sábado, 20 de dezembro de 2014

ASTRÔNOMOS COMEMORAM O DIA NACIONAL DA ASTRONOMIA


Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com

A grata efeméride foi escolhida durante o 2º Encontro de Astronomia do Nordeste, celebrado em Recife/PE, de 30 de junho a 3 de julho de 1978, quando astrônomos aprovaram por unanimidade o título de “Patrono da Astronomia Brasileira” a D. Pedro II (1825-1891). A escolha do dia 2 de dezembro celebra a data de nascimento do imperador, tido como o mais erudito governante do País. A partir da escolha a efeméride ganhou força e a data passou a comemorar o Dia Nacional da Astronomia, o Dia do Astrônomo.


MOTIVOS


Foram muitos. Como astrônomo amador, modernizou o Imperial Observatório do Rio de Janeiro criado por seu pai, D. Pedro I, contratando astrônomos europeus de renome para aqui trabalhar. Tinha um quarto privativo no Observatório para descansar após horas de observação.
Instalou um observatório no telhado do Palácio Imperial de São Cristovão, hoje Museu Nacional, onde atendia alunos ministrando conhecimentos da ciência do céu. Mesmo sob forte oposição do Parlamento, concedeu verbas necessárias para três missões científicas para que os astrônomos pudessem observar a rara passagem do planeta Vênus pelo disco solar em 6/12/1882, fenômeno que iria se repetir somente em 8/6/2004. Os dados obtidos foram um sucesso permitindo calcular com precisão a distância Terra – Sol. Junto com o astrônomo Luiz Cruls, o imperador efetuou a primeira análise espectroscópica de um cometa e observou o eclipse solar de 1857. Mantinha contato com renomados astrônomos europeus dentre eles Camille Flammarion que o convidou para a inauguração do seu Observatório de Juvisy em 29/7/1887. Na ocasião D. Pedro II inaugurou a luneta de 24 cm, concedeu a Flammarion a ‘Ordem da Rosa’ e plantou uma árvore nos jardins do observatório que existe até hoje! Uma placa ao lado da árvore assinala o gesto do nosso imperador. Costumava dizer que se não fosse imperador gostaria de ser professor.  Acredita-se que tamanha devoção ao céu veio através do litógrafo e artista francês Louis Boulanger (1798-1874) e de Frei Pedro de Santa Mariana (1782-1864). D. Pedro II doou vários instrumentos seus ao Imperial Observatório e importou um círculo mural, uma pendula sideral, uma luneta meridiana e aparelhos magnéticos e meteorológicos. Mas faltava um telescópio de grande porte e ele foi encomendado na Inglaterra. Desgraçadamente o navio que transportava o instrumento chegou ao Rio justamente na ocasião da Proclamação da República e os republicanos não perderam tempo: mandaram o telescópio de volta! Em 1890, já no exílio, D. Pedro II foi homenageado com o nome do asteroide Brasília de número 293, descoberto no Observatório de Nice, França, pelo astrônomo A. Charlois (1864-1910). Sua devoção a astronomia certamente levou seu espírito muito além do asteróide, para junto das estrelas.



Nelson Travnik é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba, SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França. 

sábado, 29 de novembro de 2014

A PARTICIPAÇÃO DO OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO DE PIRACICABA, OAP, SP, NO 17º ENCONTRO NACIONAL DE ASTRONOMIA – ENAST, MACEIÓ, AL, 7 A 9 DE NOVEMBRO DE 2014

Foto oficial do 17º ENASTAutor: James Solon/Astro PE
PARTICIPANTE: Nelson Travnik, diretor do OAP
LOCAL: Universidade Federal de Alagoas, UFAL, Cidade Universitária, Auditórios da Reitoria e do CIC

ATIVIDADES  DESENVOLVIDAS

ATIVIDADE 1 
Palestra Especial , Auditório da Reitoria, dia 7, 14h00 às 14h40
Tema: “45 Anos da Conquista Lunar e a Contribuição dos Astrônomos Brasileiros”.
Público Presente: aprox. 180 pessoas.
Publicação Distribuída : “A Importância da Observação do nosso Satélite - Missões Apollo : O que foi o Programa LION”

ATIVIDADE 2
Apresentação Oral, Auditório da Reitoria, dia 8,16h30 às 17h00
Tema: “Tributo a Ronaldo Rogério de Freitas Mourão – O Flammarion Brasileiro”.
Público Presente: aprox. 160 pessoas.

ATIVIDADE 3
Proposta  apresentada  pelo  participante  dia  9  às  11h30  à  Comissão Organizadora do 17º ENAST, e esta por sua vez submetida aos presentes, foi   aprovada por unanimidade, que seja encaminhada a Sociedade Brasileira de  Astronomia,  SAB,  o   pedido  para  que o  nome  “Mourão”  seja perpetuado em uma cratera  lunar  ou  marciana,  justa homenagem   ao astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, falecido em 25/06/2014. Uma vez a SAB julgue meritória a homenagem, o passo a seguir  será o encaminhamento do pedido a União Astronômica Internacional, IAU .

DESTAQUE  ESPECIAL 
1- Pelo seu trabalho incansável junto aos estudantes nas visitas escolares ao OAP, promovendo cursos em diferentes níveis, ampla divulgação de eventos astronômicos na imprensa local e da região, incentivo as  crianças e jovens para a importância da astronomia e a observação  do céu, elaboração de projetos educacionais e o estreito intercâmbio com entidades congêneres no País e exterior, a Comissão Organizadora   do 17º ENAST, após aprovação unânime, resolveu homenagear o astrônomo do OAP, Nelson Travnik com a Medalha e Placa de Prata “Ronaldo Rogério de Freitas Mourão”.
2= Um belíssimo quadro com a representação  artística  de  uma  galáxia, pintado pelo Prof. Adriano Aubert Silva Barros, Coordenador Geral  do 17º ENAST e diretor do Observatório Astronômico Genival Leite Lima, CECITE/SEE-AL, foi oferecido ao OAP . Em retribuição ao simpático gesto, ficou acertado que o Observatório do colega Adriano irá receber um Relógio de Sol confeccionado por Nelson Travnik.                                                                                   


                                                                                                    Piracicaba, novembro, 2014

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA: CÉU DA BANDEIRA ESTÁ EM DESACORDO COM A ASTRONOMIA

                             Bandeira do Brasil
                             Imagem:http://navegandonahistoria-costa.blogspot.com.br/2012/11/historia-do-brasil-dia-da-                              bandeira.html


Nelson  Travnik - nelson-travnik@hotmail.com


Como uma tarefa dos astrônomos foi parar nas mãos de um pintor por puro sentimento revanchista

No sábado, 15 de novembro, o País celebra 125 anos da Proclamação da República, após um golpe militar perpetrado contra o Imperador D. Pedro II.  Com isso impunha a substituição da bandeira do império por aquela introduzida em 1822. A nova Bandeira Nacional foi estabelecida através do Decreto nº 4 de 19/11/1889  redigido por Rui Barbosa e assinado por :Marechal  Deodoro  da  Fonseca,  chefe  do  Governo  Provisório,  Quintino Bocaiuva,  Aristides da Silveira Lobo,  Rui  Barbosa,  M. Ferraz de Campos Sales, Benjamin Constant Botelho de Magalhães e Eduardo Wandenkolk.


