sábado, 29 de dezembro de 2018

FOGUETES ARTESANAIS

Imagem: Secretaria Municipal de Educação

O lançamento faz parte da programação de hoje do Observatório Astronômico

 

 O Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum (Oapes), órgão da Secretaria Municipal de Educação, estará aberto à visitação pública neste sábado, encerrando as atividades do ano, A visitação terá início às 17h30 com observações solares, demonstrações junto ao relógios de Sol e até lançamento de foguetes artesanais que constituem uma grande atração principalmente para as crianças. A partir das 20h terão início as observações aos telescópios com destaque para as belezas das comstelações de Órion e de Touro.

Segundo Nelson Travnik, responsável pelo Oapes, 2019 ae inicia com um Eclipse Total da Lua no dia 20-21 de janeiro, visível no Brasil com início as 23h36 e terminando as 4h48. A totalidade começa as 1h41 e o fim às 2h43, com duração de 62 minutos. No dia 2 de julho irá ocorrer um Eclipse Total do Sol com visibilidade apenas para Argentina e Chile. Em Piracicaba será visto apenas como parcial com 38% do disco solar encoberto pelo disco lunar. Enquanto nesse dia o Oapes ficará aberto para observação pública, um astrônomo deverá se deslocar para a cidade escolhida de La Serena, no Chile, para observações científicas. Interessante notar que em 14/12/2020 outro Eclipse Total do Sol também irá ocorrer na Argentina e no Chile. No dia 16 também de julho estará  ocorrendo um Eclipse Parcial da Lua com algumas partes visíveis no Brasil. No dia 11 de novembro teremos uma rara passagem do planeta Mercúrio na frente do disco Solar e que será visível no Brasil. O próximo depois só em 13/11/2032.

2019 - Um ano de evento

Em 20/12/2017, a ONU proclamou 2019  como o "Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos", em homenagem aos 150 anos da descoberta de um sistema periódico de elementos químicos por Dmitri Mendeleev.

No Brasil, o evento de maior expressão e que atrairá as atenções de todo o mundo, está reservado para o dia 29 de maio. Há 100 anos dessa data, na cidade de Sobral - CE, num Eclipse Total do Sol, com visibilidade plena, foi comprovado a distorção do espaço-tempo na presença de um forte campo gravitacional, pela Teoria da Relatividade Geral do alemão Albert Einsten (1879-1955). Mais tarde em visita ao Brasil ele diria: "O problema concebido pelo meu cérebro, incumbiu-se para resolvê-lo o luminoso céu do Brasil". Celebrando o ano dessa importante efeméride, o 22º Encontro Nacional de Astronomia (Enast) será realizado em Sobral, do dia 4 a 18 de novembro.


Saiba mais

Estão programados três cursos  de astronomia, que serão abertos a população com idade mínima  de 14 anos. As inscrições podem ser feitas até o dia 5 de fevereiro. Também estão programadas palestras de astrônomos convidados. As datas ainda não foram divulgadas.   

Fonte: Gazeta de Piracicaba, 29/12/2018 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

