quarta-feira, 12 de outubro de 2016

EDUCAÇÃO - INTERATIVIDADE

Relógio de Sol
Fonte da imagem: Brasil Escola
ESCOLAS UTILIZAM O RELÓGIO DE SOL PARA MOTIVAR ALUNOS

                                                                             Nelson  Travnik
                                                                nelson-travnik@hotmail.com

Já são muitas as escolas que estão usando um instrumento milenar para enriquecer o estudo nas áreas de Ciências, História e Geografia. Os alunos aprendem a construir um relógio de Sol e com isso verificam a gama de conhecimentos que passam a adquirir como: orientação geográfica pelo Sol, dia solar e dia sideral, mecanismo das estações do ano, como obter a latitude local, nascer e por do Sol em diferentes épocas do ano, estabelecimento do calendário e a importância do uso nas navegações e até na determinação do limite territorial que dependia da determinação da hora. Os alunos aprendem que é fundamental conhecer o que é norte geográfico e norte magnético. O relógio de Sol ensina isso pois para sua instalação é necessário conhecer o norte geográfico e não o magnético como indicado pelo bussola. O conhecimento da humanidade foi formado durante longos séculos e os relógios de Sol são parte dessa história. Na cidade de Concórdia, SC, todas as escolas municipais a partir de 1996 passaram a contar com um relógio de Sol.
           Desde a pré-história foram usados como simples estacas fincadas no chão. Contudo foi na Mesopotâmia que surgiu o relógio de Sol. Mais tarde foram desenvolvidos no Egito há cerca de 1500 a.C. Acredita-se que os obeliscos construídos naquele  país há 3.500 a.C. tinham também a função  de marcar as horas. Como não era possível saber as horas em dias nublados, chuvosos e no interior das moradias, os gregos criaram um relógio de água e deram-lhe o nome de cleipsidra. Os egípcios tiveram a idéia de substituir a água pela areia e criaram a ampulheta. Na Idade Média, a medida do tempo chegou a ser feita com alfinetes espetados em velas, em alturas previamente calculadas.
           No Brasil o mais antigo relógio de Sol está numa parede na Igreja de S. Francisco Xavier, em Niterói, RJ, fundada pelo padre José de Anchieta em 1572. Existem relógios de Sol que fogem ao usual e chamam a atenção das pessoas. Um encontra-se na sepultura do Senhor Fenelon Ribeiro no Cemitério do Bonfim em Belo Horizonte, MG, datado de 1977. O outro também em uma sepultura, encontra-se no Cemitério Municipal de Matias Barbosa,MG, e foi construído pelo autor em 2011 para adornar  o tumulo da família. Um outro, único no País, tem um canhão que dispara quando o astro-rei cruza o meridiano central da cidade de Piracicaba,SP. Foi construído também pelo autor e desde janeiro de 2016 está instalado no Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum constituindo uma grande atração durante as visitas escolares. Um outro, o maior do Brasil , é o de Brasília projetado por Oscar Niemeyer e instalado no Parque da Cidade. Para alguns, o mais bonito é aquele existente de várias faces na Praça N. Senhora da Conceição em Franca, SP, construído em mármore de carrara  pelo frei Germano d’ Annecy em 1886 .
            A construção de um relógio de Sol tem três partes : o ponteiro fixo chamado gnomon paralelo ao eixo de rotação da Terra; o mostrador ou mesa onde ficam o números que correspondem as 12 horas do dia e as linhas horárias. São de três tipos principais : o horizontal, o vertical e o equatorial. Este último, o mais fácil de construir é o preferido pois utiliza somente um transferidor  que possibilita marcar a latitude do local  e não necessita cálculo para determinar os ângulos horários pois todos eles tem 15 graus. O relógio de Sol marca o dia solar verdadeiro. Como ele se adianta, iguala ou se atrasa durante o ano, essa diferença é colocada em uma tabela chamada Equação do Tempo onde se obtém a hora certa marcada pelos relógios. Se os dois movimentos da Terra fossem regulares e se o seu eixo fosse perpendicular ao plano da eclíptica, os dias solares teriam sempre a mesma duração o que não acontece. Geralmente os relógios de Sol contém frases em latim ou do idioma do país. A mais comum é aquela : Tempus Fugit, Carpe diem; o Tempo passa, foge; aproveite o dia. Relógio de Sol, vetustas e silenciosas testemunhas de um tempo que já passou.
           Na complementação do assunto nas escolas, é importante abordar a medição do tempo, desde a antiguidade aos relógios mecânicos e aos atuais onde a hora é gerada por relógios atômicos à base de césio, rubídio ou maser de hidrogênio com uma precisão impressionante : para atrasar um segundo são necessários 10.000 anos!