UM  CÉU  DE  PURÍSSIMO  AZUL

A Bandeira do Brasil  uma das mais belas e sugestivas,  é a única do mundo que representa grande parte do firmamento que envolve a Terra. É a mais completa ilustração já imaginada para uma bandeira nacional.  O círculo interno  em  azul corresponde  a  uma  visão  da  esfera  celeste  inclinada segundo a latitude do Rio de Janeiro às 08h30 do dia 15/11/1889, data e local da Proclamação da República. Nesta hora a constelação do Cruzeiro do  Sul  encontra-se  no  meridiano  do  Rio  de  Janeiro.  Como é  dia,obviamente o céu só seria visível se ocorresse nessa data um eclipse total do Sol. Qualquer carta celeste mostra isso bem como no dia 20 de maio às 20h00 a situação se repete. É só olhar o céu e conferir.


CÉU   ÀS   AVESSAS

O céu representado na Bandeira evidencia erros e falhas astronômicas. Aposição das estrelas não coincidem com as estampadas na Bandeira. Isto é mais evidente na constelação do Cruzeiro do Sul com a posição da estrela épsilon (popularmente conhecida como ‘intrometida’) e que representa o Estado  do  Espírito  Santo.  Está  invertida.  Veja numa  carta  celeste  ou compare com o Cruzeiro do Sul  estampado nas bandeiras da Austrália,Samoa Ocidental, Papua-Nova Guiné , Nova Zelândia ou se preferir, com acamisa do Cruzeiro de Belo Horizonte, MG.  Outro fato é que as estrelas não coincidem em suas posições e magnitudes aparentes.  É o caso da constelação  do  Escorpião  que  não  é  possível  verificar  quais  sejam  as estrelas tão erradas estão.  Por último temos o caso da faixa “Ordem e Progresso” que alguns afirmaram tratar-se do Equador Celeste ou outros da eclíptica, faixa zodiacal onde se deslocam o Sol, a Lua e os planetas com exclusão de Plutão que não é mais considerado planeta e os asteroides. Do ponto de vista da astronomia não pode ser nem uma nem outra. Para ser eclíptica a estrela Spica, alfa da constelação da Virgem e que representa o Estado do Pará, teria que ficar abaixo dela e a estrela beta do Escorpião(Maranhão) acima.


ERROS   GROSSEIROS   DE   ASTRONOMIA

É  difícil  conceber  que  astrônomos  do  então  Imperial  Observatório,denominado a seguir  para Observatório Nacional,  que estavam ali  bem pertinho, não tenham sido consultados para estabelecer corretamente as posições das estrelas e da faixa que corta o céu da Bandeira. A reação não se  fez  esperar.  Na  época,  Eurico  de  Góis  declarou que o  pintor  Décio Villares ao desenhar a Bandeira não interpretou corretamente o Decretonº 4 que exigia que as estrelas fossem dispostas na situação astronômica quanto a distância,  tamanho e brilho relativo. Em vez de adotar a representação do céu quese encontra nos atlas celestes, adotou o sistema dos globos. Como atribuira um pintor uma tarefa exclusivamente da competência dos astrônomos? Porventura  um  espírito revanchista  sabendo  que  o  Imperador  era astrônomo amador e que possuía até um quarto privativo no Observatório para  descansar  após  as  observações?  A  Lei  nº  5.443  de  28/05/1968 explica em seu artigo 3º, §1º, que as constelações do céu às 08h30 do dia 15/11/1889  devem ser consideradas como vistas por um observador fora da esfera celeste. Um céu portanto  só acessível  a um astronauta!  Na ocasião os legisladores procuraram amenizar  apresentando justificativas para convencer os leigos. Uma delas é que o céu representado na Bandeira é a imagem do firmamento que seria visto às 08h30 do dia 15/11/1889,portanto em pleno dia,  refletido nas  águas  da  baia  da  Guanabara!  A questão foi debatida nos jornais, na tribuna do Congresso e até o povo foi instado a opinar. Mas tudo ficou como estabelecido pelo pintor. Todos os erros astronômicos constam de dois livros : o primeiro de Eduardo Prado “A Bandeira Nacional”, publicado em 1903 pelo IBGE e o de Rubens de Azevedo “A Bandeira Nacional”, publicado em 1988 pela edições Tukano-Arte & Literatura.


O  QUE   FAZER ?

O  projeto  poderia  ser  alterado  no  inicio  com  a  tarefa  a  cargo  dos astrônomos  do Observatório  Nacional.  Fica  complicado  que  passados tantos  anos,  agora  que  estamos  solidários  com  a  Bandeira,  proceder modificações. O mais sensato é portanto deixá-la como está e consider arque tudo é simbólico e as estrelas nas constelações estão como se fossem atiradas ao acaso. “Cientes de que nada é perfeito, orgulhamo-nos de que nossa Bandeira contenha lineamentos fundamentais da cultura humana,segmentos  de nossa  história  e  projetos  permanentes  de  realizações futuras.  A  Bandeira  ai  está, mais  gloriosa  que  nunca”. (Raimundo  O. Coimbra) 

Nelson Travnik é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba, SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

domingo, 5 de outubro de 2014

SIRIUS, UMA ESTRELA BRANCA NA CONTRAMÃO DA TEORIA. Estrela branca poderia ter sido vermelha?

Um salto evolutivo em cerca de 1500 anos? Em 577, Sirius B seria uma estrela do tipo gigante vermelha e seu brilho ofuscava Sirius A, uma estrela branca. Atualmente Sirius B encolheu, tornou-se uma anã branca e seu tom avermelhado desapareceu enquanto Sirius A não mudou.  

Nelson Travnik



Qualquer astrônomo sabe que Sirius é dupla e de cor branca. Contudo na antiguidade há registros feitos pelos babilônios, egípcios, gregos, romanos bem como em cartas celestes, onde aparece Sirius como uma estrela avermelhada. Numa tradução latina do poema grego de Aratus, Cicéron declara que Sirius ‘cintila como uma luz avermelhada’. Essa estrela de brilho esplendido, a mais brilhante do céu, por isso mesmo a mais notada, tem sofrido em tempos históricos uma estranha transformação em sua luz. Seriam essas observações uma falha nos achados arqueológicos de povos que registraram outros fenômenos com impressionante acuidade ou realmente Sirius mudou de cor? Tudo leva a crer que sim e para chegar a essa conclusão os pesquisadores alemães Wolfhard Schlosser e Werner Bergmann da Universidade de Ruhr, contaram com a sorte de descobrir nas crônicas de São Gregório de Tours, cidade francesa, datadas do ano 577, uma referência a Sirius que a descreveu de cor avermelhada. Acrescente-se que São Gregório não teve acesso aos trabalhos de observadores do céu na antiguidade e era considerado o maior sábio do seu tempo. Para explicar o fato, os pesquisadores sugeriram que a companheira de Sirius era uma estrela do tipo gigante vermelha. De lá para cá sofreu um processo de envelhecimento, queimou quase todo seu combustível nuclear, contraiu e tornou-se uma anã branca. Essa tese foi publicada na conceituada revista inglesa de ciência Nature.
Contudo para eles, esse processo em Sirius B tomaria no mínimo 100.000 anos e isso implicaria em uma revisão da teoria mais aceita pelos astrofísicos uma vez que a menos de 1500 anos atrás Sirius ainda era avermelhada. Considerando válido os depoimentos, tudo leva a crer que talvez seja necessário refazer as contas uma vez que a menos de 1500 anos atrás Sirius ainda era avermelhada.