ESPAÇO, TEMPO, VIDA: Ano que foi, ano que vem

 
Imagem: wikipedia

Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
Pelo Calendário Gregoriano que adotamos, estamos adentrando em 2019 muito embora uma pesquisa histórica, indique que, na realidade, iremos ingressar o ano novo de 2025 ou 2026. Mais recentemente, abordando o assunto, no seu livro “A Infância de Jesus”, o papa Bento XVI diz que Maria deu a luz entre 7 e 6 a.C. Seja um ou outro, o fato é que neste 1º de janeiro iniciamos mais uma jornada ao redor do Sol. Nesses 365 dias, nosso planeta irá percorrer 942,4 milhões de quilômetros algo que, em linha reta, nos levaria além do planeta Júpiter. Isso permite algumas reflexões sobre espaço, tempo e vida.
No mundo atual, como estranhos em seu próprio habitat, multidões não se interessam em saber afinal o que são, onde estão, para onde vão e seu destino final. A maioria vive porque respiram e se contentam com o preconizado pelas religiões, sem questionar o que lhe é imposto pelos livros sagrados. Advindo qualquer infortúnio, é a vontade de Deus. É mais cômodo viver assim. Infelizmente não se dão conta que estão entorpecidos pelo sistema que as transforma em máquinas de consumismo como símbolo da felicidade. Um sistema inserido na sociedade que as utiliza e descarta como objetos. Seu dia-a-dia é preenchido pela chupeta eletrônica e por infindáveis conquistas tecnológicas que todavia a prende a um emaranhado de dúvidas sobre sua própria existência. O ser humano tão complexo é desconhecido por ele próprio, vive a Era Espacial de grandes realizações científicas mas ainda não aprendeu a encontrar a grandeza de sua pequenez e da sua estupidez.
Continuamos a ser um enigma, uma gota num oceano de incertezas que por um instante aparece e dissipa como bolhas de sabão que as crianças fazem flutuar no ar. Poucos são cônscios de que a sabedoria do ser humano não está no quanto ele sabe, mas no quanto ele tem consciência de que não sabe. É preciso portanto ter humildade para compreender o mundo insondável da psique humana; que somos ínfima partícula na vastidão cósmica e que o universo estará ignorando quando o Sol, nosso habitat e os demais planetas um dia desaparecer sem testemunha do último gemido. Pura ilusão é pois achar que somos o ápice da civilização. Os egípcios, os romanos, só para ficar nesses dois exemplos, cultuavam o mesmo pensamento. O que sobrou dessas civilizações? Ruínas, pedras e pó. No universo, nascimento e morte estão sempre de mãos dadas. Quando nascemos estamos programados para morrer. Tudo que é belo um dia morre. Não sentimos o perfume das flores que já morreram.
Somos apenas uma espécie transitória, viajantes em uma jornada cósmica, dentro de uma cápsula do tempo, girando e dançando nos torvelinhos e redemoinhos de um universo infinito. O céu nos envolve por todos os lados e a luz de miríades de estrelas que contemplamos, é um monumental concerto cósmico que aconteceu há dezenas, milhares ou milhões de anos. A observação do céu é, por conseguinte, uma experiência de transformação e ampliação da consciência, uma grande elevação espiritual que proporciona uma imensa satisfação íntima e nos ensina que na história da Criação, cem milhões de anos passam como um dia; apagam-se e dissipam-se como fugitivo sonho no seio da eternidade que todo absorve. Mais do que uma mera propriedade lógica de certos enunciados, o conhecimento do cosmos é um poema da vida, um poder espiritual que aprofunda e transforma a visão de nós mesmos. Através da lei universal de ação e reação, causa e efeito, há o equilíbrio do Universo.
Nesse raciocínio e contemplação retrospectiva, surge uma inevitável questão de cunho filosófico : qual é o destino final de todos os seres inteligentes que existiram, existem e vão existir nesse planeta? Somos apenas um cérebro sofisticado que tomba numa sepultura para não ser mais nada? Apenas feitos do pó das estrelas ? Nada sobrevive além disso ? Tema de uma milenar discussão, não cabe nesse artigo enveredar por essa questão pois somos engrenagens microscópicas de um mecanismo desconhecido.
Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

domingo, 2 de dezembro de 2018

A BANDEIRA DA REPÚBLICA

ASTRÔNOMOS NÃO FORAM CONSULTADOS
Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
A Bandeira do Brasil é uma das mais belas e sugestivas do mundo e também a única que representa grande parte do firmamento que envolve a Terra. Contudo contém erros grosseiros de astronomia.
Há exatos 129 anos, com a deposição de D. Pedro II, era proclamada a República Federativa do Brasil, então nação considerada de 1º mundo com uma forte economia. Naturalmente a Bandeira do Império introduzida em 1822, teria que ser substituída por outra. A nova Bandeira foi estabelecida pelo Decreto nº 4 de 19/11/1889, mantendo a tradição das antigas cores nacionais e inserindo um céu de puríssimo azul. É a mais bela e completa ilustração já imaginada para uma bandeira nacional, única no mundo que corresponde a uma visão da esfera celeste, inclinada segundo a latitude do Rio de Janeiro, local da Proclamação, às 08h30 do dia 15/11/1889. 






