARO FENÔMENO CELESTE

Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com


Fenômeno não é visto há 125 anos. Inspirou um dos maiores pintores que o mundo conheceu. Astronomia descarta interesse científico.

No próximo sábado, a aparição no poente ao entardecer dos planetas Vênus e Júpiter mais a estrela Regulus e uma fina Lua Nova, estarão formando uma imensa cruz no céu. A semelhança em ponto maior ao nosso Cruzeiro do Sul é tão grande, que nem mesmo falta aquela estrela que é conhecida popularmente como “intrometida” e que na grande cruz será  a estrela Nu da constelação do Leão. No passado, conjunções como essa poderia significar um aviso no céu e gerava as mais bizarras manifestações. Sob nova roupagem, ainda nos dias atuais observamos multidões de pessoas infelizmente apegadas a crença em ‘forças’ exercidas pelos astros. Crenças e mágicas são produto do folclore e misticismo dos povos e rendem até hoje significativos dividendos aos espertalhões.  Para a astronomia, esses encontros de astros no céu são casuais sem nenhuma importância científica. Contudo há um detalhe curioso envolvendo este espetáculo no céu. O raro fenômeno também observado em 20 de abril de 1890, foi motivo de menção em um artigo do célebre astrônomo francês Camille Flammarion (1842-1925), publicado na revista “L’ Astronomie”, órgão oficial da Sociedade Astronômica da França. O que desperta atenção, é que é possível que o celebre pintor Vincent van Gogh (1853-1890) então na Florença, tenha tido conhecimento ou tenha sido avisado pelo artigo de Flammarion que o céu iria apresentar tal espetáculo e assim teria resolvido imortalizá-lo em uma das suas famosas telas. Isto é perfeitamente plausível pelo fato de van Gogh ter pintado o céu em várias de suas telas com estrelas, o Sol e a Lua sendo identificados pelos astrônomos, em particular pelo brasileiro Tasso Napoleão de São Paulo, em suas posições reais  no dia em que foram pintadas.


OBSERVAÇÃO

Recomenda-se que as pessoas interessadas em contemplar o evento, procurem um local descampado com ampla visão para o poente . Não há necessidade de nenhum instrumento. Como o Observatório Astronômico de Piracicaba, órgão da Secretaria Municipal de Educação, é um dos bons lugares para observação, o mesmo estará aberto no próximo  sábado, dia de visitação pública, mais cedo a partir das 18 horas. Será também possível que os visitantes observem nos telescópios os planetas Vênus e Júpiter. A entrada é franca e não há necessidade de agendamento. Anote : km  3 da rodovia que liga Piracicaba a Rio Claro.


Nelson Travnik é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba,SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

sábado, 11 de julho de 2015

JULHO TERÁ FENÔMENO DA LUA AZUL

Imagem: Google imagens - Blog Duplo Nó
Nelson Travnik

nelson-travnik@hotmail.com


Toda a mística e fascínio pela Lua Azul está em que esse fenômeno não é comum. Conhecida como Blue Moon,  o termo é na verdade impróprio pois  não  ocorre  nenhuma alteração  na  coloração  ou no  luar.  Há controvérsias da origem dessa expressão em língua inglesa, mas é certo que  a  associação da  Lua  com  a  cor  azul  já  era  usada  na época  de Shakespeare (final do século XVI, inicio do século XVII). Há um panfleto de 1528 com o primeiro registro de uma ‘lua azul’: If they say the moon is blue,  we  must  believe that  it  is  true.  Se  eles  dizem que  a  Lua  é  azul devemos acreditar que é verdade. Mais tarde a Blue Moon deu seqüencia nos Estados Unidos num costume de dar nomes especiais as luas cheias de cada mês. A Lua de agosto por exemplo é chamada “Lua do milho verde”ou “ Lua dos grãos”; a de setembro “Lua da colheita”; a de outubro “Luada caça” e assim por diante. 

