Nelson
Travnik
Imagem: Pixabay |
Desde
os albores da civilização, o calendário apoiado na rotação e
translação da Terra ao redor do Sol, ensina-nos a contar nossos
dias e nossos anos. A sabedoria do tempo se resume em duas frases :
Tempus Fugit , o tempo passa célere, tudo é efêmero. A segunda
também aconselha: Carpe Diem , aproveite o dia como se fosse um
fruto maduro e delicioso que precisa ser comido hoje para que não
esteja bom amanhã. Não é possível sentir o perfume das flores
que já morreram. Não é possível sentir o perfume das flores que
não nasceram. Só é possível sentir o perfume das flores que estão
abertas hoje. O passado é o lugar da vida que não mais é. O futuro
é o lugar da vida que ainda não aconteceu e não há nenhuma
certeza de que vá acontecer. Tempo sem fim é insuportável. Já
imaginaram um livro sem fim, um poema sem fim, uma musica sem fim, um
beijo sem fim? Tudo que é belo tem de terminar. Beleza e morte
caminham de mãos dadas. Quando nascemos estamos programados para
morrer. Quando nascemos todos sorriem. Quando morremos todos choram e
só nós sorrimos. Deixamos o corpo como uma roupa usada e nos
revestimos de outra nova. Porque a alma é imortal e certamente
iremos caminhar numa vereda de luz, tranqüilidade e paz. Em nossa
vida terreal, há contudo momentos fugazes que justificam toda uma
existência . É quando os olhares se cruzam e você depara com uma
possível alma gêmea. As vezes é uma ilusão, termina e renasce um
novo amor, um momento mágico que dura até os momentos finais.
Vivemos sob o feitiço do tempo e de repente achamos que a vida é
como uma sonata que começa e deve terminar como na velhice. Puro
engano. Vivemos no tempo mas é a eternidade que dá sentido a vida.
Quando em nós desperta um sonho rumo a um objetivo na vida e sobre
ele nos lançamos com toda a força da alma, tudo conspira a nosso
favor. É isso que dá sentido a nossa efêmera existência. Se somos
programados para a vida além da vida, a ciência chegou a um
consenso: o cérebro foi desenvolvido pelas forças evolutivas para
extrair sentido do mundo que nos rodeia. As descobertas da física
quântica sobre o tempo proporcionam uma pista de que a morte não
corresponde necessariamente ao termino da existência de um ser e sua
finalidade se relacionaria também a existência da alma . Muitas
milenares e modernas filosofias apontam também para uma evolução
espiritual. Elas permeiam o imaginário e estão nas conversas,
livros, revistas, filmes, documentários e em muitos livros sagrados
. Se Deus é uma invenção humana, como afirma o ateísmo, por que
cair no ridículo tentando conversar com ele ? Há poucos anos
rezava-se cada vez menos e isso só acontecia nos momentos de extrema
necessidade. Essa idéia parecia definitiva mas bastaram umas poucas
voltas da Terra ao redor do Sol e a sonda americana Voyager 2
fotografar a Terra como um diminuto e quase imperceptível pálido
ponto azul, para que as pessoas voltassem sobre si mesmo e
redescobrissem o valor da prece como um canal de comunicação com o
divino. Atualmente nem as potentes câmeras da sonda americana
Voyager 2 conseguem mais visualizar nosso planeta. Perdido na
imensidão cósmica, toda sua história, conquistas, deuses e heróis,
nada significam. E nessa contemplação retrospectiva, as pessoas
sentem atualmente um inusitado interesse e fascínio pela existência
da alma e com a vida após a morte. São questões que repousa na fé
de cada um mas que há muito vem sendo também objeto de pesquisa
científica.
Nelson
Travnik é astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de
Piracicaba Elias Salum, SP e Membro Titular da Sociedade Astronômica
da França.
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