CÉU ÀS AVESSAS

Uma consulta a uma simples carta do céu, mostra que o céu da Bandeira está às avessas. A posição das estrelas não coincide em suas posições e magnitudes aparentes. O erro mais grosseiro é a posição do Cruzeiro do Sul. A posição da estrela épsilon conhecida como ‘intrometida’ e que representa o Estado do Espírito Santo está invertida bem como a constelação do Escorpião. A reação não se fez esperar e na época Eurico de Góis declarou que os que trabalharam na elaboração da Bandeira não interpretaram convenientemente o Decreto nº 4 que exigia que as estrelas fossem dispostas na sua situação astronômica quanto a posição, distância e tamanho relativo. Os legisladores procuraram na ocasião apresentar uma justificativa para amenizar e convencer os leigos que aquele céu visto às 08h30 do dia 15 de novembro estaria refletido na Baia da Guanabara, portanto em pleno dia! Outros argumentaram que era o céu visto fora da Terra sobre o Brasil. A questão foi debatida nos jornais, na tribuna do congresso e até o povo foi instado a opinar. Mas logo tudo ficou esquecido. Mais tarde, a Lei nº 5443 de 28/05/1968 surgiu para justificar o erro, mas nada foi feito. Não só o céu, mas também há erros quanto a faixa com os dizeres ‘Ordem e Progresso’ que alguns afirmam ser o Equador Celeste e outros a Eclíptica (faixa zodiacal onde se deslocam o Sol, os planetas e asteróides do cinturão). Do jeito que está não pode ser nem uma nem outra. Todos os erros astronômicos constam de dois livros: “A Bandeira Nacional” de Eduardo Prado publicado em 1903 e depois pelo IBGE e “A Bandeira Nacional” de Rubens de Azevedo publicado em 1988 pela Edições Tukano – Artes & Literatura.

O QUE FAZER?

O projeto poderia ser realizado corretamente com a tarefa a cargo dos astrônomos do Observatório Nacional que estavam ali pertinho, no bairro de São Cristovão. Porque isto não foi feito? Talvez por puro revanchismo. Os republicanos sabiam que o Imperador era astrônomo amador, amava astronomia, tinha um pequeno observatório no telhado do Palácio Imperial de São Cristovão, hoje Museu Nacional, onde recebia as crianças para palestras e observações, bem como um apartamento no então Imperial Observatório para descansar após horas de observação. Além de custear expedições científicas, adquiriu instrumentos, modernizou o Observatório e contratou astrônomos europeus de renome para aqui trabalhar. Convidado pelo renomado astrônomo francês Camille Flammarion, em 29/07/1877 compareceu para a inauguração do seu Observatório de Juvisy. Na ocasião inaugurou a luneta de 24 cm, plantou nos jardins do Observatório um cedro do Líbano (que existe até hoje!) e concedeu a Flammarion a comenda da “Ordem da Rosa”. Era Membro Titular da Sociedade Astronômica da França e mais tarde foi imortalizado no asteroide ‘Brasília’ descoberto por A. Charlois (1864-1910) no Observatório de Nice, França. Quanto a Bandeira, no inicio o projeto poderia ser alterado e várias consultas foram feitas posteriormente aos astrônomos do Observatório Nacional para uma correção, mas tudo ficou como o estabelecido no Decreto nº 4 de 19/11/1889. A mudança seria simples, poucas pessoas notariam a diferença e o mais importante: mostraria o céu de acordo com o que vemos. Tal pode ser conferido no dia 20 de maio às 20h00 pois a situação se repete com o Cruzeiro do Sul alto no céu no meridiano do Rio de Janeiro. Mas após décadas fica difícil proceder modificações agora que todos estão solidários com a Bandeira. O mais sensato é, portanto, deixá-la como está e considerar então que tudo é simbólico e as estrelas nas constelações estão como se fossem atiradas ao acaso. “Cientes de que nada perfeito, orgulhamo-nos de que a nossa Bandeira contenha lineamentos fundamentais da cultura humana, segmentos de nossa história e projetos permanentes de realizações futuras. A Bandeira aí está mais gloriosa que nunca” (Raimundo O. Coimbra).




Nelson Travnik é astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.


quarta-feira, 25 de julho de 2018

Há 80 anos, O DIA DA INVASÃO EXTRATERRESTRE


Nelson Travnik

Este mês em que o planeta Marte após 15 anos estará novamente mais próximo à Terra, é licito recordar um evento que causou nos Estados Unidos um clima de grande apreensão e temores generalizados.
O problema da existência ou não de outros planetas habitados, sempre foi motivo de grande discussão. Desde tempos imemoriais, filósofos e homens de ciência dele se ocuparam. Hoje sabemos que está comprovado a existência de milhares de planetas ao redor das estrelas, que não estamos sozinhos no universo, não somos uma civilização especial e muito menos centro da criação e privilegiados pelo grande arquiteto.

