quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

CALENDÁRIO - ANO NOVO: 2016 OU 2022 ?

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Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
O ano de 2015 chegou ao fim porque aqui no Ocidente o tempo é baseado no calendário solar que é medido pelo tempo gasto pela Terra para completar uma volta ao redor do Sol. Enquanto a maioria das pessoas acredita estar em 2016, historiadores e astrônomos contestam e esclarecem a disparidade existente no calendário e na ordem das datas estabelecidas. Esses detalhes e acontecimentos embora não venham possuir importância no âmbito pessoal, para a história e a ciência são relevantes.

Uma pesquisa histórica nos ensina que a era cristã tem inicio no nascimento de Cristo cuja data verdadeira é desconhecida. A estimativa de datas em que se baseia nosso calendário, foi feita durante a Idade Média por um monge chamado Dionisyus Exiguus, O Pequeno, que vivia em Roma no ano 525 e, segundo uma serie de fontes, inclusive a Enciclopédia Católica, de fixar o ano 1 de nossa era em 753 A.U.C. (Ab Urba Condita), depois da fundação de Roma (a história de Roma abrange um período de 1229 anos, de 753 a.C. a 476 d.C. ) . Acontece que Dionisyus utilizando a data de 25 de dezembro do ano 753 errou nas contas por cerca de 4 anos e além disso não se deu conta de fixar o ano zero; ele apenas chamou o ano de 752 de ano 1 antes de Cristo e o de 753 de ano 1 AD (Ano Domini ou  Ano do Senhor). Para alguns estudiosos, acontecimentos ligados ao nascimento de Cristo tiveram lugar em 754.

A era Cristã foi adotada pela Igreja em 532 por sugestão de Dionisyus que decidiu contar os anos a partir de 1º de janeiro em seguida ao nascimento de Cristo. Nessa época a idéia do zero era desconhecida. Em 440 é que a Igreja decidiu que a data do nascimento de Cristo seria 25 de dezembro do calendário romano. Os cronologistas por sua vez, decidiram retardar sete dias o inicio da era Cristã para que coincidisse com o inicio do ano 754 da fundação de Roma. Analisando fatos históricos ligados a Roma e Israel, palco dos acontecimentos, o cálculo de Dionisyus carece de fundamento. Isso porque se Cristo houvesse nascido em 754 da fundação de Roma, Herodes já estaria morto há cinco anos e os apóstolos Mateus e Lucas estariam mentindo. Sendo válido este raciocínio , estamos pois brindando o ano de 2022 ou 2023 segundo o qual Cristo deve ter nascido cerca de seis ou sete anos que o registrado no calendário ocidental, considerando o erro maior cometido por Dionisyus.

Em seu livro “A Infância de Jesus”, o papa Bento XVI diz que Maria deu à luz entre 7 e 6 a.C. o que vem corroborar o acima colocado. Nosso calendário é Gregoriano que adveio do Juliano e este por sua vez dos egípcios. Ao longo dos séculos, as modificações introduzidas não teve como corrigir as discrepâncias que ocorriam e a solução foi a introdução de um novo calendário em 24/02/1582 pelo papa Gregório XIII através da bula “Intergravissimas” . Para isto ele consultou o astrônomo napolitano Luigi Lilius (1510-1576) e depois o jesuíta,matemático e astrônomo alemão Cristophorus Clavius (1537-1612). Para ajustar a diferença existente, foram necessários diminuir 11 dias ao ano 1582. A quinta-feira 04 de outubro passou para a sexta-feira dia 15.   Mesmo com as regras estabelecidas no calendário gregoriano que utilizamos a partir de 1582, ele não é perfeito e apresenta um excesso de 0,0003 dias em relação ao ano trópico, ou seja, de 1,132 dias em quatro mil anos. Traduzindo em segundos para melhor compreensão, o ano gregoriano que utilizamos tem 31.556.952 s e a exata translação da Terra ao redor do Sol é de 31.556.925 s. Daí sobrevém o excesso acima colocado. Por isso, não vale a pena encetar uma reforma no calendário para introduzir a fração de segundo, pois a atual diminuição da rotação da Terra já dará conta disso.

Entretanto se essa ínfima diferença pouco significa para a humanidade,  para a datação de fatos históricos, em astronomia, ciência espacial e cálculos relativísticos, tal é inadmissível e para isso é que foram criados os relógios atômicos. São eles que controlam a diminuição da rotação do nosso planeta via marés e no fato da Lua afastar-se de nós 3,5 a 4 centímetros por ano. O efeito acumulativo da diminuição da rotação da Terra cresce proporcionalmente não ao tempo mas ao seu quadrado. Pesquisas indicam que há 900 milhões de anos o dia durava apenas 18 horas e o ano tinha 480 dias. Isso faz com que várias medições diárias são realizadas com resolução de nanosegundo.

O calendário é pois um conjunto de regras baseadas na astronomia e através dela é que qualquer iniciativa terá que se apoiar.  O calendário deveria ser universal, segundo cálculos astronômicos pois como está é historicamente arbitrário e matematicamente errôneo.


