domingo, 27 de maio de 2018

EDUCAÇÃO: BRASIL AVANÇA NO ENSINO DA CIÊNCIA DO CÉU E DO ESPAÇO

Imagem Cidepe




Nelson Travnik
Novas propostas, congressos e seminários enchem o cotidiano no afã de encontrar soluções práticas , objetivas e econômicas para conduzir a educação a preencher a expectativa da sociedade. E nesse contexto, surge sempre uma reflexão sobre a metodologia que está sendo aplicada nas escolas no ensino de ciências.
A humanidade já pisou na Lua enquanto a maioria dos brasileiros nem sequer sabem se situar no planeta em que vivem. Não conhecem o chão em que pisam e muito menos o céu que os envolvem. Um analfabetismo cósmico incompatível ao Século Espacial que vivemos. Tudo começa nos bancos escolares e isso demonstra o quanto nossas escolas tem falhado em fornecer aos alunos conhecimentos básicos tanto milenares quanto atuais. Um dos papeis mais importantes da astronomia é justamente propiciar uma avaliação e promover uma reflexão nas metodologias presentes nos currículos escolares e na utilização de recursos diversos.
Nota-se em nosso sistema educacional que os conteúdos estão mal inseridos e precisam ser reformulados. A avidez dos alunos por temas espaciais e astronômicos, constantemente presentes na mídia e feiras de ciências, torna essas disciplinas uma área privilegiada para motivação em temas conexos como matemática, física, geografia, meio ambiente e ciências atmosféricas entre outras. As pesquisas indicam que a problemática no ensino de noções básicas de astronomia e astronáutica, é um reflexo da formação inicial de professores. Não são contemplados adequadamente a inclusão de conteúdos conforme previsto pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da Educação Básica. Recebem o diploma sem aprenderem a transmitir noções básicas do mundo em que vivem e do universo que os cercam.
Participação dos professores em cursos e seminários continua sendo a melhor ferramenta para aquisição de conhecimentos nessas áreas, evitando assim o constrangimento na sala de aula diante das perguntas dos alunos que, mercê os meios de comunicação, querem saber respostas e explicações do que se passa em seu mundo e no espaço. Assim, noções básicas de astronomia precisam ser ensinadas não somente para cumprir o estabelecido no currículo escolar como e principalmente para que os alunos percebam a estreita relação desta com outras ciências com ênfase nas tecnologias geradas no espaço. É por demais sabido que não há futuro para um país que não investir nessa área onde pontificam os satélites artificiais, responsáveis pela área de comunicações, monitoramento do clima e do que acontece na superfície do planeta.
Nesse contexto a participação das escolas de ensino médio e fundamental na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, OBAA, tem proporcionado um notável avanço na motivação e formação dos jovens do Século Espacial. Paralelamente a OBAA, realiza-se com invulgar sucesso os Encontros Regionais de Astronomia, EREA, para que os professores coloquem em dia esses conhecimentos que faltaram em sua formação. A realização da OBAA em todo o território nacional, é um sucesso absoluto com participação de mais de 1,5 milhões de alunos. Por outro lado merece destaque a iniciativa de vários colégios em construir observatório astronômico em suas unidades. Em Campinas, SP, temos um no Colégio Sagrado Coração de Jesus; em São Paulo, capital, no Colégio Magno , em Taubaté no Colégio Progresso e em Itatiba no Colégio Integrando ; em Belo Horizonte, capital, nos colégios Santo Agostinho e Dorotéia ; em Fortaleza, CE, nos colégios Christus e Sete de Setembro; em Curitiba no Colégio Estadual do Paraná; em Araracruz, ES, no Colégio Pitágoras e em Conselheiro Lafaiete, MG no Colégio N.S. Nazaré só para ficar nesses exemplos. Por outro lado, clubes de astronomia em colégios são tantos, que ainda não há um censo para saber quantos são.
É já um avanço significativo e, talvez num futuro não muito distante, possamos imitar a Argentina e o Uruguai que há muito tem a astronomia presente no currículo escolar. E pensar que também a tínhamos até 1930 quando então o Ministro da Educação achou por bem subtraí-la . Restou-nos dessa época alguns fragmentos vagamente enfocados em alguns livros de geografia.
Educar é ensinar a felicidade formando mentalidades para o mundo do amanhã. Infelizmente a sala de aula vem dando lugar a ‘chupeta eletrônica’, afastando cada vez mais o professor daquele contato pessoal outrora presente na sala de aula. É o ônus do progresso nem sempre salutar.
Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.


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