CLIMA TENSO
Transcorria o ano de 1938. O mundo particularmente a Europa e Estados Unidos vivia um clima tenso provocado pela ameaça de um novo conflito mundial. A Alemanha arruinada pelo Tratado de Versailles, ressurgia como potência tecnológica e militar pretendendo ocupação de mais territórios, o chamado “espaço vital”. Nos ares a presença imponente do dirigível Hindenburg com aquela enorme suástica, incomodava enormemente europeus e americanos. Como se não bastasse, a possibilidade de Marte abrigar vida inteligente, era algo que dividia a opinião dos astrônomos provocando a mais acirrada discussão da história da ciência. Se Marte era habitado, como seriam seus habitantes? Em que grau de civilização estariam? Como sobreviviam em um planeta desértico com uma atmosfera extremamente rarefeita, submissos a receber doses letais de radiações solares e do espaço? E é justamente nos Estados Unidos que surge o maior defensor da presença de habitantes em Marte: Percival Lowell (1855-1916). Diplomata, homem rico, ele abandonou a carreira para construir um grande observatório, o seu “Castelo de Marte” nos altiplanos do norte do Arizona, Flagstaff, munido de uma grande luneta com objetiva de 61 cm de diâmetro. Dedicou sua fortuna e 15 anos de sua vida para estudar Marte. Desenhando centenas de canais, ele defendia a idéia que eram obra de engenharia dos seus habitantes para retirar água dos pólos na irrigação das áreas desérticas. Até certo ponto, a obstinação de Lowell era explicável: no século XIX, os canais eram de importância crucial para o comercio internacional e o maior deles, o de Suez, constituía uma marca da inteligência humana. Aqui mesmo no Brasil não estamos construindo um canal para levar água do rio São Francisco as regiões áridas do Nordeste? Em um futuro longínquo talvez a escassez de água potável não nos leve também a construir uma rede de canais partindo dos polos? Sendo válido este raciocínio, se os marcianos estariam em um grau avançado de civilização, aquele globo azul com abundante atmosfera e conseqüentemente muita água, não seria a solução para uma migração?

OS MARCIANOS INVADEM A TERRA
Sob um clima tenso já mencionado, na tarde de domingo 30 de outubro de 1938, a crença nos marcianos transformou-se em dura realidade para, pelo menos, 20 milhões de norte-americanos que ouviam através da Rádio CBS de Nova York, no programa Mercury Theatre, uma encenação da “A Guerra dos Mundos”, obra de ficção escrita em 1898 pelo romancista e escritor de ficção científica, Herbert George Wells (1866-1946). Através de boletins sucessivos, os ouvintes eram informados de que hordas incontroláveis de naves marcianas invadiam a Terra em atitude hostil. As forças armadas do nosso planeta requisitadas para repelir o invasor estavam sendo desmanteladas, destruídas e pulverizadas uma após a outra. Os marcianos, exóticos seres esverdeados de baixa estatura, haviam escolhido New Jersey para seu quartel general. Lançando feixes de raios vermelhos e verdes, as naves invasoras iam minando as defesas penetrando nas cidades e destruindo tudo a sua frente. A evacuação dos grandes centros processava-se como única alternativa. Antes do inicio do programa havia sido feita uma advertência de que o mesmo tratar-se-ia de uma encenação. Contudo muitos pegaram ‘o bonde andando’ e o resultado foi que durante os 45 minutos que durou o programa, a população de Nova York principalmente se envolveu de tal forma, que o pânico se apoderou de mais de um milhão de pessoas que saíram às ruas aterrorizadas com as ‘noticias’ que anunciavam uma invasão marciana e a destruição da cidade. A evacuação da cidade por muitos que temiam ver um marciano em cada esquina, provocou um engarrafamento colossal. O protagonista da brincadeira que gerou até suicídio e milhares de telefonemas à Rádio, era Orson Welles que se transformaria mais tarde em um dos mais consagrados cineastas que o mundo conheceu.
Desnecessário dizer que após o programa, muitos foram a porta da Rádio que viu-se em sérios apuros para convencer seus ouvintes de que tudo não passava de uma encenação. Com medo de ser linchado, Orson Welles teve que sair por uma porta dos fundos! Muitos sentindo-se prejudicados, moveram processos contra a Radio que ao final saiu-se ilesa devido ao aviso feito antes do programa começar. Refeito o susto, todos puderam respirar aliviados. Mais tarde o tema viu-se transportado as telas sob o mesmo título: “A Guerra dos Mundos”, primeiro em 1953 e depois em 2005, este último sob a direção de S. Spielberg, ambos num estrondoso sucesso de bilheteria.  