ANÃS BRANCAS

As estrelas anãs brancas estão divididas em dois tipos que obedecem uma evolução diferente segundo sua massa original. A primeira é para estrelas com massa entre 0,08 e 0,45 massas solares que após queimar o hidrogênio passa a queimar o hélio e num processo de expansão se transforma em uma gigante vermelha. Esta fase se estabiliza, inicia-se a seguir uma um período de contração e o produto final é uma anã branca com núcleo de hélio. O outro tipo são estrelas com massa inicial entre 0,8 a 10 massas solares. Após consumir o hidrogênio no centro passa a queimar o hélio e numa fase de expansão se transforma em uma gigante vermelha. Contudo o processo de expansão continua passando a transformar o hélio em carbono e oxigênio e o resultado é tornar-se uma super-gigante vermelha. E a coisa não pára ai. No cerne, um núcleo super-massivo irá se transformar em uma anã branca. Ela contudo não consegue reter as camadas externas que passam a se expandir sempre tornando-se uma nebulosa planetária. A anã branca produto deste tipo de estrela é composta de carbono e oxigênio, portanto diferente do primeiro tipo. Baseado neste tipo de evolução estelar mais aceito atualmente e que comprova-se com o que é observado, o que aconteceu com o companheiro de Sirius está enquadrado no primeiro tipo uma vez que não é observado nenhum resíduo de gás envolvendo a estrela e muito menos qualquer sinal de uma nebulosa planetária que estaria sendo facilmente detectada. As últimas pesquisas apontam que Sirius B tem baixa temperatura, alta luminosidade e tem uma massa solar concentrada em um raio de somente 18.000 km ou 2,8 o raio da Terra. Sua densidade nesse caso é de 2 milhões de vezes a densidade da água! Algumas anãs brancas tem densidades centrais tão altas que uma colher de chá desse material pesaria algo em torno de 50 toneladas! A anã branca de Sirius é a mais próxima conhecida. Atualmente se conhecem mais de 25.000 anãs brancas e 10.000 nebulosas planetárias em nossa galáxia.

SIRIUS

As características de Sirius são bem conhecidas, É parte da constelação do Cão Maior com uma magnitude aparente de -1,5. Encontra-se a 8,6 anos-luz da Terra, é 1.76 vezes maior que o Sol, 26 vezes mais luminosa e tem uma temperatura superficial de 11.000° K. Devido ao seu forte brilho, para alguns povos significava “a ardente” e para outros “a brilhante”. No Egito antigo, quando ocorria o nascer helíaco de Sirius, iniciava-se a cheia do rio Nilo, evento ansiosamente aguardado pelos habitantes pois era chegada a hora do plantio. Esta data servia também para ajustar o calendário egípcio de 365 dias. Conhecida como Sothis, marcava a criação do mundo e o inicio do ano em seu primeiro nascer helíaco.

A DESCOBERTA

No inicio de 1834, o astrônomo alemão Friederich Wilhelm Bessel (1784-1846), suspeitou que o movimento próprio de Sirius não era uniforme. Dez anos depois, em Königsberg, Alemanha, ele anunciou que as irregularidades observadas no movimento próprio de Sirius só poderia ser explicado pela presença de uma astro perturbador. Constatou o mesmo em Procyon por apresentar também uma flutuação no movimento próprio. O período do companheiro de Procyon mais tarde confirmado por Anwers é de 40,6 anos. A comprovação do companheiro de Sirius veio somente em 1862 através do óptico e matemático americano Alvan G. Clark (1832-1897) quando testava com seu filho uma luneta com objetiva de 47 cm por ele construída. Entretanto foi o filho que viu primeiro: pai ! Sirius tem uma companheira! Bessel inaugurou o primeiro capítulo do que poderíamos chamar de ‘astronomia do invisível’ pois foi prevista em razão do efeito gravitacional no movimento próprio da estrela principal. Nesse aspecto cumpre destacar também a descoberta em 1969 de um companheiro invisível na estrela Aitken 14 feita pelo astrônomo brasileiro Ronaldo R. de Freitas Mourão (1935-2014). Tal descoberta foi confirmada pelo astrônomo francês P. Baize e pelo astrônomo austríaco J. Hoppmann que determinou sua órbita provisória. A descoberta de Bessel inaugurou uma nova categoria de estrelas: as anãs brancas. 

OBSERVAÇÃO

As duas estrelas se atraem mutuamente ao redor de um centro de gravidade comum, com período de 50 anos. Sirius B é dez magnitudes mais fraca que Sirius A. Sua observação só é possível com grandes instrumentos ou aberturas menores munidas com câmaras CCD. Contudo isso não basta e é necessário conhecer a época em que Sirius B se encontra mais afastada de Sirius A (apoastro) em razão do brilho intenso dessa estrela. O gráfico abaixo mostra a órbita aparente relativa de Sirius B, com as posições no periastro e apoastro, on-
de vê-se que as melhores épocas de observação foram de 1960 a 1980 com destaque em 1973 na maior separação aparente (11,5 segundos de arco). Atualmente a observação de Sirius B é muito difícil. A história envolvendo Sirius é intrigante, fascinante e mostra que assim como existem muitos mistérios na Terra, os há também no céu.





O autor é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba, SP e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.


REFERENCIAS


Astronomy , R. Baker e L. W. Frederick, 1971

Scientific American Brasil, edição especial nº 13 , Estrelas
Astronomia & Astrofísica, Kepler de Oliveira e Maria de F. Saraiva, LF edi-
torial, 2014

Astronomie Populaire, Camille Flammarion, nova edição, 1955
Les Etoiles et les Curiosités du Ciel, Camille Flammarion, Ernest Flammarion editeur, 1896

Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Ronaldo R. de
Freitas Mourão, 2ª edição, editora Nova Fronteira, 1995.
 







sexta-feira, 19 de setembro de 2014

PRIMAVERA COMEÇA NESTA SEGUNDA

Figura: Equinócio
Fonte: Espaçonave Terra

Nelson Travnik

Dia e noite terão a mesma duração. As flores coloridas são os principais símbolos da nova estação. Ela irá durar precisos 89 dias, 20 horas e 34 minutos. O fenômeno oferece excelente oportunidade de ordem educacional.


Quando o Sol na constelação da Virgem cruzar o Equador Celeste nesta segunda-feira 22 às 23h29, estará acontecendo o inicio da Primavera no hemisfério sul e concomitantemente o Outono no hemisfério norte. Ambos são conhecidos como equinócios (do latim aequinotium), dia igual a noite. As linhas do Trópico do Capricórnio no hemisfério sul e a de Câncer no hemisfério norte, são os lugares de maior significação para a Terra como planeta. Elas são determinadas pelo movimento orbital da Terra ao redor do Sol e pela inclinação de 23° 44’ que mantém nosso planeta em relação ao Sol a medida que percorre sua orbita. Em nosso Estado a linha do Trópico do Capricórnio (23° 27’) passa próximo a cidade de Atibaia onde existe uma placa marcando às margens da Rodovia dos Bandeirantes. Como durante o ano o Sol se desloca diariamente entre os horizontes leste e oeste, é somente por ocasião dos equinócios que se pode verificar que o astro-rei nasce rigorosamente a leste e se põe a oeste. Afora essas épocas, é um erro generalizar que o Sol nasce a leste e se põe a oeste e sim que nasce no quadrante leste e se põe no quadrante oeste. Em nossa região o Sol irá nascer nesta segunda-feira às 05h55 e se por às 18h02. A passagem meridiana irá ocorrer às 11h59. O fenômeno das estações do ano oferece uma excelente oportunidade para que as escolas trabalhem o assunto com os alunos ampliando seus conhecimentos sobre o planeta em que vivemos.