Nelson Travnik, é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França. 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Sinais no céu MAGOS NÃO FORAM ATRÁS DE UMA ESTRELA

                                                                                                Nelson Travnik
                                                                                                                nelson-travnik@hotmail.com



Todos os anos não há quem fique indiferente diante da beleza do presépio iluminado por uma estrela ou um cometa. O Natal é sempre um momento mágico para a cristandade. No presépio são vistos três Magos vindos do Oriente. De passagem por Jerusalém teriam perguntado: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos homenageá-lo”. Assim começa o capítulo dois do Evangelho segundo Mateus. Era essa a informação que os Magos, sacerdotes do zoroatrismo, religião devida a Zoroastro que viveu no século VII a.C. e cuja bíblia é o Zend Avesta, possuíam. Um evento celeste indicava o nascimento de um líder daquele povo, cujos ancestrais viveram na Babilônia e lá deixaram marcas importantes do seu monoteísmo antes de voltarem para Canaã e codificarem suas leis. A partir deste relato, muitas teorias têm sido propostas para identificar a real natureza daquele evento cósmico. Para que um astro pudesse impressionar as pessoas só poderiam ser um cometa brilhante, uma estrela nova ou supernova, um alinhamento planetário, raras conjunções muito próximas entre planetas e estrelas e mesmo a tese que nenhum fenômeno celeste tenha de fato acontecido. Pesquisas modernas através de computadores de última geração aliados a representação do céu daquela época no Planetário, apontam para uma raríssima conjunção tríplice entre Júpiter e Saturno na constelação de Peixes. Essas conjunções ocorrem quando ambos estão em oposição ao Sol e devido ao movimento combinado, faz com que Júpiter cruze com Saturno três vezes. Utilizando o método computacional, a conjunção foi vista em 1940, 1980 e irá ocorrer novamente em 2238 e 2279. Tendo em vista que o fenômeno ocorreu em 29 de maio, 1º de outubro e 4 de dezembro do ano 7 a.C. na constelação de Peixes, é importante lembrar que esta constelação simbolizava tradicionalmente o cristianismo, dois peixes, um em cima do outro em sentido opostos. Cálculos mostram outrossim que a mudança equinocial de Áries (Carneiro) para Peixes ocorreu no ano 54 a.C. Essa conjunção tríplice foi excepcional, comprovada pelos computadores da NASA, dotados de um software especialmente criado para perscrutar como as estrelas e planetas se comportaram àquela época longínqua. A pesquisa mostrou os dois planetas muito próximos um ao outro, provavelmente menos de 0,5 graus e que, somados os brilhos, naturalmente chamou a atenção dos Magos. Não somente a constelação de Peixes e o brilho dos planetas, acrescente-se o significado de Júpiter, poder e Saturno, realeza. Como sabemos, a estirpe de Jesus era da casa de Davi. Não existe nos evangelhos uma data precisa para o nascimento de Jesus. A única referência sobre a “estrela de Belém” é do evangelho de Mateus escrito em aramaico e que não chegou até nós, pois se extraviou no ano 70 d. C. O certo é que na região em que Jesus nasceu o frio é intenso em dezembro, janeiro e fevereiro e, por conseguinte, imprópria para que os pastores permanecessem no campo com seus rebanhos. A data de 4 de dezembro deve ser, portanto, descartada e com isto a data de 1º de outubro ou próxima dela merece ser considerada. Como sabemos, impossibilitada de precisar a data, a Igreja para se impor aos adeptos do mitraismo, culto pagão a Mitras, o deus de luz dos persas e que era a mais popular festa romana pagã, colocou o Natal em 25 de dezembro substituindo assim as Saturnais comemorando o “Natalis Solis Invicti” – Nascimento do invencível deus Sol – por uma grande festa cristã. Alguns estudiosos acreditam que o nascimento ocorreu no dia 12 de novembro quando a constelação de Peixes estava sob o horizonte sudeste de Belém com Júpiter e Saturno em magnífica conjunção. A história nos diz que o reinado de Herodes, o Grande, na Judéia, estendeu-se entre os anos 37 a.C. até 4 a.C. como da sua morte em abril/maio. Isto coloca a conjunção tríplice nos últimos anos do seu reinado. Trata-se, pois, de um fenômeno celeste notável, de grande significado astronômico e místico para os Magos e que bem poderia representar uma peregrinação de Leste para Oeste. E que não eram reis e sim sacerdotes do zoroatrismo, sábios observadores do céu e muito conceituados entre os medas e persas. Foi um escritor inglês chamado Beda que em 673 os batizou de Gaspar, Melchior e Baltazar. A tradição da Igreja considera três por terem sido três os presentes dados ao recém-nascido: incenso, ouro e mirra, uma resina aromática. Note-se que as igrejas síria e armênia falam em doze. Sejam estas ou outras hipóteses, é praticamente impossível determinar com precisão a data de um fato ocorrido há mais de dois milênios. Seria um transtorno geral, ou mesmo universal, se tivéssemos de comemorar o Natal não em dezembro, mas em outra época conforme as pesquisas feitas. O importante é que um fenômeno astronômico extraordinário marcou indelevelmente a maior data da cristandade, tão relevante que dividiu a história em antes e depois de Cristo.


Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.