Nelson Travnik é astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França. 

domingo, 27 de maio de 2018

EDUCAÇÃO: BRASIL AVANÇA NO ENSINO DA CIÊNCIA DO CÉU E DO ESPAÇO

Imagem Cidepe




Nelson Travnik
Novas propostas, congressos e seminários enchem o cotidiano no afã de encontrar soluções práticas , objetivas e econômicas para conduzir a educação a preencher a expectativa da sociedade. E nesse contexto, surge sempre uma reflexão sobre a metodologia que está sendo aplicada nas escolas no ensino de ciências.
A humanidade já pisou na Lua enquanto a maioria dos brasileiros nem sequer sabem se situar no planeta em que vivem. Não conhecem o chão em que pisam e muito menos o céu que os envolvem. Um analfabetismo cósmico incompatível ao Século Espacial que vivemos. Tudo começa nos bancos escolares e isso demonstra o quanto nossas escolas tem falhado em fornecer aos alunos conhecimentos básicos tanto milenares quanto atuais. Um dos papeis mais importantes da astronomia é justamente propiciar uma avaliação e promover uma reflexão nas metodologias presentes nos currículos escolares e na utilização de recursos diversos.
Nota-se em nosso sistema educacional que os conteúdos estão mal inseridos e precisam ser reformulados. A avidez dos alunos por temas espaciais e astronômicos, constantemente presentes na mídia e feiras de ciências, torna essas disciplinas uma área privilegiada para motivação em temas conexos como matemática, física, geografia, meio ambiente e ciências atmosféricas entre outras. As pesquisas indicam que a problemática no ensino de noções básicas de astronomia e astronáutica, é um reflexo da formação inicial de professores. Não são contemplados adequadamente a inclusão de conteúdos conforme previsto pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da Educação Básica. Recebem o diploma sem aprenderem a transmitir noções básicas do mundo em que vivem e do universo que os cercam.
Participação dos professores em cursos e seminários continua sendo a melhor ferramenta para aquisição de conhecimentos nessas áreas, evitando assim o constrangimento na sala de aula diante das perguntas dos alunos que, mercê os meios de comunicação, querem saber respostas e explicações do que se passa em seu mundo e no espaço. Assim, noções básicas de astronomia precisam ser ensinadas não somente para cumprir o estabelecido no currículo escolar como e principalmente para que os alunos percebam a estreita relação desta com outras ciências com ênfase nas tecnologias geradas no espaço. É por demais sabido que não há futuro para um país que não investir nessa área onde pontificam os satélites artificiais, responsáveis pela área de comunicações, monitoramento do clima e do que acontece na superfície do planeta.
Nesse contexto a participação das escolas de ensino médio e fundamental na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, OBAA, tem proporcionado um notável avanço na motivação e formação dos jovens do Século Espacial. Paralelamente a OBAA, realiza-se com invulgar sucesso os Encontros Regionais de Astronomia, EREA, para que os professores coloquem em dia esses conhecimentos que faltaram em sua formação. A realização da OBAA em todo o território nacional, é um sucesso absoluto com participação de mais de 1,5 milhões de alunos. Por outro lado merece destaque a iniciativa de vários colégios em construir observatório astronômico em suas unidades. Em Campinas, SP, temos um no Colégio Sagrado Coração de Jesus; em São Paulo, capital, no Colégio Magno , em Taubaté no Colégio Progresso e em Itatiba no Colégio Integrando ; em Belo Horizonte, capital, nos colégios Santo Agostinho e Dorotéia ; em Fortaleza, CE, nos colégios Christus e Sete de Setembro; em Curitiba no Colégio Estadual do Paraná; em Araracruz, ES, no Colégio Pitágoras e em Conselheiro Lafaiete, MG no Colégio N.S. Nazaré só para ficar nesses exemplos. Por outro lado, clubes de astronomia em colégios são tantos, que ainda não há um censo para saber quantos são.
É já um avanço significativo e, talvez num futuro não muito distante, possamos imitar a Argentina e o Uruguai que há muito tem a astronomia presente no currículo escolar. E pensar que também a tínhamos até 1930 quando então o Ministro da Educação achou por bem subtraí-la . Restou-nos dessa época alguns fragmentos vagamente enfocados em alguns livros de geografia.
Educar é ensinar a felicidade formando mentalidades para o mundo do amanhã. Infelizmente a sala de aula vem dando lugar a ‘chupeta eletrônica’, afastando cada vez mais o professor daquele contato pessoal outrora presente na sala de aula. É o ônus do progresso nem sempre salutar.
Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.