sábado, 13 de setembro de 2014

NOSSA ESTRELA, O SOL

Fonte da imagem: http://en.wikipedia.org/wiki/Sun#mediaviewer/File:Sun_poster.svg

Nelson Travnik


Distância média ao Sol: 149.600.000 km
Massa: 330.000 vezes a massa da Terra 
Diâmetro: 1.392.00 km
Rotação: 25 dias terrestres (equador)
Gravidade: 28 vezes o equivalente na Terra. Se você pesa 50 quilos na Terra, no Sol você pesaria 1.402 quilos. 
Volume: 1.280.824 vezes o volume da Terra

Nosso Sol é uma estrela como as outras que brilham no céu noturno. Aparenta ser maior e com mais brilho devido a sua proximidade à Terra. Quem admira a tranquilidade de um pôr-do-Sol, não pode imaginar o que realmente está acontecendo no seu interior. O Sol é uma gigantesca esfera de gás, consistindo principalmente de hidrogênio (91%) e hélio (8%) os dois elementos mais simples e leves. Esses gases submetidos a imensa pressão geram calor e faz com que ocorra o processo de fusão nuclear. 

O Sol e os planetas se formaram de uma nuvem de gás interestelar há 4,6 bilhões de anos. O Sol consiste de várias camadas:

A Coroa é uma extensa atmosfera do Sol, muito bem visível durante os eclipses totais. Nela o gás é muito quente e se dispersa progressivamente para o espaço. Permanece ainda desconhecido o processo pelo qual reina na coroa temperaturas da ordem de 1 milhão de graus centígrados.

A Cromosfera é a camada que circunda a superfície do Sol. Frequentemente imensos jorros de gás se lançam através da cromosfera. Esses jorros de tonalidade avermelhada liberam quantidades enormes de partículas elétricas que podem afetar os sinais transmitidos pelas emissoras de rádio e televisão. Essas partículas quando atingem a Terra podem produzir fenômenos coloridos na alta atmosfera conhecida com auroras boreais.

A Fotosfera é a parte visível do Sol. Ali reinam temperaturas da ordem de 5.500°C. De vez em quando manchas escuras, 1000°C mais frias e associadas a gigantescas explosões, produzem intensos campos magnéticos. São as manchas solares, perturbações magnéticas que ocorrem na superfície do Sol e que as vezes podem mesmo ser vistas a olho nu mediante um filtro indicado. 

O Núcleo é o miolo do Sol onde o hidrogênio está tão compactamente comprimido que os átomos individuais chocam-se entre si formando átomos de hélio mais pesados e produzindo grandes quantidades de energia. Estimam-se temperaturas de ordem de 15 milhões de graus centígrados! Entre o núcleo e a fotosfera existem a Zona Convectiva e a Zona Radiativa. O transporte de energia do núcleo para o exterior se produz por processos ainda não bem compreendidos  através dessas duas camadas.

Atividade Solar  - O Sol é aparentemente uma estrela calma. Contudo a cada onze anos aproximadamente, há um aumento enorme de sua atividade. As razões para esse sobressalto de atividade ainda são desconhecidas.


Se você viajasse ao Sol

O Sol é demasiadamente quente para qualquer coisa sólida descer em sua superfície. Se você pudesse aquentar e flutuar entre as camadas do Sol, é provável que não pudesse se mover devido a sua forte gravidade; você pesaria mais de mil quilos!




segunda-feira, 11 de agosto de 2014

CURSO DE INTRODUÇÃO A ASTRONOMIA

Local : Observatório Astronômico de Piracicaba
Endereço : Rodovia Fausto Santomauro, km 3, Piracicaba-Rio Claro
Data : 06,13,20,27 de setembro e 04 de outubro - 5 aulas
Horário : 17h00 ás 19h00
Inscrições: telefone 19-3413-0990 - gratuitas
Idade : acima de 15 anos
Prof. do curso : astrônomo Nelson Travnik
Obs: será fornecido Certificado de Participação

quinta-feira, 31 de julho de 2014

O IMPERADOR ASTRÔNOMO DO BRASIL - "O OLHAR REAL EM DIREÇÃO AO UNIVERSO"

Retrato do Imperador D. Pedro II por Vicente Pereira Mallio
Foto: Paulo Scheuenstuhl

Nelson Travnik

Como explicar tamanha devoção de D. Pedro II a ciência do céu? Acredita-se que as primeiras noções de astronomia foram incutidas no jovem Imperador pelo litógrafo e artista francês, Louis Alexis Boulanger (1798-1874), um dos intelectuais escolhidos por seu preceptor José Bonifácio de Andrade e Silva, o “Patriarca da Independência”. Outro mestre que orientou o Imperador para a astronomia deve ter sido Frei Pedro de Santa Mariana. Desde cedo nutrindo especial interesse pelas ciências além de poliglota, adquiriu conhecimentos enciclopédicos que mais tarde, em 1877, o conduziram a sócio estrangeiro honorário da ‘Academia de Ciências da França, uma honraria alcançada por poucos. Era um intelectual por excelência e ele mesmo dizia que se não fosse Imperador gostaria de ter sido professor. Isto se traduz quando em seu observatório particular no telhado do Paço de São Cristóvão na Quinta da Boa Vista, recebia estudantes para observação do céu, ministrando noções básicas de astronomia e orientando no uso dos instrumentos. Em 15 de outubro de 1827 criou por decreto o Observatório Astronômico do Rio de Janeiro no Morro do Castelo que na realidade só começou a funcionar a partir de 1846, com o nome de Imperial Observatório. Para alguns, seria o primeiro do Hemisfério Sul, mas acontece que na torre principal do Palácio de Friburgo do conde Mauricio de Nassau, na ilha de Antônio Vaz, próxima ilha do Recife, Pe, Georg Markgraf construiu e inaugurou em 28 de setembro de 1639 aquele que deve ser considerado o primeiro observatório astronômico do Hemisfério Sul.

O Brasil tem pois uma tradição em Astronomia. Em 1846 foi nomeado para cuidar da organização do Imperial Observatório o professor da Academia Militar, Eugênio Fernando Saulier de Sauve. Através de decreto, D. Pedro II deu forma ao Observatório adquirindo novos instrumentos solicitados por Saulier, após emprestar seus próprios que utilizava no Paço de São Cristóvão. Saulier de Sauve morreu em agosto de 1850. Para sucedê-lo foi escolhido o paulista Antônio Manoel de Mello (1802-1866), professor da Escola Militar e Tenente Coronel, que já encontrou o Observatório dotado de completo e moderno instrumental para a época. A sua primeira realização foi o inicio das publicações técnicas. Em 1852 já se encontravam impressas as ‘’Efemérides Astronômicas do Imperial Observatório” bem como os “Annaes Meteorológicos”. Para o cálculo das efemérides a observação dos astros era imprescindível e para isto D. Pedro II emprestou um de seus instrumentos. O Imperador estava sempre em estreito contato com os astrônomos do Observatório e tinha ali um apartamento para descansar quando resolvia passar a noite em observações. Além da atenção diária que dedicou ao Imperial Observatório até o fim do seu reinado, proveu os fundos necessários à importação da Europa de um mural, análogo ao do Observatório Real de Bruxelas, uma luneta meridiana e aparelhos magnéticos e meteorológicos.

