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Nelson
Travnik
Novas
propostas, congressos e
seminários enchem o cotidiano no afã de encontrar soluções
práticas , objetivas e econômicas para conduzir a educação a
preencher a expectativa da sociedade. E nesse contexto, surge sempre
uma reflexão sobre a metodologia que está sendo aplicada nas
escolas no ensino de ciências.
A
humanidade já pisou na Lua enquanto a maioria dos brasileiros nem
sequer sabem se situar no planeta em que vivem. Não conhecem o chão
em que pisam e muito menos o céu que os envolvem. Um analfabetismo
cósmico incompatível ao Século Espacial que vivemos. Tudo começa
nos bancos escolares e isso demonstra o quanto nossas escolas tem
falhado em fornecer aos alunos conhecimentos básicos tanto milenares
quanto atuais. Um dos papeis mais importantes da astronomia é
justamente propiciar uma avaliação e promover uma reflexão nas
metodologias presentes nos currículos escolares e na utilização de
recursos diversos.
Nota-se
em nosso sistema educacional que os conteúdos estão mal inseridos e
precisam ser reformulados. A avidez dos alunos por temas espaciais e
astronômicos, constantemente presentes na mídia e feiras de
ciências, torna essas disciplinas uma área privilegiada para
motivação em temas conexos como matemática, física, geografia,
meio ambiente e ciências atmosféricas entre outras. As pesquisas
indicam que a problemática no ensino de noções básicas de
astronomia e astronáutica, é um reflexo da formação inicial de
professores. Não são contemplados adequadamente a inclusão de
conteúdos conforme previsto pelas Diretrizes Curriculares Nacionais
para a formação de professores da Educação Básica. Recebem o
diploma sem aprenderem a transmitir noções básicas do mundo em
que vivem e do universo que os cercam.
Participação
dos professores em cursos e seminários continua sendo a melhor
ferramenta para aquisição de conhecimentos nessas áreas, evitando
assim o constrangimento na sala de aula diante das perguntas dos
alunos que, mercê os meios de comunicação, querem saber respostas
e explicações do que se passa em seu mundo e no espaço. Assim,
noções básicas de astronomia precisam ser ensinadas não somente
para cumprir o estabelecido no currículo escolar como e
principalmente para que os alunos percebam a estreita relação
desta com outras ciências com ênfase nas tecnologias geradas no
espaço. É por demais sabido que não há futuro para um país que
não investir nessa área onde pontificam os satélites artificiais,
responsáveis pela área de comunicações, monitoramento do clima e
do que acontece na superfície do planeta.
Nesse
contexto a participação das escolas de ensino médio e fundamental
na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, OBAA, tem
proporcionado um notável avanço na motivação e formação dos
jovens do Século Espacial. Paralelamente a OBAA, realiza-se com
invulgar sucesso os Encontros Regionais de Astronomia, EREA, para que
os professores coloquem em dia esses conhecimentos que faltaram em
sua formação. A realização da OBAA em todo o território
nacional, é um sucesso absoluto com participação de mais de 1,5
milhões de alunos. Por outro lado merece destaque a iniciativa de
vários colégios em construir observatório astronômico em suas
unidades. Em Campinas, SP, temos um no Colégio Sagrado Coração de
Jesus; em São Paulo, capital, no Colégio Magno , em Taubaté no
Colégio Progresso e em Itatiba no Colégio Integrando ; em Belo
Horizonte, capital, nos colégios Santo Agostinho e Dorotéia ; em
Fortaleza, CE, nos colégios Christus e Sete de Setembro; em
Curitiba no Colégio Estadual do Paraná; em Araracruz, ES, no
Colégio Pitágoras e em Conselheiro Lafaiete, MG no Colégio N.S.
Nazaré só para ficar nesses exemplos. Por outro lado, clubes de
astronomia em colégios são tantos, que ainda não há um censo para
saber quantos são.
É
já um avanço significativo e, talvez num futuro não muito
distante, possamos imitar a Argentina e o Uruguai que há muito tem a
astronomia presente no currículo escolar. E pensar que também a
tínhamos até 1930 quando então o Ministro da Educação achou por
bem subtraí-la . Restou-nos dessa época alguns fragmentos vagamente
enfocados em alguns livros de geografia.
Educar
é ensinar a felicidade formando mentalidades para o mundo do amanhã.
Infelizmente a sala de aula vem dando lugar a ‘chupeta eletrônica’,
afastando cada vez mais o professor daquele contato pessoal outrora
presente na sala de aula. É o ônus do progresso nem sempre salutar.
Nelson
Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da
França.
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