AGENDA 2018 - COMPLETA

Imagem: prosperity1


Equinócio do outono : 20 de março. Palestras no atendimento escolar
Lua Cheia – Lua Azul : 31 de março . Observação pública, 19:00 ás 24:00
Quarto Crescente : 21 de abril. Época favorável a observação telescópica.
Planeta Júpiter : 1 a 31 de maio . Visível toda a noite
Planeta Júpiter : 10 de maio. Maior aproximação à Terra
Quarto Crescente : 22 de maio. Época favorável a observação telescópica
Planeta Saturno : 1 a 31 de junho. Visível toda a noite
Planeta Marte : 25 a 30 de junho. Início das observações após ás 21:00
Quarto Crescente: 20 de junho. Época favorável a observação telescópica
Solstício de Inverno : 21 de junho. Palestras no atendimento escolar
Planeta Saturno : 27 de junho. Maior aproximação à Terra.
Planeta Marte : 1 a 31 de julho. Visível toda a noite
Planeta Júpiter : 1 a 31 de julho. Visível toda a noite.
Eclipse Total da Lua: dia 27 de julho ás 17:00. Só algumas etapas visível.
Planeta Marte: dia 31 de Julho.Maior aproximação à Terra. 57.763.000 km
Quarto Crescente: 19 de julho.Época favorável a observação telescópica
Planeta Marte : 1 a 31 de agosto. Visível toda a noite
Planeta Júpiter : 1 a 31 de agosto. Visível ao anoitecer
Planeta Saturno : 1 a 31 de de agosto. Visível toda a noite
Quarto Crescente : 18 de agosto. Época favorável a observação
Planeta Marte : 1 a 31 de agosto. Visível desde o anoitecer
Planeta Vênus : 1 a 31 de agosto. Visível ao anoitecer.
Quarto Crescente: 20 de setembro. Época favorável a observação
Equinócio da Primavera : 22 de setembro. Palestras para as escolas
Planeta Vênus : 1 a 31 de setembro. Visível ao anoitecer todo o mês
Planeta Marte : 1 a 31 de setembro. Visível desde o anoitecer até as 02:00
Planeta Júpiter : 20 a 31 de outubro. Visível brevemente ao anoitecer
Planeta Saturno : 20 a 31 de outubro. Visível ao anoitecer
Quarto Crescente : 16 de outubro.Época favorável a observação
Planeta Urano : 23 de outubro. Dia da maior aproximação à Terra
Planeta Marte : 20 a 31 de novembro. Visível na primeira parte da noite
Planeta Saturno : 20 a 31 de novembro. Visível ao anoitecer
Planeta Urano : 15 a 31 de novembro. Visível ao anoitecer até as 03:00
Quarto Crescente: 15 de novembro. Época favorável a observação
Quarto Crescente: 15 de dezembro. Época favorável a observação.
Solstício de Verão : dia 21 de dezembro. Palestra para o público.
DESTAQUES – EVENTOS ESPECIAIS
JULHO = UM MÊS EXCEPCIONAL
Eclipse Total da Lua no dia 27 . Somente algumas etapas visíveis
Oposição periélica do planeta Marte, dias 30/31, após 15 anos.
Visão simultânea dos 5 planetas mais brilhantes na 2ª quinzena.
PARTICIPAÇÃO DO OBSERVATÓRIO EM CONGRESSOS
Encontro Internacional de Astronomia, 12/14 de abril. Campos dos Goitaquases, RJ.
Simpósio Catarinense de Astronomia. Araranguá. Data a ser divulgada.
Encontro Nacional de Astronomia. ENAST.1 a 4 de novembro.Natal,RGN
ALGUMAS EFEMÉRIDES IMPORTANTES QUE SERÃO DESTAQUE
50 ANOS do Programa LION da NASA-JPL-SMITHSONIAN INSTITUTION
400 ANOS da publicação da 3ª Lei do movimento planetário de J.Kepler
100 anos do primeiro vôo orbital tripulado ao redor da Lua em 25/12/1968
Obs. Efemérides constantes no Anuário Astronômico Catarinense 2018.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

