sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

COMEMORAÇÃO: DIA NACIONAL DA ASTRONOMIA (2 DE DEZEMBRO)


Nelson Travnik

No momento em que o Brasil esteve lembrando 125 anos do desenlace do Imperador D. Pedro II, ocorrido em 05/12/1891 em Paris, astrônomos de todo o país comemoraram, na sexta-feira, 2, o seu dia.
Tudo começou durante o 2º Encontro de Astronomia do Nordeste, celebrado em Recife/PE, de 30/6 a 3/7 de 1978 quando aprovamos por unanimidade a Moção apresentada pelo Dr. Marijeso A. Benevides, para que fosse considerado D. Pedro II (1825-1891), ‘Patrono da Astronomia Brasileira’. A partir dessa escolha, a efeméride ganhou força e a data de 2 de dezembro, dia do nascimento do Imperador, passou a celebrar o Dia Nacional da Astronomia, o Dia do Astrônomo.


Foram muitos. Astrônomos que o conheciam eram unânimes em reconhecer que ele conhecia a fundo a ciência do céu. Modernizou o Imperial Observatório do Rio de Janeiro criado por seu pai D. Pedro I, contratando astrônomos europeus de renome. Nele possuía um gabinete para estudos e repouso. Mantinha contato com grandes nomes da astronomia entre eles o francês Camille Flammarion (1842-1925) que o convidou para juntos inaugurarem seu Observatório de Juvisy em 29/07/1887. Era Sócio Honorário da Academia de Ciências de Paris como também da Sociedade Astronômica da França, SAF, sob Nº 85 – o primeiro brasileiro a figurar nessa famosa entidade. Outro grande brasileiro também sócio da SAF sob nº 2871 foi o Pai da Aviação e astrônomo amador, Alberto Santos-Dumont. Sua devoção a ciência do céu pode ser avaliada em sua residência, o Palácio de São Cristovão, hoje Museu Nacional onde no telhado instalou um observatório astronômico que recebia alunos para aprender observar o céu e usar os instrumentos. Na área da pesquisa, realizou inúmeras observações importantes dentre as quais efetuou junto com Luiz Cruls do Imperial Observatório, a primeira análise espectroscópica de um cometa. Também empreendeu observações  do eclipse solar de 1857. Sob forte oposição do Parlamento e até merecendo críticas e caricaturas na imprensa, concedeu as verbas necessárias aos astrônomos para instalar três missões científicas em Olinda/PE, Punta-Arenas, Patagônia chilena e na Ilha de S. Tomás, Antilhas, para observação da rara passagem de Vênus pelo disco solar em 06/12/1882 algo que somente iria se repetir em 08/06/2004. As observações foram um sucesso pois permitiram desenvolver cálculos precisos para determinar a distância Terra-Sol e com isso as demais distâncias dos outros planetas. Apoiando a pesquisa e as artes, incentivando o aperfeiçoamento na Europa, destaca-se nesse aspecto o compositor campinense Antonio Carlos Gomes, glória maior da arte operística das Américas. Mas nem tudo eram flores e várias vezes o Imperador teve que dispor de parte de seus proventos para contribuir naquilo que achava importante. De inicio, doou vários instrumentos ao Imperial Observatório, adquiriu uma luneta astrográfica para ser usada no programa internacional da Carta do Céu e por fim encomendou um grande telescópio na Inglaterra o qual, desgraçadamente, chegou ao Rio na ocasião da Proclamação da República e os republicanos não perderam tempo: mandaram o telescópio de volta a Inglaterra! Em 1890 já no exílio, D. Pedro II foi homenageado pelo astrônomo francês A. Charlois (1864-1910) que batizou com o nome ‘Brasília’ o asteróide numero 293 por ele descoberto no Observatório de Nice. “Modelo para todos os soberanos do mundo” assim o definiu o estadista inglês William Gladstone (1809-1898). Seus restos mortais repousam na catedral de Petrópolis/RJ, mas seu espírito certamente está em meio as estrelas que ele sempre amou.

Nelson Travnik é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum/SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.  

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

EDUCAÇÃO - INTERATIVIDADE: ESCOLAS UTILIZAM O RELÓGIO DE SOL PARA MOTIVAR ALUNOS

Nelson Travnik



Já são muitas as escolas que estão usando um instrumento milenar para enriquecer o estudo nas áreas de Ciências, História e Geografia. 
Os alunos aprendem a construir um relógio de Sol e com isso verificam a gama de conhecimentos que passam a adquirir como: orientação geográfica pelo Sol, dia solar e dia sideral, mecanismo das estações do ano, como obter a latitude local, nascer e por do Sol em diferentes épocas do ano, estabelecimento do calendário e a importância do uso nas navegações e até na determinação do limite territorial que dependia da determinação da hora. Os alunos aprendem que é fundamental conhecer o que é norte geográfico e norte magnético. 
O relógio de Sol ensina isso, pois para sua instalação é necessário conhecer o norte geográfico e não o magnético como indicado pela bússola. Por fim, construído o relógio, os alunos num dia ensolarado no pátio da escola, feito os ajustes finais, aprendem a orientar o relógio e entender as informações que foram prestadas pelo professor. Na cidade de Concórdia, SC, todas as escolas municipais a partir de 1996 passaram a contar com um relógio de Sol.
TRABALHO REQUER UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
O conhecimento da humanidade foi formado durante longos séculos e os relógios de Sol são parte dessa história. Portanto é necessário envolver os alunos em uma pesquisa bibliográfica.
 
 Desde a pré-história foram usados como simples estacas fincadas no chão. Contudo foi na Mesopotâmia que surgiu o relógio de Sol. Mais tarde foram desenvolvidos no Egito há cerca de 1500 a.C. Acredita-se que os obeliscos construídos naquele país há 3.500 a.C. tinham também a função  de marcar as horas. Como não era possível saber as horas em dias nublados, chuvosos e no interior das moradias, os gregos criaram um relógio de água e deram-lhe o nome de clipsidra. Os egípcios tiveram a idéia de substituir a água pela areia e criaram a ampulheta. Na Idade Média, a medida do tempo chegou a ser feita com alfinetes espetados em velas, em alturas previamente calculadas.