Discorria com rara competência questões de astronomia e todos eram unânimes em reconhecer isto. Nessa época pela sua importância podemos destacar a observação de dois eclipses : os de 1858 e 1865. O primeiro em 7 de setembro, foi um eclipse total do Sol quando num feito brasileiro, a fotografia foi empregada pela primeira vez no mundo para fins astronômicos e astrométricos além do que o Imperador era um apaixonado pela fotografia. Os resultados da expedição brasileira na Baia de Paranaguá, PR, foram publicados nos ‘Comptes Rendus’ da Academia de Ciências de Paris. O segundo de 1865 foi observado de Santa Catarina cuja faixa de totalidade passava por Camboriú. Três anos depois ocorreu um eclipse anular do Sol que foi observado por uma equipe enviada pelo Imperial Observatório. Em 1870 o francês Emmanuel Liais (1826-1900) que trabalhou no Observatório de Paris ao lado dos renomados astrônomos, Urbain J. J. Le Verrier (1811-1877), imortal descobridor de Netuno e Hervé Faye (1814-1902), foi convidado por D. Pedro II a assumir a direção do Imperial Observatório. Sob os auspícios do império publicou um importante trabalho: “Tratado de Astronomia Aplicada a Geodesia Prática” bem como um magnífico livro “O Espaço Celeste” onde faz elogios a dedicação de D. Pedro II à Astronomia. Importante assinalar que na administração de Liais veio à tona o problema do ensino da astronomia que àquela época sofria grande influência dos fascinantes livros do francês Camille Flammarion (1842-1925). Liais dizia que além do deslumbramento do céu, cabe ao astrônomo medi-lo dentro de um contexto científico. Fosse isso endereçado ou não a Flammarion, acontece que o “Mestre de Juvisy” publicou ao lado de obras filosóficas e romances, vários livros e publicações científicas. Entre eles o seu “Catálogo de Estrelas Duplas Visuais”, publicado em 1878, foi durante muitos anos considerado o melhor do mundo! Indicado por Liais com aprovação do Imperador, o belga mais tarde naturalizado brasileiro, Louis Ferdinand Cruls (1848-1908) assumiu a seguir a direção do Imperial Observatório. Em 6 de maio de 1878 aproveitou a passagem de Mercúrio sobre o disco solar para determinar com grande precisão os diâmetros desses dois astros que enviado a Academia de Ciências da França, foram publicados a seguir no ‘Comptes Rendus’. Cruls empregou o método desenvolvido por Liais e nas observações feitas no Rio de Janeiro que teve participação de D. Pedro II. Com a apoio financeiro dado pelo Imperador, foi possível organizar três expedições científicas : uma a Punta Arenas, Patagônia chilena, outra para a Ilha de Santo Tomás nas Antilhas e outra para Olinda, Pe. para a rara observação da passagem de Vênus sobre o disco solar em 6 de dezembro de 1882.

Para observar o fenômeno D. Pedro II, ficou na corveta ‘Paraíba’ das 10 às 16 horas em reunião com vários astrônomos. Em 10 de setembro de 1882, Cruls descobriu no Imperial Observatório um cometa, o 1882 II. Conhecido como ‘Cometa Cruls’, ele foi exaustivamente estudado por D. Pedro II e nessa ocasião, ambos efetuaram a primeira análise espectroscópica de um cometa ! São desse período as revistas “Annaes do Imperial Observatório”, “Revista do Observatório” e o “Anuário do Observatório” que até hoje é editado sem interrupção. Em razão dos seus trabalhos em cometas, Cruls recebeu em 1882 o prêmio Valz de Astronomia, outorgado pela Academia de Ciências de Paris. Outro cometa, o 1887 I descoberto em 18 de janeiro pelo astrônomo norte-americano John M. Thome (1843-1908), em Córdoba, R. Argentina, foi estudado por D. Pedro II que estimou sua cauda em 50 graus. Esta estimativa ficou registrada na revista L’ Astronomie da Sociedade Astronômica da França, SAF, ano 1887 página 114. A astronomia segundo Ronaldo R. de Freitas Mourão (1935- ) foi a ponte que reuniu três grandes homens : Victor Hugo, Flammarion e D. Pedro II.

O Imperador foi um dos primeiros membros da SAF (nº 85), e era amigo pessoal de Camille Flammarion que o convidou para juntos no seu Observatório de Juvisy, inaugurarem em 29 de julho de 1887 com uma observação do planeta Vênus, a grande luneta de 24 cm construída por Bardou. A revista L’ Astronomie de setembro de 1887 retrata nosso Imperador realizando essa observação. Acompanhado pelo visconde de Nioac e Cruls, plantou nos jardins do Observatório uma árvore que existe até hoje ! Nessa ocasião o Imperador concedeu a Flammarion a “Ordem da Rosa”. Em 17 de setembro de 2011, convidado para a reinauguração do Observatório Camille Flammarion, constatei a existência da árvore plantada pelo Imperador e de uma placa comemorativa. Infelizmente o interesse de D. Pedro II pela astronomia não era partilhado pelos seus auxiliares e alguns políticos que utilizavam a imprensa com charges satirizando o interesse do Imperador pelas coisas do céu o que levou o Brasil a não participar do projeto internacional da ‘Carta do Céu’. A região do céu destinada ao Brasil foi fotografada pelo Observatório de la Plata, R. Argentina. A luneta fotográfica encomendado aos irmãos Henry na França, doada por D. Pedro II, jamais foi instalada e o que é pior: em 1910 em relatório assinado por Cruls e Henrique Morize, informavam a perda total da luneta e acessórios! Nem a fulgurante aparição do cometa Halley sensibilizou as autoridades. D. Pedro II havia cedido 40 hectares na Fazenda Imperial Santa Cruz e 60 mil francos (uma fortuna para a época!) para construção do observatório que incluía uma luneta inglesa “Cooke” de 32 cm e um circulo meridiano. As instalações iniciadas em 1889 nunca foram concluídas por motivos óbvios : a Proclamação da República. Pouco depois, os republicanos não deixaram desembarcar no porto do Rio de Janeiro instrumentos encomendados pelo Imperador à Inglaterra. A denominação do Imperial Observatório é a seguir mudada para Observatório Astronômico do Rio de Janeiro e mais tarde, em decreto, para Observatório Nacional do Rio de Janeiro cuja nova sede foi inaugurada em 1922 no bairro de São Cristóvão. No exilio, na correspondência que mantinha com a condessa de Barral, preceptora de seus filhos, são encontradas muitas referências à astronomia.

Ele contava das dificuldades pera realizar seus sonhos, principalmente na instalação de um grande observatório superior até ao de Nice, na França. D. Pedro II tinha conhecimento deste Observatório na descoberta de asteroides e principalmente pela descoberta por Auguste H. P. Charlois (1864-1910) do planetoide 293 ao qual foi dado o nome de Brasília em sua homenagem, na ocasião já no exílio. Talvez o reconhecimento e a maior homenagem prestada a D. Pedro II veio durante o 2º Encontro Nacional de Astronomia, ENAST, celebrado em Recife, Pe, de 30/6 a 1º/7 de 1978, quando astrônomos amadores e profissionais, por unanimidade, elegeram-no “Patrono da Astronomia Brasileira”, segundo moção apresentada pelo Dr. José Marijeso de A. Benevides. Foi o primeiro passo para que, no dia do aniversário do Imperador, 2 de dezembro, passássemos a celebrar o “Dia do Astrônomo”.