Duas luas cheias,  portanto,  no mesmo mês caracteriza a Blue Moon. O termo inspirou o compositor Richard Rogers e o letrista Lorenz Harte nasua famosa canção ‘Blue Moon’, mais tarde magistralmente interpretada por Frank Sinatra.  O fato de duas luas cheias no mesmo mês não constitui um fato raro mas nessa onda às vezes embarcam astrólogos e esotéricos ávidos  para vaticinar  nascimento,  sexo,  renovação,  fortuna,  emoções, amor e até encontro de almas gêmeas. Os videntes dizem que quando a Lua  Cheia  desponta no  céu,  basta  colocar  na  carteira  sete moedas  de R$1,00 que dará bons resultados. A Lua também inspirou o compositor alemão  Ludwig van  Beethoven.  Sua  “Sonata  ao Luar” é  a  maior consagração à Lua feita por um compositor. Mas voltando a Blue Moon, o intervalo médio da ocorrência das ‘luas azuis’ é de 2 anos e 8 meses, não se levando em conta as duplas ‘luas azuis’ de 1980, 1999 e que ocorrerá também em 2018 e 2037. A última vez que aconteceu duas luas cheias no mesmo mês foi  em agosto  de 2012.  A maior freqüência  de  duas luas cheias é nos meses de 31 dias. A observação da Lua Cheia sempre atrai grande  número  de  pessoas,  notadamente  crianças,  aos observatórios astronômicos  de  todo  País. Ver  aquele  círculo  luminoso  surgindo  no horizonte  é  uma  imagem  que  encanta  e  fascina desde  os  albores  da humanidade. Por ocasião da Blue Moon, existe uma curiosidade inerente em algumas pessoas menos esclarecidas em achar que irão observar uma Lua realmente azul. As pessoas não são frustradas. Colocamos um filtro azul nos telescópios. E tudo acontece num ambiente alegre e descontraído ao som de músicas imortais exaltando a beleza do luar.

Nelson Travnik é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba/SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França, SAF .

sexta-feira, 10 de julho de 2015

NOS MEANDROS DA CIÊNCIA, CRENÇAS E DESCRENÇAS

Imagem extraída do do link  http://www.com.ufv.br/caixapreta/universitarios-tem-religiao/


Nelson  Travnik

nelson-travnik@hotmail.com


Na história do  planeta, a ânsia de milhões de pessoas tem se debruçado sobre os mistérios da mente e da natureza no afã de buscar respostas para essas instigantes questões.
      Apesar da rejeição de certas crenças, quer queira quer não, a evolução está comprovada cientificamente. Quando Charles Darwin (1809-1882) escreveu em “A Origem das Espécies” ao mesmo tempo que seu colega Alfred Russel Wallace que ‘somos descendentes de vermes e moluscos’, a comunidade científica e o clero estremeceram. A teoria evolucionista afrontava a Bíblia. Darwin e Wallace tinham chegado em suas pesquisas a ação da seleção natural na origem das espécies, ponto fundamental da teoria da evolução. Ainda hoje a idéia de que o homem possui forte parentesco com os primatas – eles possuem 48 cromossomos, dois a mais que o homem – continua provocando polêmicas e inaceitável para algumas crenças e muitas escolas nos Estados Unidos que não aceitam incluir na grade curricular o estudo da teoria evolucionista. Apegadas ao criacionismo, entram em confronto direto com a paleontologia. Os museus de história natural estão exibindo pois uma mentira. A idéia de um primata meio-homem e meio-chipanzé, passando daí para  o homem, foi uma evolução lenta e progressiva no campo genético que demandou cerca de 3,5 milhões de anos pois a natureza não dá saltos. O que a ciência investiga é quando e como teria ocorrido a mutação genética nos nossos parentes mais próximos. Um longo e lento processo do homo habilis, ao homo erectus e desse ao homo sapiens que somos nós. Recuando mais no tempo, atualmente os cientistas concordam que somos subproduto acidental feitos de água, de terra, de ar , da luz e de outros elementos forjados no interior de uma estrela, o Sol. As novas revelações astronômicas e bioquímicas fixam fortemente a crença na ocorrência da vida na amplidão cósmica.  .  

A  TERRA  EM  UM  ESPAÇO  TURBULENTO

Ao contrário de muitas espécies que desapareceram, o homem conseguiu sobreviver em um planeta palco de violentas mudanças climáticas e toda espécie de doenças, cataclismos e destruições. Vestígios estão em toda parte. Já experimentamos cinco extinções em massa. A última há 65 milhões de anos dizimou 80% da vida e nesse ‘pacote’ lá se foram os dinossauros. Se o homem estivesse presente nessa época longínqua, talvez você não estaria lendo esse artigo. Azar deles, sorte nossa. Na escala geológica do tempo, estamos aqui em um período infinitesimal pequeno. Infelizmente violentas mudanças geológicas, geofísicas, climáticas e contínua agressão  a natureza, indica que estamos apressando a ocorrência de eventos que irão ceifar a vida de milhões de pessoas. Da Terra para o céu, ao contrário da antiga concepção de um universo tranqüilo e de ‘paz celestial’, os modernos meios de investigação astronômica tem mostrado um cosmo extremamente violento. Colisões de asteroides e cometas em planetas, explosões de estrelas super e hipernovas  aniquilando tudo ao seu redor com radiação X e gama, buracos negros promovendo um canibalismo cósmico a quem se atrever se aproximar deles e colisão de galáxias, este é o universo que a astronomia nos mostra atualmente. Estamos pois indefesos expostos a eventos cósmicos capazes de, a qualquer momento, varrer a vida no planeta. Simplesmente estamos deslocados a um canto de uma galáxia espiral, invisíveis a partir do núcleo central, em torno do qual giram bilhões de estrelas, muitas das quais com planetas ao seu redor e com suas humanidades que podem pensar também que são senhores da criação e donos da verdade.  