No Brasil o mais antigo relógio de Sol está numa parede na Igreja de S. Francisco Xavier, em Niterói, RJ, fundada pelo padre José de Anchieta em 1572. Existem relógios de Sol que fogem ao usual e chamam a atenção das pessoas. Um encontra-se na sepultura do Senhor Fenelon Ribeiro no Cemitério do Bonfim em Belo Horizonte, MG, datado de 1977. O outro também em uma sepultura, encontra-se no Cemitério Municipal de Matias Barbosa/MG, e foi construído pelo autor em 2011 para adornar o tumulo da família. Um outro, único no País, tem um canhão que dispara quando o astro-rei cruza o meridiano central da cidade de Piracicaba,SP. Foi construído também pelo autor e desde janeiro de 2016 está instalado no Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum constituindo uma grande atração durante as visitas escolares. Um outro, o maior do Brasil, é o de Brasília projetado por Oscar Niemeyer e instalado no Parque da Cidade. Para alguns, o mais bonito é aquele existente de várias faces na Praça N. Senhora da Conceição em Franca, SP, construído em mármore de carrara pelo frei Germano d’ Annecy em 1886 .

CONSTRUÇÃO
A construção de um relógio de Sol tem três partes : o ponteiro fixo chamado gnômon paralelo ao eixo de rotação da Terra; o mostrador ou mesa onde ficam o números que correspondem as 12 horas do dia e as linhas horárias. São de três tipos principais: o horizontal, o vertical e o equatorial. Este último, o mais fácil de construir é o preferido, pois utiliza somente um transferidor que possibilita marcar a latitude do local e não necessita cálculo para determinar os ângulos horários, pois todos eles tem 15 graus. O relógio de Sol marca o dia solar verdadeiro. Como ele se adianta, iguala ou se atrasa durante o ano, essa diferença é colocada em uma tabela chamada Equação do Tempo onde se obtém a hora certa marcada pelos relógios. Se os dois movimentos da Terra fossem regulares e se o seu eixo fosse perpendicular ao plano da eclíptica, os dias solares teriam sempre a mesma duração o que não acontece. Geralmente os relógios de Sol contém frases em latim ou do idioma do país. A mais comum é aquela: Tempus Fugit, Carpe diem; o Tempo passa, foge; aproveite o dia. Relógio de Sol: vetustas e silenciosas testemunhas de um tempo que já passou.

TRABALHO ENVOLVE FAMÍLIAS E INCENTIVA PARTICIPAR EM OLIMPÍADA E FEIRAS DE CIÊNCIAS
Além da satisfação, o projeto também envolve as famílias. Em casa os alunos motivados acabam por envolver os pais na seleção dos materiais necessários e a testar o relógio. O entusiasmo de alguns chega até a confeccionar um em material resistente para colocar no jardim da casa. Para os alunos que participam da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, OBAA, os conteúdos abordados nesse projeto envolvendo geografia física, matemática, desenho e história, possibilitam responder as questões que constam da prova final. As melhores notas vão desde as medalhas de bronze, prata e ouro. Ao final, os melhores alunos são selecionados e participam da Olimpíada Internacional que todos os anos é realizada em diferentes países. Além de constituir um excelente trabalho de classe, uma outra excelente opção é que, buscando informações sobre os diferentes modelos de relógios de Sol existentes no mundo, sintam-se motivados a construir um para apresentar nas Feiras de Ciências.
Na complementação do assunto nas escolas, é importante abordar a medição do tempo, desde a antiguidade aos relógios mecânicos e aos atuais onde a hora é gerada por relógios atômicos à base de césio, rubídio ou maser de hidrogênio com uma precisão impressionante: para atrasar um segundo são necessários 10.000 anos!

O autor é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

ASTRONOMIA - A TERRA SOB FOGO CRUZADO



Nelson Travnik

nelson-travnik@hotmail.com

Vagando pelo espaço existem objetos rochosos e/ou metálicos sem atmosfera que orbitam o Sol. São os asteroides que podem ser vistos como objetos individuais ou membros de uma população de corpos celestes.
Tudo começou após a criação do Sistema Solar. Um gigantesco bombardeio de objetos que não participaram da sua formação, passaram a colidir com os planetas e seus satélites. Essas marcas são visíveis até hoje. Na Terra há cicatrizes em todos os continentes. Em nosso País existem doze crateras de impacto sendo a mais exuberante a da Serra da Cangalha/TO, com 13 km de diâmetro.

Esta fase apocalíptica terminou mas não impossível de acontecer casos isolados. O caso de Chelyabinsk na Rússia em 15/02/13, concorreu para aumentar essa preocupação. O objeto de aproximadamente 40 toneladas de massa, não fosse fragmentado na alta atmosfera, teria destruído a cidade. Essa preocupação começou na verdade em julho de 1994 após a serie de impactos do cometa Shoemaker-Levy com o planeta Júpiter. O chamado “trem nuclear” fosse na Terra e o leitor não estaria lendo essas linhas. Para detectar asteróides que passam próximos à Terra, foi criado o programa internacional NEO’s , Near Earth Objects. Atualmente são descobertos 100 NEO’s por mês. Os asteróides capazes de realizar aproximações ameaçadoras à Terra são conhecidos por PHAs , Potentially Hazardous Asteroids. Os da família Apollo já conta com 5.202 asteróides conhecidos, alguns com potencial chance de impacto com a Terra. As descobertas de asteróides são catalogadas no “Minor Planet Center”, Cambridge, Massachusets,, EUA. Atualmente são mais de 70.000 com denominação definitiva, o que indica terem uma orbita bem definida. Astrônomos amadores em todo o mundo também colaboram no afã de detectar esses objetos intrusos. A observação é difícil porque são escuros refletindo apenas 3% a 5% da luz solar. Os metálicos mais raros refletem um pouco mais, de 10% a 15%. Com fraco poder de refletividade (albedo) muitos passam desapercebidos e quando detectados já estão sob nossas cabeças. O caso de Chelyabinsk é um exemplo disso. 

