Nelson
Travnik
Há 50 anos, vibrações estelares captadas
por um radiotelescópio seriam obras de ETs. Muitos acreditaram ser um código
para estabelecer contato com os terráqueos.
Em julho de 1967, a irlandesa Susan Jocelyn Bell
Burnell (1943 - ) detectava acidentalmente com o radiotelescópio da
Universidade de Cambridge, Inglaterra, um sinal muito regular – pulsos de
radiação que se sucediam a uma freqüência de um por segundo . Em parceria com
seu orientador, o radioastrônomo inglês
Antony Hewish (1924 - ) pensaram num primeiro instante tratar-se de um sinal
emitido por uma forma de vida extraterrestre. Essa hipótese incendiou a mente de
multidões : finalmente havíamos recebido
sinais dos nossos irmãos do espaço ! Os sinais foram atribuídos a “pequenos
homens verdes” conhecidos pela sigla LGM (Little Green Men) Uma outra hipótese entretanto, para explicar
a regularidade precisa das emissões, era de que os sinais provinham de
perturbações terrestres como o facho periódico de um farol que gira. Mas a
regularidade dos pulsos demonstrou que se tratava de algo novo.
Não tardou muito para que Bell descobrisse que certos
sinais pulsados de radio, chegavam com enorme precisão a cada 1,33728 segundos
vindos da constelação de Vulpecula (Raposa). Outros sinais foram identificados
por Hewish no centro da nebulosa do Caranguejo da constelação zodiacal do
Touro. Identificado o objeto no coração da nebulosa, viu-se tratar de um novo
tipo de estrela que recebeu o nome de pulsar, oriundo da contração de expressão
inglesa “Pulsating Radio Sources” que equivale a ‘fonte de radio pulsante’.
Coube a Thomas Gold (1920-2004) verificar que os pulsares eram estrelas de
nêutrons em rotação. Identificados, eles emitem em todos os domínios dos
comprimentos de onda das faixas de radio. A partir da descoberta, observações em
outras faixas do espectro eletromagnético demonstrou que os pulsares podem ser
observados não só em raios gama e raios X bem como em luz visível. Utilizando
técnicas fotográficas ultra-rápidas, foi possível flagrar as pulsações do
pulsar da nebulosa do Caranguejo. Desvendado o ‘mistério’ tornamos a ficar
isolados no universo.
O que são?
A existência de estrelas formadas basicamente de
nêutrons, foi proposta em 1932 pelo físico russo Lev Davidovich Landau
(1908-1968) pouco depois de se descobrir que essa partícula (juntamente com
prótons e elétrons) formava o átomo. Esse modelo concebido pelo astrofísico
Walter W. H. Baade (1893-1960) e pelo astrônomo suiço Fritz Zwicky (1898-1974),
foi confirmado com a observação da supernova de Shelton SN 1987, em 1987, na
Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia satélite da nossa galáxia. Sua massa
inicial estava compreendida entre 8 e 20 massas solares. Estrelas de nêutrons é,
pois, a explosão final de uma estrela solitária de grande massa. Quando no
momento da explosão, ela brilha com luminosidade de uma galáxia inteira! São
objetos extremamente compactos e sua compacidade pode ser entendida pela
densidade que é definida pela massa de um dado volume. A água por exemplo, tem
densidade de um grama por centímetro cúbico. A densidade do ouro é 19 vezes
maior. Qual seria a densidade em uma estrela de nêutrons ? Praticamente
inimaginável. Elas tem densidade de 100 milhões de toneladas por centímetro
cúbico (densidade do núcleo atômico) ! No espaço de uma colherzinha de chá por
exemplo, seria algo de milhões de toneladas ! Com exceção dos buracos negros, é
a maior compacidade conhecida. Isso pode ser entendido para uma estrela centenas ou milhares de vezes maiores que o
Sol e que, após a explosão, converte-se a uma esfera de 20 km de diâmetro. E
como explicar a vertiginosa rotação da estrela? É o que em física é conhecido
como conservação de momento angular. Vejamos : uma estrela comum tem velocidade
de rotação de algumas dezenas de quilômetros por segundo. A rotação das
estrelas de nêutrons é algo inimaginável – a cada pulso observado ela completa
uma volta e essa volta se dá a centenas de pulsos por segundo ! A rotação mais
rápida observada emite 716 pulsos por
segundo o que significa que ele gira mais de 700 vezes por segundo em torno do
seu próprio eixo ! Mais tarde os
astrônomos constataram que a maioria das estrelas de nêutrons não são pulsares
pois sua emissão de radio já terminou há muito tempo, pois sua vida média é de
só 10 milhões de anos a não ser que seja uma binária (duas estrelas submetidas
aos mesmos laços de gravitação). A estrela de nêutron, um pulsar, é pois a
resultante de uma estrela massiva que ao explodir se transforma em uma bela e
grandiosa nebulosa, contendo gases, poeira e outros elementos que irão
contribuir para a formação de novas estrelas e com isto sistemas planetários
similares ao nosso. Nascimento, vida, morte e renascimento. Eis a tônica que
prevalece no Cosmo.
Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da
Sociedade Astronômica da França.
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