CURIOSIDADES DA GNOMÔNICA: RELÓGIO DE SOL COM CANHÃO

Nelson Travnik

nelson-travnik@hotmail.com


Nos inúmeros tipos de Relógios de Sol, existe um singular, com poucos exemplares no mundo: Relógio de Sol que dispara um canhão quando o astro-rei atravessa o meridiano local. No Palácio Royal em Paris, existe um que dispara ao meio dia local (Fig.1). No Museu Nacional, outrora residência de D. Pedro II, situado no bairro de São Cristovão, Rio de Janeiro, existe um Relógio de Sol com canhão adquirido pelo Imperador na França em 1858. Foi calculado para a latitude de -22º 43” 22’ S do Rio de Janeiro. A base tem 22 X 3 cm de diâmetro e canhão com  16 cm (Fig. 2). 
O Relógio ficava sempre em seu gabinete de Astronomia. É provável que tenha sido utilizado pelo Imperador nas aulas que costumava ministrar para as crianças e jovens que iam visitar seu observatório no telhado do Palácio. O instrumento surgiu no tempo de Luiz XV .  O Relógio do Imperador é considerado peça preciosa e rara pelo Museu do Relógio da cidade de Wuppertal na Alemanha. Um outro Relógio de Sol com canhão (Fig. 3),  
foi inaugurado na Itália pela comunidade Santa Maria Villiana do Município de Gaggio Montano, para lembrar a libertação do Município pelos soldados da Força Expedicionária Brasileira, FEB, em 03 de março de 1945, ao apagar das luzes da 2ª Guerra Mundial. O Relógio foi projetado pelo arquiteto Renzo Righi e construído por Giuseppe Gandolfi em 2014. O Relógio foi calculado para a latitude de -22º 56” 43’ S, próxima do Rio de Janeiro e é obvio que foi construído para homenagear o Brasil e não para ser exposto em algum lugar para funcionar pois não o conseguiria nunca. Mas não é só. O mesmo G. Gandolfi já havia construído um outro Relógio de Sol com
canhão, porém com a latitude de + 44º 14’ 38” N calculada para a Itália. São, pois, dois Relógios de Sol com canhão, um comemorativo e outro para funcionar. Por último, estando em Paris em 2011, por acaso deparei com uma fotografia (Fig. 4) de uma jovem segurando um Relógio de Sol com canhão e, ao ver esta fotografia, veio-me a idéia de construir um semelhante, o que aconteceu em abril/maio de 2016. O Relógio de Sol por mim construído tem uma base em mármore branco (mesa) de 60 cm de diâmetro, um gnomôm de aço inoxidável, um canhão modelo Idade Média com 18 cm e uma lupa com 6 cm de diâmetro.  O canhão foi doado pelo colega de São Paulo, Luigino Drioli e as gravações foram feitas pelo meu amigo Valdemar G. T. Neto de Americana, SP. O Relógio de Sol está calculado para latitude de -22º 42’ 30”.9 S que é do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum, órgão da Secretaria Municipal de Educação onde está instalado (Fig. 5).
 
O diferencial do Relógio é que ele é rotativo, isto é, está solto em uma base que permite direcioná-lo para o Sol a qualquer hora do dia e assim fazer o canhão disparar. Isso foi feito e é indispensável nas visitas escolares para os alunos não somente verem o Relógio como também ver o canhão disparar. No caso dele estar instalado somente para o canhão disparar no momento do Sol atravessar o meridiano local, isso só se daria por volta das 12 horas quando não há escola no Observatório. Ele é parte do Museu do Tempo onde existe mais quatro tipos diferentes de Relógios de Sol. Há por conseguinte no Brasil, dois Relógios de Sol com canhão: um no Museu Nacional, guardado num cofre com objetos pessoais do Imperador e outro em Piracicaba/SP, no Observatório Astronômico e que é largamente utilizado nas visitas escolares.


Nelson Travnik é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.