Ninguém o havia detectado. Em Itacuruba, Pe, o Observatório Nacional no projeto ‘Impacton’, instalou um telescópio de 1 m de diâmetro robotizado fabricado na Alemanha dedicado a busca de asteróides próximos à Terra. Nos últimos anos, agências espaciais dos EUA, Europa e Ásia, trabalham juntas no intuito de criar uma sistema de defesa real contra as ameaças de colisões desses astros com a Terra.

METEOROS

Meteoros popularmente conhecidos como estrelas cadentes, é o nome genérico dos fenômenos que ocorrem na atmosfera da Terra. São simplesmente pedaços de matéria que penetram na atmosfera e com o atrito com as moléculas de ar, se volatilizam deixando atrás de si um rastro luminoso. São muito conhecidas as chamadas chuvas de meteoros que ocorrem todos os meses e estão associadas aos cometas que, ao se aproximarem do Sol a temperatura deste faz com que o componente gelo misturado a poeira e detritos escapem de sua superfície e caiam na Terra ao passar esta no ponto de intersecção com suas orbitas. Esses meteoros produzem na atmosfera uma coloração que varia de conformidade com seus elementos químicos. O verde indica magnésio, o alaranjado ferro, o azul lilás cálcio e o amarelo sódio. A mais célebre chuva de meteoros da história foi a ‘Leonídea’ que ocorreu em 1833 quando foram vistos 150.000 por hora ! Existem no mundo vários órgãos monitorando esses objetos. No Brasil isto é feito pela rede BRAMON, Brazilian Meteor Observation e pela Estação EXOSS tendo como coordenador o astrônomo Marcelo de Cicco.

METEORITOS
Já o termo meteorito são os que conseguem vencer a atmosfera e atingem a superfície. 65% deles são compostos quase que exclusivamente de ferro e níquel, chamados sideritos. Outros 8% são os siderolitos, uma mescla de materiais rochosos e metálicos e por fim os aerólitos compostos 27% de materiais rochosos. No espaço esses objetos são conhecidos como meteoróides. Estimativas indicam que caem anualmente 500 meteoritos na Terra. O mais famoso no Brasil é o Bendegó com 5.360 quilos que acha-se exposto no Museu Nacional no Rio de Janeiro. Alguns deles são tão antigos ou mais  que o próprio Sistema Solar e seu estudo permite conhecer a matéria primitiva desses tempos longínquos. Acredita-se que grande parte da água na Terra assim como a matéria orgânica abiótica necessária a formação da vida (hidrocarbonetos) possam ter vindo nos cometas e meteoritos. Alguns meteoritos são raríssimos: vieram da Lua e de Marte. Foram ejetados desses astros por impactos de grandes corpos celestes e capturados pelo campo gravitacional da Terra. Os lunares são conhecidos pelos astrônomos como tectitos e tem uma coloração entre preto e esverdeado. Os mais famosos marcianos são o Black Beauty encontrado no Saara e o ALH84001 encontrado na Antártida, este último mostrando estruturas tubulares sugerindo fósseis de microorganismos. Por fim existem também os raríssimos hidrometeoritos.

. Em Campinas,SP, no dia 11/07/1997, uma pedra de gelo de 100/300 kg caiu no telhado da fábrica Mercedes Benz. Quatro dias depois, um outro bloco de 60/80 kg caiu no Sítio São Luiz a 2 km da vizinha cidade de Itapira. Felizmente 10 kg recolhidos em Campinas e alguns pedaços em Itapira foram imediatamente colocados em um freezer permitindo que análises químicas feitas na UNICAMP, no CENA em Piracicaba, na Divisão de Química da Petrobrás e até no Sandia National Laboratory dos EUA, provassem sua origem extraterrestre. Chamado a opinar como membro da comissão instituída pela UNICAMP, inclinei pela hipótese, face ao tamanho dos blocos, de serem pedaços de núcleo de cometa. Embora muito remota, por incrível que possa parecer, existem muitos registros de pessoas, casas, fábricas, automóveis e animais vítimas dessas balas do espaço. Em 1836, em Macau, RN, há relatos de vacas mortas atingidas por meteoritos. Em 28/06/1911 um cachorro foi atingido e morto em Nakla no Egito. Em 1954 no Alabama, EUA, uma senhora foi atingida na perna e um meteorito também nos EUA caiu na casa de John J. Mc Auliffe perfurando a laje. Em 1992 na cidade de Peekskill, EUA alguns carros foram atingidos por meteoritos e centenas de telhados perfurados.

Nelson Travnik é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba/SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

OBSERVATÓRIO PARTICIPARÁ DO ENCONTRO NACIONAL DE ASTRONOMIA

Imagem: http://apapb.org/19o_enast/

Tendo como palco a capital do Estado da Paraíba, João Pessoa, terá inicio neste sábado 12 estendendo-se até o dia 15, o 19º Encontro Nacional de Astronomia, ENAST, reunindo alguns dos maiores nomes desta ciência tanto aficionados como profissionais. O conclave também estará aberto a participação nas palestras e oficinas de estudantes, educadores e entusiastas. O Encontro está sendo organizado sob a responsabilidade da Universidade Federal da Paraíba, UFPB e da Associação Paraibana de Astronomia,APA, com o apoio da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, OBAA e do Centro de Apoio a Pesquisa, CAPES. Todas as atividades serão realizadas nas dependências do Centro de Ciências da Universidade. O Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum, órgão da Secretaria Municipal de Educação, estará sendo representado pelo astrônomo Nelson Travnik  que fará uma palestra sob o título : “Lua, nada mais a Pesquisar?”. Nela o astrônomo irá abordar as técnicas atuais que estão em andamento visando a detecção dos chamados ‘Fenômenos Transientes Lunares’ bem como dos impactos constantes de meteoróides na superfície lunar, impondo um monitoramento que está sendo solicitado pelas agencias espaciais dos Estados Unidos, Europa, Rússia e China visando a segurança das bases lunares que serão construídas por esses países.  Essas bases funcionarão como centros de pesquisa e apoio as missões tripuladas ao planeta Marte. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