OS  GRANDES  DESAFIOS  DA  MENTE

A ciência nos aproxima da natureza, dos mistérios insondáveis do cosmo e nos transporta a uma percepção do mundo que pode ser também profundamente espiritual. Albert Einstein  (1879-1955) justificava sua devoção a ciência como ‘sentimento religioso cósmico’. Numa contemplação retrospectiva utilizando o raciocínio e a razão, poderíamos concluir que a fé obrigatoriamente necessita estar condizente com nossa existência desde as cavernas ao homem espacial. Fé e ciência caminhando juntas. Obviamente nesse pensamento não estão incluídos aqueles que acreditam simplesmente que tudo é parte de uma evolução da matéria e que não existe nada além disso. Darwin pensava assim numa ampla idéia de um determinismo genético. Wallace ao contrário, buscou uma explicação para satisfazer sua espiritualidade. Procurou conhecer antigas filosofias orientais e os recentes estudos e descobertas feitas pelo ilustre cientista e pedagogo, Hippolyte Léon Denizard Rivail- Allan Kardec. Abraçou a idéia de uma evolução também espiritual. Evolução é vida e seria também espiritual para explicar as enormes diferenças sociais, culturais e ações dos seres humanos. Da Terra para o céu, as extraordinárias descobertas de planetas orbitando outras estrelas, confirmando a escola de Epícuro (341 -271 a.C.), o poeta romano Titus C. Lucretio (97 -55 a.C.), o astrônomo e filósofo italiano Giordano Bruno (1548-1600), o escritor francês Bernard Le Bovier de Fontenelle (1657-1757 e mais recentemente o astrônomo francês Camille Flammarion (1842-1925) de que existem infinitos mundos habitados, atualmente ninguém mais duvida disso. Os cientistas acreditam que podem haver civilizações lá fora e quando chegar aos nossos potentes radiotelescópios aquela tão aguardada mensagem : também estamos aqui ! surgirá uma nova era para a humanidade que irá deitar abaixo a crença milenar de que somos seres de uma civilização especial, donos da verdade, centro da criação e eleitos de Deus. A astronomia nos mostra que somos engrenagens microscópicas, um grão de poeira em um vasto universo que existe há bilhões de anos antes do aparecimento do Sol, da Terra e dos humanos e que ele seguirá adiante muito bem sem nós. O universo é um celeiro de vida.  Indiferente aos anseios e ambições humanas, está pouco se importando com nosso planeta, nossa existência, nossas conquistas, nossas crenças e nosso futuro. E muito menos com aqueles que crêem que Josué parou o Sol ! A origem das origens está além da astronomia e talvez além da filosofia no reino do que é para nós, o Incognoscível.

O autor é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.
                      

CAMILLE FLAMMARION

No  Ano  Internacional  da  Luz,  a  comunidade  astronômica celebra,  

CAMILLE FLAMMARION(1842-1925)



Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com

Astronomia lembra este ano o 90º aniversário do seu desenlace. “O corpo passa. A alma vive no infinito e na eternidade”. (C.Flammarion)

