UMA CONSTELAÇÃO COM MUITAS HISTÓRIAS
Cruzeiro do Sul
Imagem: Mundo Educação
Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
Com apenas
68 graus quadrados, ela é a menor de todas as constelações, mas uma das mais
célebres que domina as noites de outono.
Até agora os historiadores não chegaram a um acordo de
quem a viu pela primeira vez. Sabe-se que era vista pelos habitantes do Alto
Egito (Tebas) há milênios. As principais estrelas estão catalogadas no
Almagesto de Claudio Ptolomeu (85 -165 a.C.) na constelação do Centauro. Muitos
navegadores a viram mas não a batizaram como Cruzeiro. É o caso dos navegadores
portugueses João de Lisboa e Pero Anes que em 1506 fizeram observações do
Cruzeiro em Cochim, na latitude de 10 graus. A designação tornou-se universal
pelo astrônomo Johannes Bayer (1572-1625) em sua célebre obra Uranometria, atlas
celeste publicado em 1603 e autor do primeiro mapa das novas constelações
situadas ao redor do pólo sul celeste. Mais tarde em 1679, viu-se classificada
como tal pelo astrônomo Agostinho Royer. Para alguns, foi o famoso Mestre João,
astrônomo e médico da comitiva de Pedro Álvares Cabral que a viu e registrou
pela primeira vez em carta enviada ao rei de Portugal Dom Manuel em 1500. Nela
consta “(...) estas estrelas principalmente as da Cruz, são grandes quase como
as do Carro (a Ursa Maior) (...)”.
PRINCIPAIS ESTRELAS DA CONSTELAÇÃO
A constelação do Cruzeiro do Sul, conhecida entre os
astrônomos de todo o mundo por “Crux Australis”, possui estrelas notáveis pelo
brilho de suas componentes e é facilmente identificável nesta época do ano. A
estrela mais brilhante Alfa Crucis ou Acrux, popularmente conhecida como
Estrela de Magalhães, é uma belíssima estrela azul que é tripla, distante 200
anos-luz e que representa o Estado de São Paulo no pavilhão nacional. A segunda
mais brilhante é Beta Crucis ou, Becrux também conhecida como Mimosa e que
representa o Estado do Rio de Janeiro. Ela é 5800 vezes mais luminosa que o
Sol! Próximo a ela existe uma estrela de fraca luminosidade, a Kappa Crucis
onde situa-se um dos mais belos aglomerados abertos de estrelas chamado por J.
Herschel de “Caixa de Jóias” formado por estrelas de diferentes cores e que se
encontra a 7000 anos-luz! Retornando as estrelas do Cruzeiro, a terceira
mais brilhante é Gama Crucis ou Gacrux que é uma gigante vermelha, dupla,
conhecida como Rubídea e que representa o Estado da Bahia. É cerca de 900 vezes
mais luminosa que o Sol e distante 500 anos-luz. A seguir vemos a estrela Delta
Crucis, conhecida como Pálida. É também uma estrela gigante, 1900 vezes mais
luminosa que o Sol e que representa o Estado de Minas Gerais em nosso pendão.
Um dos aspectos que desperta atenção nessa constelação, é uma imensa região
escura conhecida como “Saco de Carvão”. Em noites limpas, sem luar e isenta da
iluminação das cidades, pode-se notar uma ausência quase total de estrelas
entre Mimosa e a estrela de Magalhães. Isto se explica porque naquela região há
uma colossal nuvem de gás interestelar que impossibilita a passagem de luz das
estrelas de fundo.
O Cruzeiro do Sul está indelevelmente ligado ao
descobrimento do Brasil e é detentor de uma tradição histórica, poética e
religiosa. Nós brasileiros fizemos dele patrimônio nacional.
O autor é astrônomo do Observatório Astronômico de
Piracicaba Elias Salum/SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.
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