Referências
História do Observatório Nacional, Antônio Augusto Passos Videira;
L’ Astronomie, SAF, vários números;
D. Pedro II, Patrono da Astronomia Brasileira, José Marijeso de A.
Benevides, Rubens de Azevedo e José Macedo de Alcântara;
Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Ronaldo R. F.
Mourão;
Observatório Nacional e a Pesquisa Astronômica no Brasil, Luiz Muniz
Barreto.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

UNIVERSO: Nascimento, Vida, Morte e Renascimento

Nebulosa Helix, conhecida como "Olho de Deus". Créditos: NASA


Nelson Travnik, astrônomo, Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.


NASCIMENTO

"E a luz se fez"

Tudo está ligado a uma expansão cósmica ocorrida após o Big Bang. Nuvens de gases e poeira ao se contraírem deram início a formação das primeiras protoestrelas e em um processo contínuo de contração resultou nas estrelas tal como conhecemos. O disco de gás e poeira já enriquecendo com elementos pesados que não participou da formação das estrelas - tal como já detectamos em outros sistemas estelares - deu início há cerca de 4,6 bilhões de anos a formação do Sistema Solar e com isto aos planetas. Assim, todos os átomos que formam o nosso corpo, foram criados inicialmente em um disco de gás e poeira e posteriormente no núcleo de uma estrela: o Sol. O calor e a pressão no núcleo do Sol iniciou o processo da fusão nuclear no qual quatro núcleos de hidrogênio (prótons) se transformam em um núcleo de hélio, conhecida come reação próton-próton. Esta reação que ocorre no interior do Sol e das estrelas, possibilita que além desse processo surjam novos elementos químicos mais pesados embora ionizados, fruto de temperaturas altíssimas. Ao longo da vida do Sol e das estrelas surgem inúmeros elementos entres os quais o carbono, o nitrogênio e oxigênio, todos eles com um papel essencial  na elaboração das moléculas da vida. As descobertas cada vez maior dos exoplanetas corrobora a teoria da formação planetária a partir de um disco de gás e poeira.


VIDA

"O ser humano é poeira de estrelas!"

A Terra já foi inóspita e inabitável. Existem várias teorias científicas sobre a origem da vida em nosso planeta. Uma delas foi proposta independentemente por J.B. S. Haldane e Alexander L. Oparin em 1922. Para eles, ela teria surgido em decorrência de processos físico-químicos ocorridos nas águas tépidas dos primitivos oceanos quando as primeiras moléculas orgânicas constituídas por compostos de carbono teriam gerado as primeiras moléculas e organismos vivos. A atmosfera era então constituída por metano, amônia, hidrogênio e vapor d' água. Outra teoria postulada por alguns estudiosos é que a vida na Terra veio do espaço pela queda de cometas que como sabemos contém gelo, rocha, poeira e substâncias pré-bióticas que teriam possibilitado o processo vital na Terra. Esse bombardeio intenso de cometas há 3,5 bilhões de anos, segundo alguns pesquisadores, trouxe também água para o planeta. Essa teoria não é nova e foi sugerida inicialmente por J. B. S. Haldane e Svant Arrhenius e mais tare revitalizada por Fred Hoyle e Chandra Wickramasingue em 1978. Durante pelo menos 2 bilhões dos 4,6 que tem, só houve bactéria por aqui. Seja de uma forma ou de outra, os cientistas são unânimes em dizer que para surgir vida é imperioso existir água. Que formas ela irá assumir, está condicionada a sua evolução no ambiente que estiverem. Evolução é algo cientificamente comprovada e não parou. Continuará ocorrendo através dos séculos e milênios. Na Terra os humanos surgiram na África entre cinco a sete milhões de anos, depois que houve uma diversificação da linhagem do chipanzé, nosso parente mais próximo. Não se concebe no mundo atua que os criacionistas nas escolas continuem a ensinar ideias religiosas contrárias aos fatos científicos. É um desserviço à educação. É querer representar as aspirações e angústias humanas em cima de algo que não é real. No final, "somos todos viajantes de uma jornada cósmica, poeira de estrelas, girando e dançando nos torvelinhos e redemoinhos no infinito" (Deepak).


MORTE

"Tudo morre mas tudo ressuscita. Aniquilamento não é mais do que transformação"

Em um passado não muito distante, o universo para o homem representou um lugar de quietude e harmonia. Hoje sabemos que ao contrário, ele é palco de eventos de extrema violência. Explosões de supernovas e hipernovas varrendo com raios X e gama tudo a sua volta, canibalismo cósmico perpetrado pelos buracos negros, estrelas engolfando planetas ao seu redor, são alguns exemplos. Se pudéssemos viajar a um bilhão de anos para o futuro, estaríamos vivendo em um dos satélites de Júpiter ou Saturno. Isto porque a esta altura, gradativamente, o Sol foi se transformando em uma gigante vermelha já teria "engolido" o planeta Mercúrio. Na Terra os oceanos já teriam fervido e desaparecido. Neste cenário apocalíptico, decorridos mais de um bilhão de anos, Vênus não existiria mais e seríamos envoltos pelos gases e poeira que o sol gradativamente iria expelir para o espaço formado ao longo do tempo um anel gigantesco, uma nebulosa planetária. No centro, o Sol tendo expelido suas camadas externas não seria nada mais nada menos que uma estrela anã branca, superdensa, com luminosidade um milionésimo da que outrora possuía e do tamanho da Terra. Nessa fase, não há mais combustível nuclear para alimentar os Sol. Ele vai esfriando lentamente, emitindo sob forma de luz os restos do seu calor interior. Mais um tempo e ele se tornará um astro sem luz e sem vida, assumindo a forma de um enorme rochedo esférico de carbono. A esta altura soará a hora final do sistema solar. Como já mostrado em livros e filmes de ficção, os humanoides se ainda existirem, terão que imigrar para outro sistema estelar. Juntamente com habitantes de outros sistemas estelares, estarão vivenciando um espetáculo grandioso: a aproximação da nossa galáxia com de Andrômeda. Ambas a 500 000 km/h estão em rota de colisão. Estima-se que daqui a cinco bilhões de anos elas irã interagir. Bilhões, trilhões de estrelas, aglomerados e nebulosas não se tocarão e buracos negros no centro de ambas galáxias farão ambas se contorcerem num cenário semelhante a muitas dessas "trombadas" já fotografadas pelos astrônomos. A galáxia de Andrômeda tomará todo o céu dos planetas da Via Láctea e vice-versa. Novas simulações indicam que daqui a cinco bilhões de anos, Andrômeda e Via Láctea formarão uma única galáxia. Situações desse tipo estão acontecendo em todo universo. Diante desse panorama chega-se a conclusão de que o universo está pouco ligando para o fim do sistema solar e muito menos que existiu um planeta chamado Terra.