     No contexto do Ano Internacional da Luz, proclamado pela ONU-UNESCO,a comunidade astronômica de todo o mundo, especialmente a francesa, reverencia em 3 de junho a memória de Camille Flammarion,  um  dos maiores divulgadores da astronomia de todos os tempos. Astrônomo, sábio e filosofo,   o  “Mestre de Juvisy”, o “Poeta do Céu”, partiu para a espiritualidade vítima de uma crise cardíaca aos 83 anos, 3 meses e 8 dias. Numa manhã ensolarada onde a vida irradiava nas flores e nos cantos dos pássaros, levantou-se da mesa em que trabalhava com seu sobrinho Charles e aproximou-se da janela para contemplar o jardim  do  Observatório.  Gabrielle  Renaudot Flammarion,  sua  dedicada esposa  acompanhou-o  e  ele,  sentindo  sua  presença, murmurou, balançando a cabeça encanecida : “Como é belo o mundo! Como é bela a vida!” Depois, voltou-se e olhou-a carinhosamente. De repente, seu rosto crispou-se e ele disse apenas : “meu coração” e em seguida “que mistério é a vida, que mistério é a morte”. Tombou nos braços de Gabrielle. Poucos minutos antes,  corrigira as provas de seu último livro :  “A Morte e seu Mistério”.  Foi  através  da  porta  mágica  da  poesia  que  ele  levou para  a Estrada  de  Urânia, milhares  de  amantes  da  ciência  do  céu.  Como prometeu, seu intuito era trazer ao homem comum as luzes do céu e do conhecimento. Amou a música com tamanha devoção a ponto do grande compositor e amigo Camille Saint-Saens declarar um dia que o astrônomo estava  a  lhe  fazer concorrência.  Quase  todos  os astrônomos  daqueles séculos foram, mesmo sem o pressentir, “crias” de Flammarion.                   
       Todos os anos no dia 3 de junho, membros da SociedadeAstronômica  da  França,  SAF  e  admiradores,  reúnem-se  à  volta  do  seutúmulo no jardim do Observatório, reverenciando sua memória e a grande contribuição à astronomia que mais despertou mentes voltadas ao estudodo céu. Entre seus admiradores estavam o imortal   Victor  Hugo (1802-1885), o grande músico Camille Saint Saëns (1835-1921) e os imperadoresNapoleão III (1808-1873) e D. Pedro II d’ Alcantara (1825-1891) do Brasil.Nosso Imperador, um grande aficionado da astronomia ,foi membro nº 85da  SAF  bem  como  Alberto  Santos-Dumont  (  1873-1932),  tambémaficionado e grandes admiradores de Flammarion.                   
          Após receber de presente o livro “Urania’, D. Pedro  II foi uma das  primeiras  personalidades  a  visitá-lo,  atendendo  convite  para  a inauguração do Observatório de Juvisy-sur- Orge  em 29 de julho de 1887.Nessa ocasião com uma observação do planeta Vênus, inaugurou a luneta de 24 cm com óptica de Bardou, concedeu a Flammarion a comenda da“Ordem  da  Rosa”  bem  como  plantou  no  jardim  do  Observatório  uma muda de cedro do Líbano.  Esta  árvore  existe até hoje e há uma placa alusiva  ao  simpático  gesto  do  nosso  Imperador.  Constatei  isso  quando estive em 17 de setembro de 2011 na reinauguração do Observatório após amplas reformas há muito necessárias. Em março de 1882 fundou a revista L’ Astronomie, que existe até hoje, 133 anos ! Uma efeméride difícil de ser igualada. Em 1887 fundou a Sociedade Astronômica da França, SAF, ainda uma das mais ativas do mundo com milhares de sócios em todo o mundo.É  seu primeiro presidente e assume a direção do Boletim Mensal.  Em 1879  surge  a  primeira  edição  do  seu  livro  “Astronomia  Popular”,  sua grande obra e que lhe valeu o prêmio Montyon em 1880 concedido pela Academia Francesa. Em 1955 sob direção de sua esposa Gabrielle Camille Flammarion,  Secretaria  Geral  da  SAF  e  de  André  Danjon,  diretor  do Observatório de Paris, o livro com 609 páginas é reeditado inteiramente refeito com os conhecimentos atuais da astronomia até aquele ano. Como suplemento ao livro, em 1896 surge “As Estrelas e as Curiosidades do Céu”,uma descrição completa do céu visível a olho nu e de todos os objetos celestes fáceis de observar. O ponto alto do livro com 792 páginas, é a observação de estrelas duplas. Convém lembrar que em 1878 Flammarion havia publicado um Catálogo de Estrelas Duplas Visuais que foi por muito tempo considerado o melhor do mundo. Por essas e muitas outras obras,Flammarion recebeu em 1912 um prêmio da Legião de Honra pela sua contribuição  dada  a  divulgação  da  astronomia.  Em  1899  fundou   o Observatório das Sociedades Eruditas . Flammarion escreveu 55 obras de ciência e filosóficas, Atlas Celeste, Carta Celeste, Planisfério Móbil, Carta Geral da Lua, cartas astronômicas e globos da Lua e de Marte.  Publicou muitos trabalhos de pesquisa na Academia de Ciências de Paris . É curioso atentar  uma relação neste  Ano Internacional  da Luz com o sobrenome ‘FFlammarion’ : na letra e significação galoromana é “aquele que leva a luz”.E realmente levou a luz das estrelas a milhões de pessoas.

