Nelson Travnik
Este mês em
que o planeta Marte após 15 anos estará novamente mais próximo à Terra, é
licito recordar um evento que causou nos Estados Unidos um clima de grande
apreensão e temores generalizados.
O problema
da existência ou não de outros planetas habitados, sempre foi motivo de grande
discussão. Desde tempos imemoriais, filósofos e homens de ciência dele se
ocuparam. Hoje sabemos que está comprovado a existência de milhares de planetas
ao redor das estrelas, que não estamos sozinhos no universo, não somos uma
civilização especial e muito menos centro da criação e privilegiados pelo
grande arquiteto.
CLIMA TENSO
Transcorria o ano de 1938. O mundo particularmente a
Europa e Estados Unidos vivia um clima tenso provocado pela ameaça de um novo
conflito mundial. A Alemanha arruinada pelo Tratado de Versailles, ressurgia
como potência tecnológica e militar pretendendo ocupação de mais territórios, o
chamado “espaço vital”. Nos ares a presença imponente do dirigível Hindenburg
com aquela enorme suástica, incomodava enormemente europeus e americanos. Como
se não bastasse, a possibilidade de Marte abrigar vida inteligente, era algo
que dividia a opinião dos astrônomos provocando a mais acirrada discussão da
história da ciência. Se Marte era habitado, como seriam seus habitantes? Em que
grau de civilização estariam? Como sobreviviam em um planeta desértico com uma
atmosfera extremamente rarefeita, submissos a receber doses letais de radiações
solares e do espaço? E é justamente nos Estados Unidos que surge o maior
defensor da presença de habitantes em Marte: Percival Lowell (1855-1916).
Diplomata, homem rico, ele abandonou a carreira para construir um grande
observatório, o seu “Castelo de Marte” nos altiplanos do norte do Arizona,
Flagstaff, munido de uma grande luneta com objetiva de 61 cm de diâmetro.
Dedicou sua fortuna e 15 anos de sua vida para estudar Marte. Desenhando centenas
de canais, ele defendia a idéia que eram obra de engenharia dos seus habitantes
para retirar água dos pólos na irrigação das áreas desérticas. Até certo ponto,
a obstinação de Lowell era explicável: no século XIX, os canais eram de importância
crucial para o comercio internacional e o maior deles, o de Suez, constituía
uma marca da inteligência humana. Aqui mesmo no Brasil não estamos construindo
um canal para levar água do rio São Francisco as regiões áridas do Nordeste? Em
um futuro longínquo talvez a escassez de água potável não nos leve também a
construir uma rede de canais partindo dos polos? Sendo válido este raciocínio,
se os marcianos estariam em um grau avançado de civilização, aquele globo azul
com abundante atmosfera e conseqüentemente muita água, não seria a solução para
uma migração?
OS MARCIANOS
INVADEM A TERRA
Sob um clima tenso já mencionado, na tarde de
domingo 30 de outubro de 1938, a crença nos marcianos transformou-se em dura
realidade para, pelo menos, 20 milhões de norte-americanos que ouviam através
da Rádio CBS de Nova York, no programa Mercury Theatre, uma encenação da “A Guerra
dos Mundos”, obra de ficção escrita em 1898 pelo romancista e escritor de
ficção científica, Herbert George Wells (1866-1946). Através de boletins sucessivos,
os ouvintes eram informados de que hordas incontroláveis de naves marcianas
invadiam a Terra em atitude hostil. As forças armadas do nosso planeta
requisitadas para repelir o invasor estavam sendo desmanteladas, destruídas e
pulverizadas uma após a outra. Os marcianos, exóticos seres esverdeados de
baixa estatura, haviam escolhido New Jersey para seu quartel general. Lançando
feixes de raios vermelhos e verdes, as naves invasoras iam minando as defesas
penetrando nas cidades e destruindo tudo a sua frente. A evacuação dos grandes
centros processava-se como única alternativa. Antes do inicio do programa havia
sido feita uma advertência de que o mesmo tratar-se-ia de uma encenação. Contudo
muitos pegaram ‘o bonde andando’ e o resultado foi que durante os 45 minutos
que durou o programa, a população de Nova York principalmente se envolveu de
tal forma, que o pânico se apoderou de mais de um milhão de pessoas que saíram
às ruas aterrorizadas com as ‘noticias’ que anunciavam uma invasão marciana e a
destruição da cidade. A evacuação da cidade por muitos que temiam ver um
marciano em cada esquina, provocou um engarrafamento colossal. O protagonista
da brincadeira que gerou até suicídio e milhares de telefonemas à Rádio, era
Orson Welles que se transformaria mais tarde em um dos mais consagrados cineastas que o mundo
conheceu.
Desnecessário dizer que após o programa, muitos foram
a porta da Rádio que viu-se em sérios apuros para convencer seus ouvintes de
que tudo não passava de uma encenação. Com medo de ser linchado, Orson Welles
teve que sair por uma porta dos fundos! Muitos sentindo-se prejudicados,
moveram processos contra a Radio que ao final saiu-se ilesa devido ao aviso
feito antes do programa começar. Refeito o susto, todos puderam respirar
aliviados. Mais tarde o tema viu-se transportado as telas sob o mesmo título:
“A Guerra dos Mundos”, primeiro em 1953 e depois em 2005, este último sob a
direção de S. Spielberg, ambos num estrondoso sucesso de bilheteria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário