Nelson Travnik
Já são muitas as escolas
que estão usando um instrumento milenar para enriquecer o estudo nas áreas de
Ciências, História e Geografia.
Os alunos aprendem a construir um relógio de Sol e com isso verificam a
gama de conhecimentos que passam a adquirir como: orientação geográfica pelo
Sol, dia solar e dia sideral, mecanismo das estações do ano, como obter a
latitude local, nascer e por do Sol em diferentes épocas do ano,
estabelecimento do calendário e a importância do uso nas navegações e até na
determinação do limite territorial que dependia da determinação da hora. Os
alunos aprendem que é fundamental conhecer o que é norte geográfico e norte
magnético.
O relógio de Sol ensina
isso, pois para sua instalação é necessário conhecer o norte geográfico e não o
magnético como indicado pela bússola. Por fim, construído o relógio, os alunos
num dia ensolarado no pátio da escola, feito os ajustes finais, aprendem a
orientar o relógio e entender as informações que foram prestadas pelo
professor. Na cidade de Concórdia, SC, todas as escolas municipais a partir de
1996 passaram a contar com um relógio de Sol.
TRABALHO REQUER UMA
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
O
conhecimento da humanidade foi formado durante longos séculos e os relógios de
Sol são parte dessa história. Portanto é necessário envolver os alunos em uma pesquisa bibliográfica.
Desde a pré-história
foram usados como simples estacas fincadas no chão. Contudo foi na Mesopotâmia
que surgiu o relógio de Sol. Mais tarde foram desenvolvidos no Egito
há cerca de 1500 a .C.
Acredita-se que os obeliscos construídos naquele país há 3.500 a .C. tinham também a
função de marcar as horas. Como não era possível saber as horas em dias
nublados, chuvosos e no interior das moradias, os gregos criaram um relógio de
água e deram-lhe o nome de clipsidra. Os egípcios tiveram a idéia de substituir
a água pela areia e criaram a ampulheta. Na Idade Média, a medida do tempo
chegou a ser feita com alfinetes espetados em velas, em alturas previamente
calculadas.
No Brasil o mais antigo relógio de Sol está numa parede na Igreja de S.
Francisco Xavier, em Niterói, RJ, fundada pelo padre José de Anchieta em 1572.
Existem relógios de Sol que fogem ao usual e chamam a atenção das pessoas. Um
encontra-se na sepultura do Senhor Fenelon Ribeiro no Cemitério do Bonfim em Belo Horizonte , MG,
datado de 1977. O outro também em uma sepultura, encontra-se no Cemitério
Municipal de Matias Barbosa/MG, e foi construído pelo autor em 2011 para
adornar o tumulo da família. Um outro, único no País, tem um canhão que dispara
quando o astro-rei cruza o meridiano central da cidade de Piracicaba,SP. Foi
construído também pelo autor e desde janeiro de 2016 está instalado no
Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum constituindo uma grande
atração durante as visitas escolares. Um outro, o maior do Brasil, é o de
Brasília projetado por Oscar Niemeyer e instalado no Parque da Cidade. Para
alguns, o mais bonito é aquele existente de várias faces na Praça N. Senhora da
Conceição em Franca, SP, construído em mármore de carrara pelo frei Germano d’
Annecy em 1886 .
CONSTRUÇÃO
A construção de um relógio
de Sol tem três partes : o ponteiro fixo chamado gnômon paralelo ao eixo de
rotação da Terra; o mostrador ou mesa onde ficam o números que correspondem as
12 horas do dia e as linhas horárias. São de três tipos principais: o
horizontal, o vertical e o equatorial. Este último, o mais fácil de construir é
o preferido, pois utiliza somente um transferidor que possibilita marcar a latitude do local
e não necessita cálculo para determinar os ângulos horários, pois todos eles
tem 15 graus. O relógio de Sol marca o dia solar verdadeiro. Como ele se
adianta, iguala ou se atrasa durante o ano, essa diferença é colocada em uma
tabela chamada Equação do Tempo onde se obtém a hora certa marcada pelos
relógios. Se os dois movimentos da Terra fossem regulares e se o seu eixo fosse
perpendicular ao plano da eclíptica, os dias solares teriam sempre a mesma
duração o que não acontece. Geralmente os relógios de Sol contém frases em
latim ou do idioma do país. A mais comum é aquela: Tempus Fugit, Carpe diem; o
Tempo passa, foge; aproveite o dia. Relógio de Sol: vetustas e silenciosas
testemunhas de um tempo que já passou.
TRABALHO ENVOLVE FAMÍLIAS E
INCENTIVA PARTICIPAR EM
OLIMPÍADA E FEIRAS DE CIÊNCIAS
Além da satisfação, o projeto também envolve as famílias. Em casa
os alunos motivados acabam por envolver os pais na seleção dos materiais
necessários e a testar o relógio. O entusiasmo de alguns chega até a
confeccionar um em material resistente para colocar no jardim da casa. Para os
alunos que participam da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica,
OBAA, os conteúdos abordados nesse projeto envolvendo geografia física,
matemática, desenho e história, possibilitam responder as questões que constam
da prova final. As melhores notas vão desde as medalhas de bronze, prata e
ouro. Ao final, os melhores alunos são selecionados e participam da Olimpíada
Internacional que todos os anos é realizada em diferentes países. Além de
constituir um excelente trabalho de classe, uma outra excelente opção é que,
buscando informações sobre os diferentes modelos de relógios de Sol existentes
no mundo, sintam-se motivados a construir um para apresentar nas Feiras de
Ciências.
Na complementação do
assunto nas escolas, é importante abordar a medição do tempo, desde a
antiguidade aos relógios mecânicos e aos atuais onde a hora é gerada por
relógios atômicos à base de césio, rubídio ou maser de hidrogênio com uma
precisão impressionante: para atrasar um segundo são necessários 10.000 anos!
O
autor é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro
Titular da Sociedade Astronômica da França.
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