RENASCIMENTO

"Tudo nasce, vive, morre e renasce"

Por enquanto os cientistas apostam em duas teorias: ou o universo continuará em eterna expansão até que cesse a temperatura de todas as estrelas terminando o cosmo no mais absoluto frio e escuridão ou, em determinado momento a expansão terminará e nesse caso o universo começaria a se contrair. Todas as galáxias, quasares, buracos negros, matéria escura e nuvens moleculares desabarão em um ponto hiperdenso, análogo ao que existia antes do Big Bang. É difícil para a mente humana conceber a inexistência do espaço e tempo antes do Big Bang. Segundo A. Einstein, apoiado na sua Teoria da Relatividade Geral, o espaço e o tempo surgiram com o Big Bang e não faria sentido pensar em um momento anterior a esse evento. Mas, e se o Big Bang não assinala o começo de tudo mas sim o fim de um universo que existia antes dele? É o que sustentam os cosmólogos Roger Penrose da univêniaersidade de Oxford no Reino Unido e Vahe Gurzadyan da Universidade de Yerevan na Armênia para um universo cíclico. Tal teoria abre naturalmente espaço para muitas dúvidas e especulações. Se nossa concepção de escala de tempos maiores que alguns milênios já provoca uma vertigem cerebral, o que pensar sobre bilhões e bilhões de anos? O que a ciência noa mostra até o presente - e há muita coisa ainda para ser descoberta - apoiada na observação e experimentação de laboratórios avançadíssimos, é que no universo tudo nasce, vive, morre e renasce. Nesse raciocínio e contemplação retrospectiva, surge inevitavelmente uma questão de cunho filosófico: qual é o papel dos seres inteligentes que certamente existiram, existem e vão existir em infinitos mundos? Somos simplesmente feito do pó das estrelas e a elas retornaremos? Simplesmente isso? Nada sobrevive além disso? Tema de uma milenar discussão, não cabe nesse artigo enveredar sobre essa questão pois somos engrenagens microscópicas de um mecanismo desconhecido.



sábado, 5 de julho de 2014

OS CÉUS PROCLAMAM: NÃO ESTAMOS SOZINHOS NO UNIVERSO

Representação artística de diferentes modelos de sistemas estelares.
Imagem: NASA

Nelson Travnik


O tema é atual e contagia mentes voltadas à vida extraterrestre. O número de planetas orbitando outras estrelas não pára de crescer. Já são mais de 3.000 e dentre eles 68 do tamanho da Terra que estão na zona habitável. E isto somente em nossas vizinhanças. Uma nova geração de radiotelescópios utilizando sofisticadas tecnologias, estuda o Universo e a possibilidade de detectar sinais de civilizações extraterrestres.

O primeiro a especular sobre a existência de um universo infinito, sem limites, com sóis ao redor do qual giravam planetas que deveriam ser habitados, foi o filosofo italiano Giordano Bruno (1550-1600) em seu livro “Del Infinito, Universo e Mondi” (Do Infinito, do Universo e dos Mundos). Essas idéias não agradou a Igreja e a Inquisição por falta de retratação acabou condenando-o à fogueira o que aconteceu em Roma no Campo di Fiori no dia 9 de fevereiro de 1600. Em seguida em 1686 foi a vez de Bernard Le Bovier de Fontenelle (1657-1757), poeta, romancista e filósofo francês em seu livro “Entretetiens sur la Pluralité des Mondes”(Diálogos sobre a Pluralidade dos Mundos) escrever de estar convencido de que os céus estão cheios de mundos habitados.
O maior impacto contudo sobre o tema viria em 1861. Com apenas 19 anos, o astrônomo francês Camille Flammarion (1842-1925) durante sua estada no Observatório de Paris, empreendeu a difícil tarefa de abordar a questão da vida em outros planetas. Seu livro “La Pluralité des Mondes Habités” (A Pluralidade dos Mundos Habitados) foi publicado no ano seguinte pela editora Mallet-Bechelier. O livro provocou acirradas discussões na maioria das pessoas embevecidas com a idéia da Terra ser um planeta especial, centro da criação, único a abrigar vida. Contudo entre celebridades como Victor Hugo (1802-1885) o livro foi bem recebido. Em 1864 a primeira edição esgotou. Uma após uma as edições não paravam. Meu exemplar de 1921 já era a 30ª edição ! Este ano assinala pois 152 anos da primeira edição do livro de Flammarion.
EXOPLANETAS
Em algum momento, quando você olha para as estrelas, não teria pensado que em algumas delas pode haver um planeta que também estará pensando em você : será que há alguém olhando para mim?
O que outrora parecia ser um privilégio do Sol, hoje já é aceito que a maioria das estrelas possuem planetas ao seu redor. Seria pois uma enorme presunção pensar ainda que somos a única civilização existente na imensidão cósmica. Os cientistas acreditam que pode haver civilizações lá fora e que já chegaram a um estágio de desenvolvimento suficiente para emitir ondas de rádio. Apesar de um tempo extremamente longo para as ondas de rádio varrer o espaço, os cientistas acreditam que nos próximos 25 anos estaremos recebendo a tão aguardada mensagem : também estamos aqui!
Para isto um novo radiotelescópio, o maior móvel do mundo no Estado da Virginia, EEUU, está empenhado em ouvir atentamente 68 planetas selecionados pelo programa SETI ( sigla em inglês da busca inteligente fora da Terra) dentre os 1235 até agora mapeados pelo telescópio espacial KEPLER. Outro radiotelescópio, o “Robert C. Byrd Green Bank”, é capaz de analisar 300 vezes mais freqüências de rádio do que seu rival em Arecibo, Porto Rico, palco do filme “Contato” de 1997 baseado no livro de Carl Sagan. A isto soma-se o maior radiotelescópio imóvel do mundo, o “Ratan-600 na Rússia com uma antena circular de 576 metros de diâmetro ! Contudo “o maior ouvido” da humanidade é o projeto ALMA da comunidade européia que está sendo instalado no Chile, em Chajnantor, a 5 mil metros de altitude. Serão 66 antenas de 12 metros de diâmetro que irá pesquisar o universo com uma penetração , precisão e poder incalculável!

    É estranho que tudo isto esteja acontecendo e ainda existam multidões que acreditam ser seu planeta o mais importante de todos, centro da criação e que vivenciamos a época mais importante de todas. Doces ilusões de crianças que acariciam suas bonecas… Nossos antepassados acreditavam a mesma coisa e o que restou de suas conquistas, seus impérios , seus monumentos e palácios ? Acrescente-se a isso que o universo está pouco ligando pelo que acontece aqui. A astronomia está reverenciando Giordano Bruno, Bernard Le Bovier de Fontenelle e Camille Flammarion. Três nomes, três mentes que avançaram no tempo enfrentando altivamente dogmas, incredulidade e preconceitos. Estamos no limiar de descobertas extraordinárias e outras passiveis de abalar os alicerces da estrutura filosófica criada pelo homem. Quem viver verá !

    5 DE JULHO, OBSERVAÇÃO DA LUA NO OAP

    Lua Crescente
    Foto: Observatório Astronômico Kappa Crucis
    Dia 05 de Julho, data mais favorável para a observação da Lua, Quarto Crescente.



    LUA


    Nelson Travnik

    Por ser o satélite da Terra ela merece um enfoque especial. Se compararmos o tamanho dos planetas em relação aos seus satélites, veremos que a nossa Lua é muito grande comparada à Terra. A Lua não tem água em superfície, nem atmosfera ou nuvens. Está coberta por milhares de crateras, fruto do impacto de meteoróides ou mesmo de cometas há bilhões de anos Este bombardeio cósmico também aconteceu na Terra só que os vestígios foram gradativamente apagados pela erosão provocada pelas chuvas e ventos.

    Não há mais calor interno na Lua, por isso não existem vulcões. Os chamados "lunamotos" constatados pelos instrumentos deixados pelos astronautas em sua superfície são milhares de vezes menores que os terremotos e não causam nenhum efeito na superfície lunar. Sempre vemos o mesmo lado da Lua. Esta "rotação sincrônica" é causada pela gravidade. A Lua gira em torno da Terra em 27 dias e 8 horas  (revolução sideral), tempo que gasta igualmente para girar em torno do seu próprio eixo. Essa é a razão porque a face lunar voltada ara nós é sempre a mesma.