REFERÊNCIAS 
L’ Astronomie, revista mensal da Sociedade Astronômica da França.
Camille Flammarion, Astronomie Populaire, edição de 1955
Camille Flammarion, Les Etoiles et les Curiosités du Ciel, edição de 1896.
Camille Flammarion, La Pluralité des Mondes Habités, edição de 1921.
Ronaldo R. Freitas Mourão, Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Editora Nova Fronteira, 1995. 

O  autor  é  diretor  do  Observatório  Astronômico  de  Piracicaba,  SP,  e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França. Fundou em MatiasBarbosa, MG, o Observatório Astronômico Flammarion (1954-1976).


quarta-feira, 8 de julho de 2015

2015 - ANO INTERNACIONAL DA LUZ

A Assembléia  Geral  da  Organização  das  Nações  Unidas  no  dia  20  de dezembro de 2013, proclamou 2015 como o “Ano Internacional da Luz” e das tecnologias baseadas na Luz. A cerimônia de abertura foi aberta no dia 19/20 de janeiro.

MOTIVOS

A Assembléia indicou entre outras coisas que reconhece a importância da luz no desenvolvimento de tecnologias relacionadas na vida dos cidadãos do mundo em vários níveis. Considera também que as aplicações da luz relacionada ao futuro da medicina, energia, fibras ópticas e  Astronomia entre outras, é vital para o progresso da humanidade. Por fim considera que 2015 coincide com uma série de importantes efemérides na história da  ciência  com  relação  à  luz  como  os  trabalhos  de  óptica  de  Ibn  Al-Haytham em 1015 (ano do milênio) ; a noção ondulatória da luz proposta por Fresnel em 1815 (ano do bi-centenário) ; a teoria eletromagnética da propagação  da  luz  proposta  por  Maxwell  em  1865;  a  teoria  do  efeito fotoelétrico de Einstein em 1905 e da relação da luz na cosmologia através da  Relatividade  Geral  em  1915  (ano  do  centenário)  ;  a  descoberta  da radiação cósmica de fundo por Penzias e Wilson em 1965 bem como os trabalhos  de  Kao  concernente  a  transmissão  da  luz  em  fibras  para comunicação óptica também  em 1965.

NA ASTRONOMIA

Logo  após  a  publicação  da  resolução  proclamando  2015  como  o  “Ano Internacional da Luz”, a União Astronômica Internacional, IAU, se envolveu de pronto criando o subtítulo “Luz do Cosmos” como uma oportunidade única  para  envolver  debates  e  soluções  para  o  problema  da  poluição luminosa que envolve o desperdício de energia e danos a qualidade do céu prejudicando as atividades de pesquisa dos observatórios. Um vídeo da IAU disponível em seu website enfatiza que “A luz vem de qualquer lugar do  Cosmos.  Esta  luz  está  conosco  todos  os  dias.  A  luz  nos  chega  das distantes fogueiras cósmicas e inspirou-nos por milhares de anos. É a luz do  Sol  que  responde  por  todas  as  manifestações  de  vida  na  Terra.Observações  da  luz  do  Cosmos  iniciaram uma revolução  científica.  Em 2015, cientistas, astrônomos e o público se reunirão novamente como no Ano Internacional da Astronomia em 2009, para levar a ciência do céu à população e  propor  medidas para reduzir  a  poluição luminosa  e assim celebrar a Luz dos Cosmos que chega até a Terra”.

Em 1925 A. Einstein esteve no Brasil, ocasião em que visitou o Observatório Nacional do Rio de Janeiro e o meteorito de Bendegó no Museu Nacional

TAMBÉM EM 2015
Estaremos comemorando entre outras:
100 ANOS da previsão de Percival Lowell sobre a existência do Planeta anão (planetóide) Plutão;
90 ANOS do falecimento de Camille Flammarion (1842-1925);
30 ANOS de inauguração do Observatório Municipal de Americana/SP, o 2º do Brasil nesta modalidade.

ESTARÁ SENDO REALIZADO EM BELO HORIZONTE/MG
O 18º Encontro Nacional de Astronomia, ENAST , de 30 a 31 de novembro na Universidade FUMEC .

Nelson Travnik, astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba, órgão da Secretaria Municipal de Educação e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França, SAF.