sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

UM OLHAR REAL EM DIREÇÃO AO UNIVERSO

                                                                             Nelson  Travnik

Nesta segunda-feira, 2, astrônomos de todo País, estarão comemorando o Dia Nacional da Astronomia, o Dia do Astrônomo. A grata efeméride celebra a data de nascimento de D. Pedro II (1825-1891), o governante que mais fez pela astronomia no País. A escolha teve inicio em Recife, Pe, durante o 2º Encontro de Astronomia do Nordeste celebrado de 30 de junho a 2 de julho de 1978 quando, astrônomos por unanimidade, aplaudiram de pé a moção apresentada pelo Dr. Marijeso Alencar Benevides, Diretor de Relações Públicas da Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia, concedendo a D. Pedro II, o título de Patrono da Astronomia Brasileira. A partir daí a escolha ganhou força e a data passou a comemorar o Dia Nacional da Astronomia, o Dia do Astrônomo oficialmente instituído mais  tarde pela Lei nº 13.556 de 12/12/2017.
A astronomia fascinava o Imperador que nela encontrou a noção do todo, do universo, não havendo limites para sua imaginação. Conhecia a fundo a ciência do céu. No telhado do Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista inaugurado por D. João VI em 6/06/1818, mais tarde Museu Nacional quase destruído por um incêndio em 2/09/2018, tinha um observatório onde atendia alunos para ensinar a observar o céu. No Imperial Observatório criado por seu pai, D.Pedro I, tinha um quarto para descansar após horas de observação. Mantinha contato com grandes luminares da astronomia entre eles o francês Camille Flammarion (1842-1925) que o convidou para inaugurarem juntos o seu Observatório de Juvisy em 29/07/1887, algo  que ele aceitou e compareceu. Para o Imperial Observatório, contratou astrônomos de renome como o francês Emmanuel Liais (1826-1910) e o belga Ferdinand Cruls (1848-1902) além de importar modernos instrumentos e doar alguns seus. Isso possibilitou ao Imperador realizar inúmeras observações importantes dentre as quais se destacam a primeira análise espectroscópica de um cometa usando equipamentos fotográficos pela primeira vez ; observação de dois eclipses solares de 1858 e 1865 quando foi utilizada pela primeira vez em todo mundo a fotografia para fins astrométricos; a rara passagem de Vênus pelo disco solar em 06/12/1882 e a observação e estudo do cometa Finlay em 18/01/1887 quando estimou sua cauda em 50 graus como foi registrado na revista L’ Astronomie publicada pela Sociedade Astronômica da França no tomo de 1887, pag.114. Na passagem de Vênus pelo disco solar em 06/12/1882, mesmo sob forte oposição do Parlamento, concedeu as verbas necessárias para três missões científicas  observarem a passagem uma de Punta Arenas na Patagônia chilena , outra na ilha de Saint Thomas nas Antilhas e a terceira em Olinda, Pe. Em suas freqüentes visitas ao exterior, fazia questão de visitar alguns observatórios se inteirando com as pesquisas e progressos recentes. Acredita-se que sua devoção ao céu veio através do litógrafo francês Louis Boulanger (1798-1874) , de frei Pedro de Santa Mariana (1782-1864) e dos livros de Camille Flammarion. Era membro sob numero 85 da Sociedade Astronômica da França fundada por Camille Flammarion em 1887 , sócio da Academia de Ciências da França, membro da Royal Society de Londres, da Academia Imperial das Ciências de São Petersburgo, da de Moscou e membro do Instituto Histórico do Rio de Janeiro. D. Pedro II não foi um astrônomo profissional mas um astrônomo amador dos mais conceituados . Para o Imperial Observatório faltava um telescópio de grande porte e ele foi encomendado na Inglaterra pelo Imperador. Desgraçadamente o navio que o transportava chegou ao Rio de Janeiro justamente na ocasião da Proclamação da República e os republicanos não perderam tempo : mandaram o telescópio de volta ! Em 1890 já no exílio foi homenageado com o nome do asteróide Brasília de nº 291 descoberto no Observatório de Nice, França, pelo astrônomo A. Charlois (1864-1910). Em 1891 escreveu em seu diário : “Pensava na instalação de um observatório astronômico moldado nos mais modernos estabelecimentos desse gênero que poderia ser superior ao de Nice”. Sua devoção a ciência do céu certamente levou seu espírito para muito além do asteróide Brasília,  para junto das estrelas. 
Nelson Travnik é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

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