EDUCAÇÃO - INTERATIVIDADE

Relógio de Sol
Fonte da imagem: Brasil Escola
ESCOLAS UTILIZAM O RELÓGIO DE SOL PARA MOTIVAR ALUNOS

                                                                             Nelson  Travnik
                                                                nelson-travnik@hotmail.com

Já são muitas as escolas que estão usando um instrumento milenar para enriquecer o estudo nas áreas de Ciências, História e Geografia. Os alunos aprendem a construir um relógio de Sol e com isso verificam a gama de conhecimentos que passam a adquirir como: orientação geográfica pelo Sol, dia solar e dia sideral, mecanismo das estações do ano, como obter a latitude local, nascer e por do Sol em diferentes épocas do ano, estabelecimento do calendário e a importância do uso nas navegações e até na determinação do limite territorial que dependia da determinação da hora. Os alunos aprendem que é fundamental conhecer o que é norte geográfico e norte magnético. O relógio de Sol ensina isso pois para sua instalação é necessário conhecer o norte geográfico e não o magnético como indicado pelo bussola. O conhecimento da humanidade foi formado durante longos séculos e os relógios de Sol são parte dessa história. Na cidade de Concórdia, SC, todas as escolas municipais a partir de 1996 passaram a contar com um relógio de Sol.
           Desde a pré-história foram usados como simples estacas fincadas no chão. Contudo foi na Mesopotâmia que surgiu o relógio de Sol. Mais tarde foram desenvolvidos no Egito há cerca de 1500 a.C. Acredita-se que os obeliscos construídos naquele  país há 3.500 a.C. tinham também a função  de marcar as horas. Como não era possível saber as horas em dias nublados, chuvosos e no interior das moradias, os gregos criaram um relógio de água e deram-lhe o nome de cleipsidra. Os egípcios tiveram a idéia de substituir a água pela areia e criaram a ampulheta. Na Idade Média, a medida do tempo chegou a ser feita com alfinetes espetados em velas, em alturas previamente calculadas.
           No Brasil o mais antigo relógio de Sol está numa parede na Igreja de S. Francisco Xavier, em Niterói, RJ, fundada pelo padre José de Anchieta em 1572. Existem relógios de Sol que fogem ao usual e chamam a atenção das pessoas. Um encontra-se na sepultura do Senhor Fenelon Ribeiro no Cemitério do Bonfim em Belo Horizonte, MG, datado de 1977. O outro também em uma sepultura, encontra-se no Cemitério Municipal de Matias Barbosa,MG, e foi construído pelo autor em 2011 para adornar  o tumulo da família. Um outro, único no País, tem um canhão que dispara quando o astro-rei cruza o meridiano central da cidade de Piracicaba,SP. Foi construído também pelo autor e desde janeiro de 2016 está instalado no Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum constituindo uma grande atração durante as visitas escolares. Um outro, o maior do Brasil , é o de Brasília projetado por Oscar Niemeyer e instalado no Parque da Cidade. Para alguns, o mais bonito é aquele existente de várias faces na Praça N. Senhora da Conceição em Franca, SP, construído em mármore de carrara  pelo frei Germano d’ Annecy em 1886 .
            A construção de um relógio de Sol tem três partes : o ponteiro fixo chamado gnomon paralelo ao eixo de rotação da Terra; o mostrador ou mesa onde ficam o números que correspondem as 12 horas do dia e as linhas horárias. São de três tipos principais : o horizontal, o vertical e o equatorial. Este último, o mais fácil de construir é o preferido pois utiliza somente um transferidor  que possibilita marcar a latitude do local  e não necessita cálculo para determinar os ângulos horários pois todos eles tem 15 graus. O relógio de Sol marca o dia solar verdadeiro. Como ele se adianta, iguala ou se atrasa durante o ano, essa diferença é colocada em uma tabela chamada Equação do Tempo onde se obtém a hora certa marcada pelos relógios. Se os dois movimentos da Terra fossem regulares e se o seu eixo fosse perpendicular ao plano da eclíptica, os dias solares teriam sempre a mesma duração o que não acontece. Geralmente os relógios de Sol contém frases em latim ou do idioma do país. A mais comum é aquela : Tempus Fugit, Carpe diem; o Tempo passa, foge; aproveite o dia. Relógio de Sol, vetustas e silenciosas testemunhas de um tempo que já passou.
           Na complementação do assunto nas escolas, é importante abordar a medição do tempo, desde a antiguidade aos relógios mecânicos e aos atuais onde a hora é gerada por relógios atômicos à base de césio, rubídio ou maser de hidrogênio com uma precisão impressionante : para atrasar um segundo são necessários 10.000 anos!


O autor é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

A VINGANÇA DE GIORDANO

Giordano Bruno
Imagem: nationalgeographic.com.es
                                                                                 Nelson  Travnik
                                                                                           nelson-travnik@hotmail.com

Recentemente o noticiário internacional destacou a descoberta de um exoplaneta na zona habitável orbitando a estrela Alpha Centauri C ou, simplesmente Próxima, nossa vizinha no espaço a “apenas” 4,22 anos-luz.
Alpha Centauri é uma estrela tripla : duas são muito brilhantes A e B e a terceira C é uma massiva anã vermelha apenas com diâmetro uma vez e meia maior que Júpiter. Com uma magnitude de +11.05 torna-se muito difícil de ser localizada. Estima-se que gasta alguns milhões de anos para completar uma volta em torno das suas companheiras A e B. Se a noticia provocou impacto nos leigos, para os astrônomos não causou nenhuma surpresa uma vez que em 3000 exoplanetas pesquisados, 68 são próximos ao tamanho da Terra e estão na zona habitável. Desde a descoberta do primeiro exoplaneta em 1990, seu número atual está próximo a 5000  e não para de crescer. Com isto já é aceito que a maioria das estrelas possuem planetas ao seu redor e, por analogia, também possuirão satélites, asteróides e cometas. Esse raciocínio leva-nos a conclusão que pode haver civilizações lá fora que já chegaram a um estágio de desenvolvimento suficiente para emitir ondas de rádio. Assim sendo, já é aceito que nos próximos 25 anos através das gigantescas antenas dos nossos radiotelescópios chegará a tão aguarda mensagem: também estamos aqui !

