Imagem apenas ilustrativa Fonte: google imagens |
Nelson Travnik
Enormes
pedras de gelo caem em Campinas e Itapira,SP, provocando estragos e sustos. Pelas suas
proporções, evento ainda é um mistério.
É como se poderia chamar um fato insólito, único
talvez no mundo, acontecido em Campinas e Itapira, SP, na manhã de 11 de julho
de 1997. Um bloco de gelo pesando entre 200 a 300 kg caiu do espaço em um
prédio da Montadora Mercedes Benz no Distrito Industrial, próximo a Rodovia
Santos Dumont, causando um rombo de 1,5 X 2,0 metros em telha de amianto com 1
cm de espessura, estilhaçando e amassando uma porta de aço. Isso ocorreu com o céu
completamente claro, típico de inverno, sem nuvens. As hipóteses de formação de
bloco de gelo pela atmosfera em estrutura de aeronave voando acima de 6.000
metros de altitude foram descartadas por se tratar de uma formação com peso
totalmente fora dos padrões conhecidos. Alguns pedaços recolhidos foram
conservados em um freezer e enviados a UNICAMP.
EM ITAPIRA
Em 18 de julho, uma semana mais tarde, outro bloco de
gelo estimado em 50/60 kg caiu no Sítio São Luiz, a 2 km ao sul da cidade de
Itapira,SP, chegando a abrir um buraco de 25 centímetros de profundidade. A
exemplo de Campinas, o céu estava completamente claro. As coordenadas dos dois
locais e o ângulo de choque aproximadamente 30 graus no sentido leste-oeste
verdadeiro, mostram uma origem comum. Segundo testemunhas, o bloco de gelo caiu
numa velocidade extremamente alta causando ruído semelhante ao de um avião a
jato. Felizmente 0,8 kg foram guardados em um saco plástico e conservados em um
freezer para estudos na Casa de Agricultura de Itapira e posteriormente
enviados a UNICAMP.
Pesquisadores nas áreas de meteorologia e astronomia
foram unânimes em dizer que desconheciam até aquele momento esse tipo de
fenômeno. As análises químicas feitas na UNICAMP – CEPAGRI – CENTRAL ANALÍTICA
– INSTITUTO DE QUÍMICA, no CENA – USP de Piracicaba e posteriormente no
prestigioso Sandia National Laboratory, EEUU, não acusaram nenhum traço de
insetos e resíduos de vegetação que indicassem contaminação terrestre. Convidado na ocasião como
especialista na área de cometas, tendo já publicado um livro sobre o assunto,
desde o inicio, examinando o material, optei serem os mesmos pedaços de um
cometa, um ‘hidrometeorito cometário’, uma vez que o percentual de gelo nesses
astros é muito grande e que vez por
outra ocorre o esfacelamento do núcleo no espaço provocado pela fraca coesão
dos seus componentes submetidos a temperaturas elevadas ao se aproximar do Sol
e efeitos gravitacionais. Minha opinião partilhada por alguns colegas desta
área, encontrou respaldo logo a seguir com a hipótese do físico Louis A. Frank
da Universidade de Iowa,EEUU, segundo o qual, milhares de pedaços de gelo
bombardeiam a Terra, quebrando-se em pedaços na alta atmosfera onde o gelo desintegra-se e
se mistura as nuvens e cai em forma de chuva. A hipótese do físico americano
não levada a serio pelos cientistas, viu-se comprovada posteriormente por
câmaras sensíveis no ultravioleta a
bordo de artefato espacial polar da NASA. Para Frank, esse bombardeio durante
bilhões de anos pode ter formado os oceanos e até trazido carbono suficiente
para dar inicio a vida na Terra. No caso de Campinas e Itapira, pedaços tão
grandes de gelo que entraram na alta
atmosfera, submetidos a um desgaste muito grande, deveriam pesar no espaço
várias toneladas ! Nesse particular, o evento foge aos padrões conhecidos e ainda é motivo para melhores estudos e
pesquisas.
Nelson Travnik é diretor do Observatório Astronômico
de Piracicaba Elias Salum, SP e Membro Titular da Sociedade Astronômica da
França.
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