Nelson
Travnik
Nesse
domingo estamos comemorando o Dia da Bandeira. A Bandeira do Brasil é uma das
mais belas e sugestivas do mundo e também a única que representa grande parte
do firmamento que envolve a Terra. É a mais completa ilustração já imaginada
para uma bandeira nacional.
A data de 19 de novembro foi instituída através de
decreto em 1889. A bandeira que conhecemos hoje é uma versão moderna da
utilizada quando o Brasil era um Império. As cores representavam a família
real: o verde em homenagem a D. Pedro II e o amarelo a imperatriz Leopoldina. A
nova bandeira foi estabelecida pelo decreto nº 4 de 19/11/1889, redigido por
Rui Barbosa e assinado pelo Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, chefe do
Governo Provisório, Quintino Bocaiúva, Aristides da Silveira Lobo, M. Ferraz de
Campos Sales, Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Eduardo Wandenkolk e Rui
Barbosa que manteve as cores originais, mas a simbologia ganhou outros
significados: o verde das matas, o amarelo das riquezas, o azul do céu e o
branco da paz.
O hasteamento
da Bandeira ao som do Hino Nacional é sempre um momento de muita emoção,
patriotismo e que nos remete ao passado, ao presente e ao futuro, cientes de
que, em momento algum nos curvaremos a quaisquer tentativas de adulteração de
suas cores. Algumas escolas mantém cerimônia de hasteamento.
UM CÉU DE POLEMICAS
O
céu estampado na bandeira corresponde a uma visão da esfera celeste inclinada
segundo a latitude do Rio de Janeiro, local da Proclamação da República, ás
08h30 do dia 15/11/1889. Uma consulta a
uma simples carta do céu bem como, se nessa hora acontecesse no Rio um eclipse
total do Sol, mostraria que o céu da bandeira está às avessas. A posição das
estrelas não coincide em suas posições e magnitudes aparentes. O erro mais
grosseiro é a do Cruzeiro do Sul onde a posição da estrela épsilon, conhecida.
como “intrometida” e que representa o Estado do
Espírito Santo, está invertida bem como, entre outras, a constelação do
Escorpião. Ninguém observa esse aspecto do céu e nunca o observou. Cumpre
lembrar que as bandeiras da Austrália, Nova Zelândia, Papua-Nova Guiné e Samoa
Ocidental também ostentam a constelação do Cruzeiro do Sul, contudo, tal como a
vemos no céu. A reação não se fez esperar e a questão foi debatida nos jornais,
na tribuna do Congresso e até o povo foi instado a opinar. Mas tudo ficou
esquecido. Os legisladores na ocasião procuraram uma justificativa para amenizar
e convencer os leigos que aquele céu visto ás 08h30 no dia 15 de novembro, em
pleno dia, estaria refletido nas águas da baia da Guanabara!!! Outros argumentaram que era o céu visto por
um observador situado fora da esfera celeste o que implicava ser um astronauta
quando tal não era ainda sequer cogitado. Aliás, é o que mais tarde foi inserido na Lei
nº 5.443 de 28/05/1968. Art. 3º, § 1º, para justificar o erro.
O QUE FAZER?
O projeto poderia ser realizado corretamente com a
tarefa a cargo dos astrônomos do Observatório Nacional que estavam ali
pertinho, no bairro de São Cristovão. Porque isso não foi feito? Talvez por
puro revanchismo. Os republicanos sabiam que o Imperador era astrônomo amador,
amava Astronomia, tinha um pequeno observatório no telhado do Palácio Imperial
de São Cristovão, hoje Museu Nacional, frequentava o então Imperial
Observatório, custeava expedições científicas para observação de raros
fenômenos celestes, contratava renomados astrônomos europeus para aqui
trabalhar e era Membro Titular da Sociedade Astronômica da França. Mais tarde foi imortalizado no asteróide
“Brasilia” por A. Charlois (1864-1910) do Observatório de Nice, França.
Reproduzindo o céu de forma correta mostraria o céu tal qual o vemos e que pode
ser conferido no dia 20 de maio ás 20h00 pois a situação se repete com o
Cruzeiro do Sul alto no céu no meridiano do Rio de Janeiro. A faixa ORDEM E
PROGRESSO, que representa a Eclíptica estaria, também, disposta de forma mais
correta no campo estelar com a palavra PROGRESSO na porção ascendente da faixa.
Todos os erros astronômicos constam de dois livros: “A Bandeira Nacional” de
Eduardo Prado publicado nem 1903 e depois pelo IBGE e “A Bandeira Nacional” de
Rubens de Azevedo publicado em 1988 pela Edições Tukano, Artes &
Literatura. A mudança seria simples, poucas pessoas notariam a diferença e o
mais importante: mostraria o céu de acordo com o que vemos. Mas após décadas,
fica difícil proceder modificações agora que todos estão solidários com a
Bandeira. O mais sensato é, portanto, deixá-la como está e considerar então que
tudo é simbólico e as estrelas nas constelações estão como se fossem atiradas
ao acaso. “Cientes de que nada é perfeito, orgulhamo-nos de que a nossa Bandeira
contenha lineamentos fundamentais de cultura humana, segmentos de nossa
história e projetos permanentes de realizações futuras. A Bandeira ai está mais
gloriosa que nunca “. (Raimundo O. Coimbra).
VOCÊ SABIA?
· A bandeira pode ser hasteada e arriada a qualquer hora
do dia ou da noite, mas normalmente isso é feito das 08h00 às 18h00. Apenas no
Dia da Bandeira o hasteamento é realizado às 12h00 em solenidade especial.
· A bandeira pode permanecer hasteada durante a noite,
porém deve estar iluminada.
· Quando várias bandeiras são hasteadas ou arriadas
simultaneamente, a bandeira brasileira é a primeira a atingir o topo do mastro
e a última a descer.
· Quando o presidente do Brasil morre ou alguém muito
importante e se decreta luto oficial, a bandeira deve ser hasteada a meio
mastro.
· Quando uma bandeira fica velha, ela é guardada até o
dia 19 de novembro, quando é então queimada em uma cerimônia.
· A Bandeira do Brasil é uma das poucas a não possuir as
cores preta e vermelha, que são associadas a batalhas e sangue.
Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da
Sociedade Astronômica da França.
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