quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Sinais no céu MAGOS NÃO FORAM ATRÁS DE UMA ESTRELA

                                                                                                Nelson Travnik
                                                                                                                nelson-travnik@hotmail.com



Todos os anos não há quem fique indiferente diante da beleza do presépio iluminado por uma estrela ou um cometa. O Natal é sempre um momento mágico para a cristandade. No presépio são vistos três Magos vindos do Oriente. De passagem por Jerusalém teriam perguntado: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos homenageá-lo”. Assim começa o capítulo dois do Evangelho segundo Mateus. Era essa a informação que os Magos, sacerdotes do zoroatrismo, religião devida a Zoroastro que viveu no século VII a.C. e cuja bíblia é o Zend Avesta, possuíam. Um evento celeste indicava o nascimento de um líder daquele povo, cujos ancestrais viveram na Babilônia e lá deixaram marcas importantes do seu monoteísmo antes de voltarem para Canaã e codificarem suas leis. A partir deste relato, muitas teorias têm sido propostas para identificar a real natureza daquele evento cósmico. Para que um astro pudesse impressionar as pessoas só poderiam ser um cometa brilhante, uma estrela nova ou supernova, um alinhamento planetário, raras conjunções muito próximas entre planetas e estrelas e mesmo a tese que nenhum fenômeno celeste tenha de fato acontecido. Pesquisas modernas através de computadores de última geração aliados a representação do céu daquela época no Planetário, apontam para uma raríssima conjunção tríplice entre Júpiter e Saturno na constelação de Peixes. Essas conjunções ocorrem quando ambos estão em oposição ao Sol e devido ao movimento combinado, faz com que Júpiter cruze com Saturno três vezes. Utilizando o método computacional, a conjunção foi vista em 1940, 1980 e irá ocorrer novamente em 2238 e 2279. Tendo em vista que o fenômeno ocorreu em 29 de maio, 1º de outubro e 4 de dezembro do ano 7 a.C. na constelação de Peixes, é importante lembrar que esta constelação simbolizava tradicionalmente o cristianismo, dois peixes, um em cima do outro em sentido opostos. Cálculos mostram outrossim que a mudança equinocial de Áries (Carneiro) para Peixes ocorreu no ano 54 a.C. Essa conjunção tríplice foi excepcional, comprovada pelos computadores da NASA, dotados de um software especialmente criado para perscrutar como as estrelas e planetas se comportaram àquela época longínqua. A pesquisa mostrou os dois planetas muito próximos um ao outro, provavelmente menos de 0,5 graus e que, somados os brilhos, naturalmente chamou a atenção dos Magos. Não somente a constelação de Peixes e o brilho dos planetas, acrescente-se o significado de Júpiter, poder e Saturno, realeza. Como sabemos, a estirpe de Jesus era da casa de Davi. Não existe nos evangelhos uma data precisa para o nascimento de Jesus. A única referência sobre a “estrela de Belém” é do evangelho de Mateus escrito em aramaico e que não chegou até nós, pois se extraviou no ano 70 d. C. O certo é que na região em que Jesus nasceu o frio é intenso em dezembro, janeiro e fevereiro e, por conseguinte, imprópria para que os pastores permanecessem no campo com seus rebanhos. A data de 4 de dezembro deve ser, portanto, descartada e com isto a data de 1º de outubro ou próxima dela merece ser considerada. Como sabemos, impossibilitada de precisar a data, a Igreja para se impor aos adeptos do mitraismo, culto pagão a Mitras, o deus de luz dos persas e que era a mais popular festa romana pagã, colocou o Natal em 25 de dezembro substituindo assim as Saturnais comemorando o “Natalis Solis Invicti” – Nascimento do invencível deus Sol – por uma grande festa cristã. Alguns estudiosos acreditam que o nascimento ocorreu no dia 12 de novembro quando a constelação de Peixes estava sob o horizonte sudeste de Belém com Júpiter e Saturno em magnífica conjunção. A história nos diz que o reinado de Herodes, o Grande, na Judéia, estendeu-se entre os anos 37 a.C. até 4 a.C. como da sua morte em abril/maio. Isto coloca a conjunção tríplice nos últimos anos do seu reinado. Trata-se, pois, de um fenômeno celeste notável, de grande significado astronômico e místico para os Magos e que bem poderia representar uma peregrinação de Leste para Oeste. E que não eram reis e sim sacerdotes do zoroatrismo, sábios observadores do céu e muito conceituados entre os medas e persas. Foi um escritor inglês chamado Beda que em 673 os batizou de Gaspar, Melchior e Baltazar. A tradição da Igreja considera três por terem sido três os presentes dados ao recém-nascido: incenso, ouro e mirra, uma resina aromática. Note-se que as igrejas síria e armênia falam em doze. Sejam estas ou outras hipóteses, é praticamente impossível determinar com precisão a data de um fato ocorrido há mais de dois milênios. Seria um transtorno geral, ou mesmo universal, se tivéssemos de comemorar o Natal não em dezembro, mas em outra época conforme as pesquisas feitas. O importante é que um fenômeno astronômico extraordinário marcou indelevelmente a maior data da cristandade, tão relevante que dividiu a história em antes e depois de Cristo.


Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

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