O autor é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

A VINGANÇA DE GIORDANO

Giordano Bruno
Imagem: nationalgeographic.com.es
                                                                                 Nelson  Travnik
                                                                                           nelson-travnik@hotmail.com

Recentemente o noticiário internacional destacou a descoberta de um exoplaneta na zona habitável orbitando a estrela Alpha Centauri C ou, simplesmente Próxima, nossa vizinha no espaço a “apenas” 4,22 anos-luz.
Alpha Centauri é uma estrela tripla : duas são muito brilhantes A e B e a terceira C é uma massiva anã vermelha apenas com diâmetro uma vez e meia maior que Júpiter. Com uma magnitude de +11.05 torna-se muito difícil de ser localizada. Estima-se que gasta alguns milhões de anos para completar uma volta em torno das suas companheiras A e B. Se a noticia provocou impacto nos leigos, para os astrônomos não causou nenhuma surpresa uma vez que em 3000 exoplanetas pesquisados, 68 são próximos ao tamanho da Terra e estão na zona habitável. Desde a descoberta do primeiro exoplaneta em 1990, seu número atual está próximo a 5000  e não para de crescer. Com isto já é aceito que a maioria das estrelas possuem planetas ao seu redor e, por analogia, também possuirão satélites, asteróides e cometas. Esse raciocínio leva-nos a conclusão que pode haver civilizações lá fora que já chegaram a um estágio de desenvolvimento suficiente para emitir ondas de rádio. Assim sendo, já é aceito que nos próximos 25 anos através das gigantescas antenas dos nossos radiotelescópios chegará a tão aguarda mensagem: também estamos aqui !

SOMOS  POEIRA  DE  ESTRELAS
Os cientistas concordam que somos subproduto de água, terra, luz e outros elementos gerados no interior de uma estrela: o Sol. Dez por cento do peso médio do corpo humano é composto por átomos de hidrogênio. Todo o resto é de elementos mais pesados que o hélio, justamente aqueles produzidos dentro das estrelas. A descoberta de diversas moléculas orgânicas no meio interestelar, gelo e carbono nos cometas e astros assemelhados, reforça a idéia de que o universo é um celeiro de vida. A nucleosíntese primordial e a nucleosíntese estelar produziram elementos que fazem parte dos nossos corpos. Sim, somos feitos de poeira de estrelas!


O  RENASCER  DE  UMA  IDEIA  ANTIGA
A possibilidade de existir outros mundos com formas de vida é antiga e na Grécia já se pensava nisso. A Escola de Epícuro (341 -271) ensinava que não havia nenhum obstáculo para haver infinito número de mundos parecidos com o nosso. O poeta romano Titus Lucretio (97 -55) defendia igual pensamento. No século XV o cardeal Nikolaus de Cusa sustentava  a pluralidade dos mundos habitados com anuência do Papa Eugênio IV. Com a reformulação do sistema heliocêntrico por Nicolau Copérnico (1473-1543), endossada a seguir por Galileu Galilei (1564-1642) e Johannes Kepler (1572-1630), o fato atingiu em cheio as “verdades” impostas pela Igreja. Destronar a Terra do centro do sistema solar, do universo, da criação, indo de encontro aos doutores da Igreja era inadmissível, uma heresia. O curioso é que já muito antes de Copérnico, o astrônomo grego Aristarco de Samos (310 -230)  demonstrava que a Terra e os outros planetas giravam ao redor do Sol e que o movimento das estrelas à noite era aparente, causado pela rotação da Terra. Copérnico salvou-se da Inquisição pois seu livro propondo o heliocentrismo só lhe chegou ás mãos no leito de morte. Galileu contudo não teve a mesma sorte e teve que se retratar perante o Tribunal da Santa Inquisição para  escapar da fogueira. A pena foi abrandada para prisão domiciliar em Arcetri, próximo a Florença. Foi necessário dois séculos para que a Igreja admitisse oficialmente em 1822 que a Terra girava ao redor do Sol.

GIORDANO  BRUNO ,  MÁRTIR  DA  CIÊNCIA
Um destino trágico contudo estava reservado a Giordano Bruno (1548-1600). Fascinado pela imensidão do universo que os astrônomos de sua época estavam revelando contrapondo ao universo fechado pela filosofia aristotélica defendida pela Igreja, ele opôs um universo infinito. Defensor da teoria heliocêntrica de Aristarco e Copérnico, ele chegou a admitir também a existência de outros mundos.  Em seu livro “De l’ Infinito, Universo e Mondi”, Acerca do Infinito, Universo e Mundos, ele escreveu : “há incontáveis terras orbitando em volta de seus sóis da mesma maneira que os seis planetas do nosso sistema”. Para a Igreja isso soou inadmissível pois era ir de encontro ao que ela defendia. Ademais, se existiam infinitos mundos, muitos deles habitados, como seria a “salvação” dos seus habitantes ? Uma réplica do que ocorreu aqui?  Giordano Bruno com a coragem dos heróis, enfrentou com altivez o Tribunal da Santa Inquisição não se retratando de suas convicções e o que ditava sua consciência.  Foi acusado de ser inimigo de todas as religiões, crer na existência de outros mundos e na infinidade do universo. Sofreu um processo que durou sete anos e no dia 9 de fevereiro de 1600, condenado por sua “heresia”, foi queimado vivo no Campo di Fiori em Roma tendo exclamado antes do suplício : “Minha alma subirá ao Paraíso junto com a fumaça do meu corpo”. Giordano Bruno, espírito renovador, alma límpida, apóstolo da ciência do céu, não se deixou intimidar pelas ameaças vindas de uma Igreja fechada as novas idéias do movimento renascentista e corroída por escândalos e dogmas que feriam a razão. Passados 416 anos, desde 1990 a astronomia nos vem revelando a pluralidade dos mundos em  nossa galáxia  comprovando Giordano Bruno e que a fé nunca pode estar divorciada dos conhecimentos científicos.
O autor é astrônomo no Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.