SOMOS  POEIRA  DE  ESTRELAS
Os cientistas concordam que somos subproduto de água, terra, luz e outros elementos gerados no interior de uma estrela: o Sol. Dez por cento do peso médio do corpo humano é composto por átomos de hidrogênio. Todo o resto é de elementos mais pesados que o hélio, justamente aqueles produzidos dentro das estrelas. A descoberta de diversas moléculas orgânicas no meio interestelar, gelo e carbono nos cometas e astros assemelhados, reforça a idéia de que o universo é um celeiro de vida. A nucleosíntese primordial e a nucleosíntese estelar produziram elementos que fazem parte dos nossos corpos. Sim, somos feitos de poeira de estrelas!


O  RENASCER  DE  UMA  IDEIA  ANTIGA
A possibilidade de existir outros mundos com formas de vida é antiga e na Grécia já se pensava nisso. A Escola de Epícuro (341 -271) ensinava que não havia nenhum obstáculo para haver infinito número de mundos parecidos com o nosso. O poeta romano Titus Lucretio (97 -55) defendia igual pensamento. No século XV o cardeal Nikolaus de Cusa sustentava  a pluralidade dos mundos habitados com anuência do Papa Eugênio IV. Com a reformulação do sistema heliocêntrico por Nicolau Copérnico (1473-1543), endossada a seguir por Galileu Galilei (1564-1642) e Johannes Kepler (1572-1630), o fato atingiu em cheio as “verdades” impostas pela Igreja. Destronar a Terra do centro do sistema solar, do universo, da criação, indo de encontro aos doutores da Igreja era inadmissível, uma heresia. O curioso é que já muito antes de Copérnico, o astrônomo grego Aristarco de Samos (310 -230)  demonstrava que a Terra e os outros planetas giravam ao redor do Sol e que o movimento das estrelas à noite era aparente, causado pela rotação da Terra. Copérnico salvou-se da Inquisição pois seu livro propondo o heliocentrismo só lhe chegou ás mãos no leito de morte. Galileu contudo não teve a mesma sorte e teve que se retratar perante o Tribunal da Santa Inquisição para  escapar da fogueira. A pena foi abrandada para prisão domiciliar em Arcetri, próximo a Florença. Foi necessário dois séculos para que a Igreja admitisse oficialmente em 1822 que a Terra girava ao redor do Sol.

GIORDANO  BRUNO ,  MÁRTIR  DA  CIÊNCIA
Um destino trágico contudo estava reservado a Giordano Bruno (1548-1600). Fascinado pela imensidão do universo que os astrônomos de sua época estavam revelando contrapondo ao universo fechado pela filosofia aristotélica defendida pela Igreja, ele opôs um universo infinito. Defensor da teoria heliocêntrica de Aristarco e Copérnico, ele chegou a admitir também a existência de outros mundos.  Em seu livro “De l’ Infinito, Universo e Mondi”, Acerca do Infinito, Universo e Mundos, ele escreveu : “há incontáveis terras orbitando em volta de seus sóis da mesma maneira que os seis planetas do nosso sistema”. Para a Igreja isso soou inadmissível pois era ir de encontro ao que ela defendia. Ademais, se existiam infinitos mundos, muitos deles habitados, como seria a “salvação” dos seus habitantes ? Uma réplica do que ocorreu aqui?  Giordano Bruno com a coragem dos heróis, enfrentou com altivez o Tribunal da Santa Inquisição não se retratando de suas convicções e o que ditava sua consciência.  Foi acusado de ser inimigo de todas as religiões, crer na existência de outros mundos e na infinidade do universo. Sofreu um processo que durou sete anos e no dia 9 de fevereiro de 1600, condenado por sua “heresia”, foi queimado vivo no Campo di Fiori em Roma tendo exclamado antes do suplício : “Minha alma subirá ao Paraíso junto com a fumaça do meu corpo”. Giordano Bruno, espírito renovador, alma límpida, apóstolo da ciência do céu, não se deixou intimidar pelas ameaças vindas de uma Igreja fechada as novas idéias do movimento renascentista e corroída por escândalos e dogmas que feriam a razão. Passados 416 anos, desde 1990 a astronomia nos vem revelando a pluralidade dos mundos em  nossa galáxia  comprovando Giordano Bruno e que a fé nunca pode estar divorciada dos conhecimentos científicos.
O autor é astrônomo no Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França. 

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

NOVO TELESCÓPIO AMPLIA VISÃO DO UNIVERSO

Terminou a fase de testes e agora a partir deste mês, o Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum, OAPES, órgão da Secretaria Municipal de Educação, SME, passa a contar com um novo telescópio destinado a oferecer a seus visitantes mais uma opção para observação dos astros. O novo instrumento de 11 polegadas, completamente automatizado, é americano da renomada marca Celestron.

