A
maioria só lembra dele ao ver seu nome inserido em avenidas, ruas,
praças, colégios e instituições diversas. Só lembram dele apenas
como um velhinho bondoso, sendo banido do País com toda sua família
pelo golpe militar de 15 de novembro de 1889. Infelizmente a maioria
desconhece muitos fatos relevantes da memória histórica nacional e
nesse contexto está a figura excelsa do nosso Imperador D. Pedro II
e suas realizações em uma época que os brasileiros se orgulhavam
de pertencer a um País de Primeiro Mundo. Depois dele veio o
presidencialismo mergulhando o País no Terceiro Mundo, causando mais
dissabores do que alegrias.
D.
Pedro II, nasceu no Rio de Janeiro, no Paço de São Cristovão, aos
20 minutos do dia 2 de dezembro de 1825 portanto, há 195 anos. Era
filho de D. Pedro I e da Imperatriz Leopoldina, Arquiduquesa da
Áustria. Com a abdicação do pai, foi entronizado em 7 de abril de
1831. Por ter apenas 5 anos, ficou entregue a tutoria de José
Bonifácio de Andrade e Silva, Patriarca da Independência,
substituído em 1833 pelo Marquês de Itanhaém e logo depois em
1839, por Candido José de Araujo Viana. Após nove anos de lutas
internas e tumultos que o período regencial não conseguia
contornar, a maioridade de D. Pedro II foi declarada pela Assembléia
Legislativa em 23 de julho de 1840, na palavra do seu presidente,
Marquês de Paranaguá. Era um adolescente de pouco mais de 14 anos.
Em 18 de junho de 1841, ele recebeu a espada, cetro, coroa, globo e a
mão da justiça na festa da Sagração e Coroação na Capela do
Carmo, na Praça 15. Com 15 anos prestou seu juramento
constitucional. Desde cedo nutria especial interesse por história,
filosofia, música, literatura, biologia, medicina, arqueologia,
matemática e astronomia. Essa última talvez, a sua maior paixão.
Poliglota falava 16 idiomas. Com o tempo adquiriu conhecimentos
enciclopédicos, que mais tarde o conduziriam a Academia de Ciências
da França. Assegurou a independência do Uruguai e do Paraguai, além
de sufocar cinco revoluções, garantindo 40 anos de paz interna, que
veio contribuir decisivamente para a libertação de dois milhões de
escravos. Sábio e magnânimo, era para Gladstone, uma dos maiores
estadistas ingleses, “modelo para todos os soberanos do mundo”.
Em
15/10/1827, seu pai criou por Decreto, no Rio de Janeiro, o Imperial
Observatório, o 1º do hemisfério sul. Mas foi a partir de D.
Pedro II, astrônomo amador, sócio nº 85 da Sociedade Astronômica
da França, que o Observatório ganhou notoriedade com a contratação
dos astrônomos Emmanuel Liais da França (1826-1900) e Louis Cruls
da Bélgica (1848-1908). D. Pedro II dedicou-se a instituições
científicas e culturais; construção de estradas de ferro, de
rodagem, telégrafos por cabos submarinos e usinas hidroelétricas.
Construiu em Juiz de Fora, MG, a Primeira Usina Hidroelétrica da
América do Sul. Quando terminou o Império, o Brasil possuía 9.583
km de ferrovias. Em 1876 foi aos Estados Unidos conhecer o recém
inventado telefone e, no ano seguinte, deu uso prático a ele no Rio
de Janeiro, antes mesmo daquele país onde era apresentado em feiras
como brinquedo. Fomos assim, o segundo pais do mundo a utilizar o
telefone. Depois da Inglaterra, o Brasil em 1843 foi também o
primeiro a emitir o selo postal e no ano seguinte iniciou-se a
entrega de cartas a domicilio. A telegrafia teve inicio em 1852. Em
1854 foi inaugurada a iluminação a gás nas ruas centrais do Rio de
Janeiro. No campo da Defesa Nacional, nossa Marinha estava entre as
primeiras do mundo. Abriu o País a colonização estrangeira,
principalmente a italiana e alemã que geraram uma prosperidade até
hoje desfrutada de São Paulo ao Rio Grande do Sul. Patrocinou os
estudos na Itália do campineiro Antonio Carlos Gomes, que se
tornaria o maior compositor das Américas. Ajudava Richard Wagner,
que chegou a cogitar em retribuição, estrear no Rio de Janeiro a
sua imortal opera ‘Tristão e Isolda’. Em 1876 esteve em
Bayreuth, Alemanha, ao lado de reis, príncipes, intelectuais e das
maiores expressões do mundo artístico, por ocasião da inauguração
do Festspielhaus, o Templo da Música Wagneriana. Em 24/06/1994
visitei o Teatro e me foi mostrado o camarote com a cadeira onde ele
se sentou. Em 06/12/1882, financiou 3 missões científicas para
observação do trânsito do planeta Vênus pelo disco solar, evento
esse que só voltaria acontecer em 08/06/2004. Você sabia que o
asteróide nº 293, Brasília, descoberto em 1890 pelo astrônomo
francês A. Charlois recebeu esse nome em homenagem a D. Pedro II ?
Doou vários instrumentos ao Imperial Observatório dentre eles uma
luneta astrográfica que deveria ser usada no Programa Internacional
da Carta do Céu. Outros instrumentos adquiridos por ele na
Inglaterra chegaram justamente à época da Proclamação da
República, e os republicanos não perderam tempo: mandaram tudo de
volta!
O
Imperador que deslumbrou intelectuais como Victor Hugo, Julio Verne,
Lamartine, Renan, Denis, George Sand, Maspero, Prud’home,
Flammarion, Sant Saëns e tantos outros, faleceu de pneumonia aos 30
minutos do dia 5 de dezembro de 1891 aos 66 anos. Seu corpo foi
vestido com a farda de General do Exército Brasileiro. No caixão,
sua cabeça recostava num travesseiro de veludo recheado com terra do
Brasil. Cerca de 300 mil franceses, mais do que no enterro do imortal
Victor Hugo, prestaram a sua última homenagem ao Imperador do
Brasil, quando seu corpo foi transportado para Lisboa onde ficaria
até 1921. Neste ano, revogada a Lei do Banimento, seus restos
mortais foram trazidos pelo Encouraçado São Paulo e depositados na
Catedral do Rio de Janeiro. Em 1925 foram para a Catedral de
Petrópolis, na ala destinada a Família Imperial, onde encontra-se
em paz, cercado do carinho e admiração de todos que o visitam. Hoje
historiadores sérios atribuem a D. Pedro II, o título de “O Maior
dos Brasileiros” e sua devoção a ciência do céu, certamente
levou seu espírito para junto das estrelas.
Nelson
Travnik é astrônomo, petropolitano, diretor do Observatório
Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade
Astronômica da França.
É admirável saber que D.Pedro II teve interesses tão abrangentes nas artes e nas ciências, além da Astronomia. Como soberano, quis aparelhar o país com as melhores técnicas e modernidades, posicionando-o como uma das grandes nações do mundo. Ele possuía uma qualidade rara, que infelizmente falta na grande maioria dos nossos políticos e governantes: o patriotismo! Realmente, a nossa memória é muito fraca para reconhecer e valorizar os grandes brasileiros. E este artigo sobre o imperador foi uma homenagem muito oportuna, didática e justa.
ResponderExcluir