Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
A cada
quatro anos temos um ano de 366 dias e com isto este mês teremos mais um dia em
fevereiro. Para os nascidos no dia 29, é a oportunidade de comemorar o
aniversário no dia certo. Para alguns, são anos cercados de mitos, tradições e
crendices.
A
palavra bissexto vem do latim bissextus que significa, duas vezes sexto, ou
seja, que o ano tem 366 dias (duas vezes o número 6). Na prática o calendário é
um conjunto de regras baseadas na astronomia. Grande parte da humanidade
utiliza o calendário gregoriano, criado sob iniciativa do papa Gregório XIII (1512-1585) e introduzido a
partir de 24/02/1582. O ano bissexto surgiu em 238 a.C. em Alexandria, no
Egito, durante a monarquia de Ptolomeu III (246 – 222 a.C.). Foi então
decretada a adição de um dia a cada quatro anos para compensar o excesso de 6
horas na duração do ano de 365 dias. As raízes portanto do ano bissexto está no
Egito. Contudo verificou-se mais tarde que simplesmente o acréscimo de um dia a
cada 4 anos não resolvia o erro acumulativo com o passar dos anos. Algo
precisava ser feito e disso se encarregou o imperador Júlio César (100 -44
a.C.) . Em 46 a.C. apoiado nos estudos do astrônomo grego Sosígenes, instituiu
o seu Calendário Juliano. No inicio tudo funcionava bem. Com o tempo entretanto,
simplesmente adicionar 1 dia a cada 4 anos não resolvia o problema uma vez que
há um diferença entre o dia solar de 24 horas que adotamos, com o dia sideral (rotação
verdadeira da Terra) que é de 23h 56m 04s. Essa diferença entre um e outro de
3m 56s, fez com que após mais de 16 séculos as estações do ano não estavam
acontecendo na época prevista. O equinócio da primavera no Hemisfério Norte
caia por volta do dia 12 de março em vez do dia 21 e isto estava causando
grande transtorno para a agricultura e assim alguém tinha que fazer alguma.coisa. Esse alguém como mencionado, foi o papa Gregório XIII que
para isto consultou o astrônomo, filosofo e cronologista Luigi Giglio
(1510-1576) e depois o matemático, sábio e jesuíta alemão Christopher Clavius
(1538-1612) . O objetivo da mudança era mudar o equinócio da primavera (no
Hemisfério Norte) para 21 de março e desfazer o erro de 10 dias existente na
época. O primeiro morreu em 1576 antes que a reforma fosse concluída e então
coube a C. Clavius estabelecer as novas regras do novo calendário. Este
preconizava que para corrigir a diferença observada no Calendário Juliano só
seriam bissextos os anos seculares divisíveis por 400. Dessa forma a diferença
(atraso) de 3 dias em cada 400 anos observado no Calendário Juliano
desapareceu. Baseados nos estudos feitos por esses dois cientistas, o papa
Gregório XIII editou a bula “Intergravissimas” de 24/02/1582 decretando a
reforma do calendário que utilizamos até hoje. Foi um trabalho que demandou 5
anos. Apesar dos ajustes nos anos bissextos, o ano do Calendário Gregoriano
ainda tem cerca de 26 segundos a mais que o período orbital da Terra que
descreve uma elipse ao redor do astro-rei. Esta falha entretanto só acumula um
dia a mais em 3.323 anos. Portanto daqui a 3.323 anos vai haver um dia a mais.
Com isto surge a pergunta : é viável novo calendário ? Longe disso, visto que
os ciclos naturais dos dias, meses e anos não são redondos, pares perfeitos.
São frações, números quebrados e ai começa um problemão. Por isso tentativas de
mudança já foram feitas mas não vingaram e, por enquanto, tudo fica como está. Por
fim, como tudo envolve o tempo, você já se perguntou o que é o tempo ? Nesse
sentido, recordando o físico alemão Albert Einstein, “o tempo como é conhecido,
não passa de uma “invenção”.
Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da
Sociedade Astronômica da França.
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