A outra novidade do OAPES,
É o término de uma plataforma de observação, construída pela SME. O novo espaço reservado ao “Grupo dos Amigos do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum” poderá acomodar a instalação de até cinco telescópios que serão utilizados pelo Grupo para seus trabalhos e também para reforçar o atendimento público aos sábados. Foram desenhadas cinco Rosas dos Ventos para o posicionamento preciso dos instrumentos bem como embelezamento do local.

domingo, 4 de setembro de 2016

OBSERVATÓRIO FARÁ CURSO DE ASTRONOMIA

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SME

OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO DE PIRACICABA ELIAS SALUM – OAPES

Informação  a  imprensa

OBSERVATÓRIO  FARÁ  CURSO  DE  ASTRONOMIA

Como acontece anualmente, o Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum, OAPES, órgão da Secretaria Municipal de Educação, SME, estará realizando no próximo dia 10 o inicio de mais um “Curso de Introdução a Astronomia”, endereçado as pessoas interessadas acima de 14 anos. Estão sendo oferecidas 30 vagas e as inscrições serão feitas pessoalmente das 16 ás 17 horas no dia da abertura do curso. O curso é gratuito e será realizado no auditorium do Observatório, em cinco aulas , aos sábados, das 17 ás 19 horas. Ao final será emitido um Certificado de Participação para quem o desejar. As aulas será de ordem prática, teórica, observacional e utilizando modelos pedagógicos. Os objetivos principais visam a plena compreensão do mundo que vivemos  conhecendo o universo que nos envolve; o nascimento e expansão do universo; nascimento, vida e morte das estrelas; os grandes luminares da astronomia e ciência espacial; nossa estrela, o Sol; sistema solar e os vários tipos de instrumentos. O curso será ministrado pelo astrônomo Nelson Travnik do Observatório. O OAPES fica situado no km 3 da rodovia Fausto Santomauro que liga Piracicaba a Rio Claro.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

ETA CARINAE, A MORTE ANUNCIADA DE UMA ESTRELA


A nuvem de gás e poeira que envolve o sistema binário de Eta Carina dificulta a visão, mas com os dados do Fuse foi possível identificar os sinais espectrais de duas estrelas separadas
                                                                                   Nelson Travnik
                                                                        nelson-travnik@hotmail.com


Eta Carinae, como diz o nome, situa-se na constelação da Carina e é parte da constelação do Navio, Argus, que o astrônomo francês Nicholas L. de La Caille (1713-1762) subdividiu em três constelações menores: Carina, Quilha; Popa, Puppis e Vela, Vela. Eta Carinae é um dos astros mais intrigantes já vistos no firmamento. Um mistério que aos poucos vai sendo desvendado.

Com brilho equivalente a 5 milhões de sóis, é a maior, a mais luminosa e a que emite mais energia na galáxia. O que mais intrigava os astrônomos é que a massa da estrela contrariava o chamado Limite de Eddington, proposta pelo astrofísico inglês Arthur Stanley Eddington (1882-1944) no qual estabelecendo o limite para uma estrela massiva de até 160 sóis, a gigante Eta Carinae não deveria existir pelo fato de que, em essência, a pressão da radiação não deve exceder a gravidade. Em 1826 a curiosidade em torno de Eta Carinae começou quando o naturalista inglês William J. Burschell observando-a de São Paulo, notou que a estrela classificada como de magnitude 4 brilhava como uma de magnitude 2. A atenção dos astrônomos aumentou quando o estudioso de Eta Carinae, Kris Davidson, estimou que a explosão dessa estrela em 1843 havia lançado ao espaço uma quantidade de matéria equivalente a duas massas solares. O enigma aumentou ainda mais quando em 1850, com nova explosão, ela atingiu o brilho de Sirius, a estrela mais brilhante do céu. Nessa explosão alguns astrônomos calcularam que Eta Carinae se livrou de uma só tacada, algo ao redor de 10 estrelas como o nosso Sol. Depois dessa ‘explosão’ de brilho, ela desapareceu dentro de um casulo de gás e poeira como a vemos hoje estimado em 9 anos-luz ou, 7,1 trilhões de quilômetros e que é conhecida como Nebulosa Eta Carinae ou NGC 3372. Com isso ela não pode ser vista diretamente porque sua luz espalhada pelo casulo denominado Homúnculo, forma uma borrão impenetrável aos instrumentos. Pesquisas recentes mostram que o gás e poeira à sua volta está se dissipando e ela talvez possa ser vista novamente no próximo século.

DECIFRANDO  O  ENIGMA
Eta Carinae está situada a 7.500 anos-luz e foi catalogada pela primeira vez em 1677 pelo astrônomo inglês Edmond Halley (1656-1742). Seu tamanho gigantesco atualmente calculado em 126 massas solares, é raríssimo, contrariava o Limite de Eddington e não explicava os grandes saltos de brilho. Isso foi solucionado pelo astrofísico brasileiro Augusto Damineli do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas do IAG,USP, estudando o estranho comportamento da estrela. Uma hipótese apresentada por ele em 1977, sugeria que Eta Carinae era uma estrela dupla numa órbita excêntrica quando elas na aproximação máxima (periastro) estariam separadas  por menos de 200 milhões de quilômetros, distância relativamente pequena, pouco mais da distância da Terra ao Sol. Isto resolvia as restrições impostas pelo Limite de Eddington ao dividir a massa mas restava  a explicação para os saltos e diminuição do brilho. Damineli estimou o período da órbita em 5,53 anos ou, 2020 dias e que havia uma queda de brilho chamado ‘apagão’ quando uma estrela passava à frente da outra com relação a linha de visão que liga a Terra a Eta Carinae e isto provocava outrossim uma súbita queda na emissão de raios X. Contudo era necessário a comprovação da hipótese, da parceria de Eta Carinae A e Eta Carinae B e essa veio através do satélite Fuse , sigla em inglês de “Explorador Espectroscópico do Ultravioleta Distante” da NASA. As medidas no ultravioleta permitiram identificar a presença de Eta Carinae B, comprovando também que a estrela no periastro entra dentro do vento estelar de Eta Carinae A. Vento estelar são chuvas de partículas altamente energéticas  produzidas e ejetadas pelas estrelas. O fenômeno conhecido como ‘apagão’ ocorre portanto quando a componente B com massa calculada de 36 vezes a do Sol e mais quente, penetra no periastro no vento estelar  da principal A com 90 massas solares, maior e mais fria. O resultado é uma espécie de eclipse estelar de alta energia que faz com que certas faixas do espectro eletromagnético em especial os raios X, sejam bloqueados. Para monitorar o comportamento de ambas estrelas, o astrônomo amador de Campinas,SP, Rogério Marcon, através de um espectroscópio por ele construído, está empenhado na imagem diária do sistema que irá possibilitar flagrar o inicio, o meio e o fim do ‘apagão’.