    Como o eixo de inclinação da Lua é inclinado cerca de 6,5° sobre sua órbita, resulta que é possível um observador terrestre ver além dos polos. Este fenômeno é conhecido como libração em latitude. Por outro lado, como o movimento de rotação ora se atrasa, ora se adianta em relação ao de translação, é possível observar um pouco além do lado visível; uma zona de mais ou menos 7°8 de largura. É a chamada libração em longitude.

    Ainda que a Lua apresenta sempre a mesma face para a Terra, não significa que o outro lado esteja escuro. A Lua como a Terra recebe a luz do Sol e da mesma forma que o Sol brilha sobre a metade da superfície da Terra, metade também recebe luz solar em qualquer momento. A Lua ainda é o único astro do sistema solar visitado pelos humanos. De 1969 a 1972, seis missões Apollo enviaram 12 astronautas a superfície lunar trazendo amostras das rochas e deixando uma série de instrumentos em sua superfície.

    Todos nós conhecemos e sentimos a grande influência da Lua na Terra.As marés nos oceanos, na natureza e nos seres vivos faz com que nosso satélite sirva como ponto de equilíbrio para que a evolução na Terra chegasse ao que ela é hoje.

    Se você viajar a Lua,
    Terá que levar seu próprio oxigênio. Necessitará um traje especial para proteger-se da intensa radiação solar porque a Lua não possui atmosfera para bloquear os raios perigosos. Como as temperaturas na Lua variam de =100°C a -170°C, você terá que escolher a ocasião propícia para andar na Lua ou então procurar abrigo para se proteger dessa terrível mudança térmica. Você não notaria muito peso do traje espacial devido a débil força de gravidade.

    Como não existe atmosfera, mesmo durante o dia o céu na Lua é sempre negro. Dependendo de onde "alunizara" poderia ver a Terra brilhando no céu mostrando fase e bem maior como costumamos ver a Lua.

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    OBS: Salvo dias chuvosos são realizadas todos os sábados da 19h00 às 22h00. A visitação é gratuita.

    O OAP está localizado no km 3 da rodovia Fausto Santomauro que liga Piracicaba a Rio Claro logo após o Jardim Zoológico.

    quinta-feira, 3 de julho de 2014

    EM JULHO NO OAP: ASTROS EM EVIDÊNCIA QUE SERÃO OBSERVADOS

    NGC4755: Telescópio Hubble

    • Planeta Saturno em Libra;
    • Estrelas duplas Alpha Crucis;
    • Aglomerado Aberto "Caixa de Joias", K Crucis;
    • Lua: dia 5 é a data mais favorável para observação.

    OBS: Salvo dias chuvosos são realizadas todos os sábados da 19h00 às 22h00.  A visitação é gratuita.

              O OAP está localizado no km 3 da rodovia Fausto Santomauro que liga Piracicaba a Rio Claro logo após o Jardim Zoológico.

              

    quarta-feira, 2 de julho de 2014

    UMA POLÊMICA CENTENÁRIA


    Por Nelson Travnik


    Por mais que exista farta literatura, americanos refutam verdades históricas que evidenciam o pioneirismo de Santos-Dumont e não aceitam o feito do grande brasileiro.

    Antes de Santos-Dumont, os pilotos usavam planadores e máquinas semelhantes a asa delta. De inicio Dumont conquistou títulos importantes na história aeronáutica como em 19 de outubro de 1901 com o primeiro vôo controlado em um dirigível o que lhe valeu contornar a Torre Eiffel e conquistar o prêmio de 100.000 francos instituído por Henri Deutsch. Contudo a consagração final viria em 23 de outubro de 1906 no campo de Bagatelle em Paris com o histórico vôo do 14-Bis. No dia 12 de novembro ele repetiu o vôo. Tudo feito às claras, diante de uma multidão eufórica, fotógrafo, cinematógrafo, juízes idôneos conforme as regras competitivas, método científico e experimentação. O fato foi divulgado na mídia europeia e americana. O vôo foi o primeiro no mundo a se elevar do solo com um mais pesado que o ar. Presente uma comissão do Aero Clube da França que emitiu Ata assinada pelo presidente Ernst Archdeacon e pelo secretário da comissão mista E. Surconf. O vôo portanto com o endosso do Aero Clube da França, foi homologado nos registros da Federation. O 14-Bis era pois uma máquina voadora que levantou vôo e aterrissou por seus próprios meios. E uma curiosidade: o primeiro avião a ser pilotado de pé!


    UMA HISTÓRIA MAL CONTADA

    Dois anos depois apareceram nos EEUU os irmãos Wright com fotos e uma história que voaram em dezembro de 1903. Ora bolas, porque as fotos só foram divulgadas em 1908? Quem garantiu a autenticidade das fotos na época? Porque eles não mostraram os repórteres que presenciaram dois fiascos em 1904, uma vez que eles ainda estavam vivos e poderiam muito bem confirmar os feitos de 1903? Tudo indica que os mesmos saíram de mãos vazias e, segundo o próprio Orville Wright, “não passaram a acreditar neles”. Induziram a imprensa ao erro e esconderam detalhes para o povo americano. O fato é que os irmãos Wright não conseguiram levantar seu avião do chão a não ser por uma catapulta e na maioria das vezes a aterrissagem era um desastre. Com catapulta até um tijolo voa! É óbvio que estavam escondendo evidências. Ademais, se tivessem voado antes de 1906, não respeitaram as regras de clareza nas experiências, idoneidade das testemunhas e presença de um órgão oficial credenciado para homologação do vôo. Tudo feito na base do: eu fiz e está feito! Outro detalhe importante é que em 1904 eles, Orville Wilbur Wright requeriam na Inglaterra patente para um planador (sem motor) de sua invenção. Fato estranho para quem alega ter voado com motor um ano antes! Há também o fato de que ofereceram uma demonstração ao governo americano mas por um preço exorbitante (100 mil dólares) o que o presidente Theodore Roosevelt não concordou caracterizando assim mercenarismo ao contrário de Dumont que mais tarde, em 1910, ofereceu gratuitamente aos americanos todos os planos de construção do seu “Demoiselle”, o primeiro ultra leve do mundo, através da revista “Popular Mechanics”. Existe pois uma grande diferença entre os experimentos na França e que os irmãos Wright faziam e a história não deve conceder primazia a quem praticou artimanhas, safadeza e jogo desleal. No centenário do vôo do 14-Bis em 2006 celebrado em Paris, uma réplica do avião decolou, alçou voo e aterrissou esplendidamente! No centenário em 2003 do vôo dos irmãos Wright, uma grande festividade em 17 de dezembro, com a presença do presidente G. W. Bush, viu uma réplica do avião ser catapultado, alçar voo, não se manter no ar, e depois aterrissar em um lamaçal, para frustração da multidão presente (30.000 pessoas). Terminando, fica nossa resposta ao maior feito espacial dos EEUU: Neil Armstrong pisou na Lua em 1969 no dia 20 de julho, dia do aniversário de Santos-Dumont.

    A pequena e importante cratera Santos-Dumont fotografada por Vaz Tolentino. Foto do detalhe retangular executada em 19‎ de ‎junho‎ de ‎2010, ‏‎19:24:46 e foto maior em 20‎ de ‎junho‎ de ‎2010, ‏‎19:31:54.