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Nelson
Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
Pelo
Calendário Gregoriano que adotamos, estamos adentrando em 2019 muito
embora uma pesquisa histórica, indique que, na realidade, iremos
ingressar o ano novo de 2025 ou 2026. Mais recentemente, abordando o
assunto, no seu livro “A Infância de Jesus”, o papa Bento XVI
diz que Maria deu a luz entre 7 e 6 a.C. Seja um ou outro, o fato é
que neste 1º de janeiro iniciamos mais uma jornada ao redor do Sol.
Nesses 365 dias, nosso planeta irá percorrer 942,4 milhões de
quilômetros algo que, em linha reta, nos levaria além do planeta
Júpiter. Isso permite algumas reflexões sobre espaço, tempo e
vida.
No
mundo atual, como estranhos em seu próprio habitat, multidões não
se interessam em saber afinal o que são, onde estão, para onde vão
e seu destino final. A maioria vive porque respiram e se contentam
com o preconizado pelas religiões, sem questionar o que lhe é
imposto pelos livros sagrados. Advindo qualquer infortúnio, é a
vontade de Deus. É mais cômodo viver assim. Infelizmente não se
dão conta que estão entorpecidos pelo sistema que as transforma em
máquinas de consumismo como símbolo da felicidade. Um sistema
inserido na sociedade que as utiliza e descarta como objetos. Seu
dia-a-dia é preenchido pela chupeta eletrônica e por infindáveis
conquistas tecnológicas que todavia a prende a um emaranhado de
dúvidas sobre sua própria existência. O ser humano tão complexo
é desconhecido por ele próprio, vive a Era Espacial de grandes
realizações científicas mas ainda não aprendeu a encontrar a
grandeza de sua pequenez e da sua estupidez.
Continuamos
a ser um enigma, uma gota num oceano de incertezas que por um
instante aparece e dissipa como bolhas de sabão que as crianças
fazem flutuar no ar. Poucos são cônscios de que a sabedoria do ser
humano não está no quanto ele sabe, mas no quanto ele tem
consciência de que não sabe. É preciso portanto ter humildade para
compreender o mundo insondável da psique humana; que somos ínfima
partícula na vastidão cósmica e que o universo estará ignorando
quando o Sol, nosso habitat e os demais planetas um dia desaparecer
sem testemunha do último gemido. Pura ilusão é pois achar que
somos o ápice da civilização. Os egípcios, os romanos, só para
ficar nesses dois exemplos, cultuavam o mesmo pensamento. O que
sobrou dessas civilizações? Ruínas, pedras e pó. No universo,
nascimento e morte estão sempre de mãos dadas. Quando nascemos
estamos programados para morrer. Tudo que é belo um dia morre. Não
sentimos o perfume das flores que já morreram.
Somos
apenas uma espécie transitória, viajantes em uma jornada cósmica,
dentro de uma cápsula do tempo, girando e dançando nos torvelinhos
e redemoinhos de um universo infinito. O céu nos envolve por todos
os lados e a luz de miríades de estrelas que contemplamos, é um
monumental concerto cósmico que aconteceu há dezenas, milhares ou
milhões de anos. A observação do céu é, por conseguinte, uma
experiência de transformação e ampliação da consciência, uma
grande elevação espiritual que proporciona uma imensa satisfação
íntima e nos ensina que na história da Criação, cem milhões de
anos passam como um dia; apagam-se e dissipam-se como fugitivo sonho
no seio da eternidade que todo absorve. Mais do que uma mera
propriedade lógica de certos enunciados, o conhecimento do cosmos é
um poema da vida, um poder espiritual que aprofunda e transforma a
visão de nós mesmos. Através da lei universal de ação e reação,
causa e efeito, há o equilíbrio do Universo.
Nesse
raciocínio e contemplação retrospectiva, surge uma inevitável
questão de cunho filosófico : qual é o destino final de todos os
seres inteligentes que existiram, existem e vão existir nesse
planeta? Somos apenas um cérebro sofisticado que tomba numa
sepultura para não ser mais nada? Apenas feitos do pó das estrelas
? Nada sobrevive além disso ? Tema de uma milenar discussão, não
cabe nesse artigo enveredar por essa questão pois somos engrenagens
microscópicas de um mecanismo desconhecido.
Nelson
Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da
França.
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