MORTE  ANUNCIADA
Resta saber quando irá ocorrer a terceira que poderá ser a última explosão. Há 7.500 anos-luz ela já poderá ter ocorrido e portanto está a caminho um tsunami cósmico. Pesquisas mostram que Eta Carinae é um barril de pólvora estelar com o pavio quase no fim. A teoria que conhecemos da evolução estelar nos mostra que o final da vida de uma estrela de grande massa é curta cujo final é a transformação em uma supernova. Explosões dessas estrelas são freqüentes e registradas em outras galáxias a muitos milhões, bilhões de anos-luz. O caso contudo de Eta Carinae face ao seu gigantismo será ainda maior, uma hipernova. Por uma fração de segundo, estrelas hipernovas emitem tanta luz como a galáxia inteira! No caso de Eta Carinae, em sua explosão final – quando o combustível nuclear não bastar para fornecer energia capaz de suportar a contração gravitacional – será o espetáculo mais grandioso da história da nossa galáxia. Nosso céu será inundado por uma luz tão forte que fará a noite virar dia durante um mês ! Para nós do hemisfério sul, isso acontecerá nas estações do outono e inverno.  Essa explosão irá significar que a energia liberada – a terrível radiação gama – será trilhões de vezes mais intensa. Mesmo distante 7.500 anos-luz, essa radiação direcionada à Terra, varrerá toda a vida do planeta. Um funeral luminoso e segundo alguns pesquisadores uma dessas explosões pode ter atingido a Terra no final do período Ordoviciano, há 450 milhões de anos e que tenha conseguido exterminar mais de 80% de todas as espécies viventes aquela época. Contudo para nossa felicidade, o grupo do astrônomo Kris Davidson descobriu recentemente que o eixo de rotação de Eta Carinae A não está em nossa direção e assim como os raios gama saem em feixe estreito na direção do eixo de rotação, ufa ! estamos salvos !

Nelson Travnik é astrônomo em Campinas, SP e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.c
  


sábado, 21 de maio de 2016

UMA VIAGEM AO CRUZEIRO DO SUL

UMA CONSTELAÇÃO COM MUITAS HISTÓRIAS


Cruzeiro do Sul
Imagem: Mundo Educação


Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com

Com apenas 68 graus quadrados, ela é a menor de todas as constelações, mas uma das mais célebres que domina as noites de outono.

Até agora os historiadores não chegaram a um acordo de quem a viu pela primeira vez. Sabe-se que era vista pelos habitantes do Alto Egito (Tebas) há milênios. As principais estrelas estão catalogadas no Almagesto de Claudio Ptolomeu (85 -165 a.C.) na constelação do Centauro. Muitos navegadores a viram mas não a batizaram como Cruzeiro. É o caso dos navegadores portugueses João de Lisboa e Pero Anes que em 1506 fizeram observações do Cruzeiro em Cochim, na latitude de 10 graus. A designação tornou-se universal pelo astrônomo Johannes Bayer (1572-1625) em sua célebre obra Uranometria, atlas celeste publicado em 1603 e autor do primeiro mapa das novas constelações situadas ao redor do pólo sul celeste. Mais tarde em 1679, viu-se classificada como tal pelo astrônomo Agostinho Royer. Para alguns, foi o famoso Mestre João, astrônomo e médico da comitiva de Pedro Álvares Cabral que a viu e registrou pela primeira vez em carta enviada ao rei de Portugal Dom Manuel em 1500. Nela consta “(...) estas estrelas principalmente as da Cruz, são grandes quase como as do Carro (a Ursa Maior) (...)”.

PRINCIPAIS ESTRELAS DA CONSTELAÇÃO


A constelação do Cruzeiro do Sul, conhecida entre os astrônomos de todo o mundo por “Crux Australis”, possui estrelas notáveis pelo brilho de suas componentes e é facilmente identificável nesta época do ano. A estrela mais brilhante Alfa Crucis ou Acrux, popularmente conhecida como Estrela de Magalhães, é uma belíssima estrela azul que é tripla, distante 200 anos-luz e que representa o Estado de São Paulo no pavilhão nacional. A segunda mais brilhante é Beta Crucis ou, Becrux também conhecida como Mimosa e que representa o Estado do Rio de Janeiro. Ela é 5800 vezes mais luminosa que o Sol! Próximo a ela existe uma estrela de fraca luminosidade, a Kappa Crucis onde situa-se um dos mais belos aglomerados abertos de estrelas chamado por J. Herschel de “Caixa de Jóias” formado por estrelas de diferentes cores e que se encontra a 7000 anos-luz! Retornando as estrelas do Cruzeiro, a terceira mais brilhante é Gama Crucis ou Gacrux que é uma gigante vermelha, dupla, conhecida como Rubídea e que representa o Estado da Bahia. É cerca de 900 vezes mais luminosa que o Sol e distante 500 anos-luz. A seguir vemos a estrela Delta Crucis, conhecida como Pálida. É também uma estrela gigante, 1900 vezes mais luminosa que o Sol e que representa o Estado de Minas Gerais em nosso pendão. Um dos aspectos que desperta atenção nessa constelação, é uma imensa região escura conhecida como “Saco de Carvão”. Em noites limpas, sem luar e isenta da iluminação das cidades, pode-se notar uma ausência quase total de estrelas entre Mimosa e a estrela de Magalhães. Isto se explica porque naquela região há uma colossal nuvem de gás interestelar que impossibilita a passagem de luz das estrelas de fundo.

O Cruzeiro do Sul está indelevelmente ligado ao descobrimento do Brasil e é detentor de uma tradição histórica, poética e religiosa. Nós brasileiros fizemos dele patrimônio nacional.

O autor é astrônomo do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum/SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.


