quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

ESPAÇO, TEMPO, VIDA: Ano que foi, ano que vem

 
Imagem: wikipedia

Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
Pelo Calendário Gregoriano que adotamos, estamos adentrando em 2019 muito embora uma pesquisa histórica, indique que, na realidade, iremos ingressar o ano novo de 2025 ou 2026. Mais recentemente, abordando o assunto, no seu livro “A Infância de Jesus”, o papa Bento XVI diz que Maria deu a luz entre 7 e 6 a.C. Seja um ou outro, o fato é que neste 1º de janeiro iniciamos mais uma jornada ao redor do Sol. Nesses 365 dias, nosso planeta irá percorrer 942,4 milhões de quilômetros algo que, em linha reta, nos levaria além do planeta Júpiter. Isso permite algumas reflexões sobre espaço, tempo e vida.
No mundo atual, como estranhos em seu próprio habitat, multidões não se interessam em saber afinal o que são, onde estão, para onde vão e seu destino final. A maioria vive porque respiram e se contentam com o preconizado pelas religiões, sem questionar o que lhe é imposto pelos livros sagrados. Advindo qualquer infortúnio, é a vontade de Deus. É mais cômodo viver assim. Infelizmente não se dão conta que estão entorpecidos pelo sistema que as transforma em máquinas de consumismo como símbolo da felicidade. Um sistema inserido na sociedade que as utiliza e descarta como objetos. Seu dia-a-dia é preenchido pela chupeta eletrônica e por infindáveis conquistas tecnológicas que todavia a prende a um emaranhado de dúvidas sobre sua própria existência. O ser humano tão complexo é desconhecido por ele próprio, vive a Era Espacial de grandes realizações científicas mas ainda não aprendeu a encontrar a grandeza de sua pequenez e da sua estupidez.
Continuamos a ser um enigma, uma gota num oceano de incertezas que por um instante aparece e dissipa como bolhas de sabão que as crianças fazem flutuar no ar. Poucos são cônscios de que a sabedoria do ser humano não está no quanto ele sabe, mas no quanto ele tem consciência de que não sabe. É preciso portanto ter humildade para compreender o mundo insondável da psique humana; que somos ínfima partícula na vastidão cósmica e que o universo estará ignorando quando o Sol, nosso habitat e os demais planetas um dia desaparecer sem testemunha do último gemido. Pura ilusão é pois achar que somos o ápice da civilização. Os egípcios, os romanos, só para ficar nesses dois exemplos, cultuavam o mesmo pensamento. O que sobrou dessas civilizações? Ruínas, pedras e pó. No universo, nascimento e morte estão sempre de mãos dadas. Quando nascemos estamos programados para morrer. Tudo que é belo um dia morre. Não sentimos o perfume das flores que já morreram.
Somos apenas uma espécie transitória, viajantes em uma jornada cósmica, dentro de uma cápsula do tempo, girando e dançando nos torvelinhos e redemoinhos de um universo infinito. O céu nos envolve por todos os lados e a luz de miríades de estrelas que contemplamos, é um monumental concerto cósmico que aconteceu há dezenas, milhares ou milhões de anos. A observação do céu é, por conseguinte, uma experiência de transformação e ampliação da consciência, uma grande elevação espiritual que proporciona uma imensa satisfação íntima e nos ensina que na história da Criação, cem milhões de anos passam como um dia; apagam-se e dissipam-se como fugitivo sonho no seio da eternidade que todo absorve. Mais do que uma mera propriedade lógica de certos enunciados, o conhecimento do cosmos é um poema da vida, um poder espiritual que aprofunda e transforma a visão de nós mesmos. Através da lei universal de ação e reação, causa e efeito, há o equilíbrio do Universo.
Nesse raciocínio e contemplação retrospectiva, surge uma inevitável questão de cunho filosófico : qual é o destino final de todos os seres inteligentes que existiram, existem e vão existir nesse planeta? Somos apenas um cérebro sofisticado que tomba numa sepultura para não ser mais nada? Apenas feitos do pó das estrelas ? Nada sobrevive além disso ? Tema de uma milenar discussão, não cabe nesse artigo enveredar por essa questão pois somos engrenagens microscópicas de um mecanismo desconhecido.
Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

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