domingo, 22 de janeiro de 2017

O ECLIPSE DE FLAMMARION



Nelson Travnik

Como amplamente divulgado no meio astronômico, no próximo dia 26 de fevereiro estará ocorrendo um eclipse anular do Sol, cuja faixa de anularidade passará pela parte sul do Oceano Pacífico e do Oceano Atlântico, indo atingir a África em Angola. O eclipse pertence ao Saros nº 140. Para nós, o interessante é que ele será observado também do Brasil como parcial, e da Argentina e Chile em toda a sua plenitude, o que favorece uma viagem a esses países vizinhos. A esse respeito, várias associações e clubes de astronomia da Argentina estão programando observações e os interessados do Brasil já estão se monopolizando para observar o fenômeno junto com nossos “hermanos”. As efemérides para o Brasil podem ser conferidas no Anuário Astronômico Catarinense 2017 do nosso colega Alexandre Amorim, onde podemos conferir a fração (percentual) eclipsada do diâmetro solar para 20 capitais do País, com os horários já para o fuso de Brasília (GMT -3), bem como a alt. e az.. Em São Paulo esse valor será de 51%, no Rio de Janeiro de 54%, em Belo Horizonte de 44% e assim por diante. O maior percentual será em Porto Alegre com 65%.
Em São Paulo o início será às 10:02:47, máximo 11:30:11, fim 12:59:44, alt. 71°, az. 40°. Em Belo Horizonte início às 10:16:57, máximo 11:43:18, fim 13:09:16, alt. 77°, az. 29°. No Rio de Janeiro início às 10:10:29, máximo 11:40:46, fim às 13:10:50, alt. 74° az. 23°.
Os últimos eclipses anulares do Sol visíveis no Brasil foram: 24/12/1973, 10/08/1980, 29/03/1987 e 29/04/1995, este último visível na região norte do País, e observado entre outros por Marcomede R. Nunes, do Observatório Nacional, de saudosa memória.



Proponho que este eclipse seja conhecido como “O Eclipse de Flammarion” e as razões são simples: nesse dia, em 1842, nasceu num sábado a uma hora da manhã, no povoado de Montigny-le-Roi, Haute Marne, um dos maiores divulgadores da astronomia de todos os tempos, responsável pela eclosão de milhares de mentes voltadas à ciência do céu: Camille Flammarion (1842-1925). Acrescente-se que Flammarion na manhã de 9 de outubro de 1847, com apenas 5 anos, teve oportunidade de observar um eclipse solar anular, com a faixa de anularidade passando sobre Montigny-le-Roi onde morava. Esse evento o impressionou e marcou profundamente, e foi o início para sua gloriosa carreira dedicada à ciência do céu. Flammarion, que no significado galo-romano é “aquele que leva a luz”, certamente o fez levando a luz das estrelas a multidões de pessoas interessadas em conhecer o céu e o que só a ciência astronômica é capaz de responder: de onde vim, onde estou e para onde vou. A data de 26 de fevereiro é também importante na astronomia pois assinala o nascimento em 1786 do notável astrônomo Dominique François Arago, como também em 1802 do imortal escritor e admirador de Flammarion, Victor Marie-Hugo, ambos franceses.

O autor é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

Referências:
Amorim, Alexandre, “Anuário Astronômico Catarinense 2017”;
Flammarion, Camille, “Mémoires Biographiques et Philosophiques d’ um Astronome”, Ernest Flammarion, Éditeur, Paris 1911.





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