NOVA DENOMINAÇÃO DO OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO DE PIRACICABA

OAP Elias Salum
Às instituições astronômicas, clubes e associações da Astronomia,
 Através do Projeto de Lei nº 235/15, a Câmara de Vereadores de Piracicaba/SP, atendendo solicitação do astrônomo Nelson Travnik, com endosso da Secretaria Municipal de Educação, aprovou com justificativa do vereador Laercio Trevisan, a alteração do nome do Observatório para: Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum. O homenageado nasceu em 20/08/1929 e faleceu em 16/08/2015. Fundador do Observatório e da Associação dos Astrônomos Amadores de Piracicaba, era professor universitário, escritor, rádio amador e detentor de inúmeras medalhas de mérito e condecorações.
No Observatório também se acham homenageadas as seguintes personalidades:

Rubens de Azevedo (1921-2008): astrônomo amador, escritor, jornalista, artista plástico e poeta.
Homenagem: Pavilhão de Observações Rubens de Azevedo
Sergio Menge de Freitas (1932-1998): astrônomo da UFRJ – Observatório do Valongo, astrônomo do Planetário da Cidade do Rio de Janeiro,  pianista e  escritor.
Homenagem: Biblioteca Sergio Menge de Freitas

Rodolpho Caniato (1929 -   ): físico, astrônomo, escritor, prof. Universitário, cantor lírico.
Homenagem: Auditorium Rodolpho Caniato

João Octavio Nebias: comerciante, astrônomo amador, fundador do Observatório Astronômico Bandeirante, São Paulo/SP, em 23/02/1956.

Homenagem: Refrator Steinheil 175/2625mm, João Octavio Nebias

quinta-feira, 21 de abril de 2016

ESPETÁCULO NO CÉU: MERCÚRIO FICARÁ ALINHADO ENTRE A TERRA E O SOL


Nelson Travnik*

O fenômeno denominado trânsito será visto integralmente no Brasil na segunda-feira dia 9 de maio. Não será visível a olho nu dado o pequeno tamanho do planeta que aparece sobre o Sol com um diâmetro de apenas 1/150 do diâmetro solar. O próximo trânsito somente ocorrerá em 11/11/2019. O primeiro a predizer o trânsito de Mercúrio foi o astrônomo alemão Johannes Kepler que o anunciou para o dia 7/11/1631 e foi observado por Pierre Gassendi. Antes disso não há nenhuma referência a observação de Mercúrio pelo disco solar, pois ele só é visível através do telescópio que somente foi introduzido por Galileu em 1610. No passado vários astrônomos entre os quais Newcomb e Le Verrier, descobriram anomalias no periélio de Mercúrio que fugiam a lei da gravitação de I. Newton. Para explicar isso, chegou-se até a possibilidade da existência de um planeta entre o Sol e Mercúrio que até recebeu um nome: Vulcano. O chamado avanço do periélio de Mercúrio só foi solucionado pelo alemão A. Einstein em sua Teoria da Relatividade.





Há de 13 a 14 trânsitos em um século com intervalos irregulares que podem ser de três, sete, dez e treze anos. Se Mercúrio e a Terra orbitassem o Sol num mesmo plano, o planeta passaria sobre o disco solar a cada conjunção inferior ou seja: três vezes por ano em média. Isso não acontece porque a orbita de Mercúrio é levemente inclinada de 7° 00” em relação a eclíptica. A condição necessária para que ocorra um trânsito é similar a necessária para um eclipse solar ou lunar isto é, a Terra deve estar próxima a linha dos nodos da órbita do planeta. Como os nodos do planeta estão nas latitudes 227° e 47° e são cruzados pela Terra próximo aos dias 7 de maio e 9 de novembro, os trânsitos somente podem ocorrer próximos a esses dias. A diferença principal é que nos trânsitos de maio, Mercúrio está mais próximo da Terra e seu semi-diâmetro é um pouco maior que os trânsitos de novembro. Devido a excentricidade da órbita do planeta, a mais forte do sistema solar, 0,205,  os trânsitos de novembro são duas vezes mais numerosos que os de maio. A velocidade de Mercúrio no periélio é de 59 km/s, bem mais rápida do que no afélio, 39 km/s. No trânsito deste ano, Mercúrio estará a uma distância de 83.511.000 km da Terra e terá um diâmetro aparente de 12.1” .

OBSERVAÇÃO
O trânsito deste ano terá duração de 7,5 horas, maior, portanto, que os de 2003 e 2006. Além da observação visual, a fotografia e a filmagem é a melhor forma de cronometrar as fases do fenômeno. O emprego também de imagens em H-Alpha será muito interessante. Os instantes principais para o trânsito do próximo dia 9 são os seguintes:

Circunstâncias do Trânsito de Mercúrio pelo disco solar em 09 de maio de 2016
Evento
Hora
Descrição
1º contato externo
08:12
Momento em que o disco do planeta toca externamente o bordo do Sol.
2º contato interno
08:15
Momento em que o disco do planeta já passou pelo bordo do Sol
Instante Máximo
11:57
Meio do trânsito.
3º contato interno
15:39
Momento em que o disco do planeta toca o bordo  do Sol internamente
4º contato externo
15:42
Momento em que todo o disco do planeta cruza pelo bordo do Sol


 

A precisão em segundos dos contatos depende naturalmente da posição do observador no País. Os primeiro e quarto contatos são muito difíceis de se determinar por observação visual. Já nos segundo e quarto contatos, embora haja bom contraste entre o planeta e o fundo (fotosfera), a tomada dos tempos se torna imprecisa devido ao efeito “Black Drop”. É um efeito fisiológico que persiste sempre após a entrada ou antes da saída do planeta do disco solar. Nos trânsitos é possível ainda calcular o diâmetro do planeta a partir da medição exata do tempo que transcorre entre a entrada e a saída do disco solar.

REFERÊNCIAS:
Anuário Astronômico Catarinense, 2016, A. Amorim, Membro da SAF,REA,AAVSO,NEOA
Astronomie Populaire, Camille Flammarion
Observatório Astronômico Flammarion/MG, trânsitos de 1960,1970 e 1973, N. Travnik
Observatório Astronômico Anwar Damha/SP, trânsito de 2003, N. Travnik
L’ Astronomie, avril 2016, Société Astronomique de France /SAF

*Diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba/SP e Membro Titular
da Sociedade Astronômica da França, SAF.