sexta-feira, 10 de julho de 2015

CAMILLE FLAMMARION

No  Ano  Internacional  da  Luz,  a  comunidade  astronômica celebra,  

CAMILLE FLAMMARION(1842-1925)



Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com

Astronomia lembra este ano o 90º aniversário do seu desenlace. “O corpo passa. A alma vive no infinito e na eternidade”. (C.Flammarion)

     No contexto do Ano Internacional da Luz, proclamado pela ONU-UNESCO,a comunidade astronômica de todo o mundo, especialmente a francesa, reverencia em 3 de junho a memória de Camille Flammarion,  um  dos maiores divulgadores da astronomia de todos os tempos. Astrônomo, sábio e filosofo,   o  “Mestre de Juvisy”, o “Poeta do Céu”, partiu para a espiritualidade vítima de uma crise cardíaca aos 83 anos, 3 meses e 8 dias. Numa manhã ensolarada onde a vida irradiava nas flores e nos cantos dos pássaros, levantou-se da mesa em que trabalhava com seu sobrinho Charles e aproximou-se da janela para contemplar o jardim  do  Observatório.  Gabrielle  Renaudot Flammarion,  sua  dedicada esposa  acompanhou-o  e  ele,  sentindo  sua  presença, murmurou, balançando a cabeça encanecida : “Como é belo o mundo! Como é bela a vida!” Depois, voltou-se e olhou-a carinhosamente. De repente, seu rosto crispou-se e ele disse apenas : “meu coração” e em seguida “que mistério é a vida, que mistério é a morte”. Tombou nos braços de Gabrielle. Poucos minutos antes,  corrigira as provas de seu último livro :  “A Morte e seu Mistério”.  Foi  através  da  porta  mágica  da  poesia  que  ele  levou para  a Estrada  de  Urânia, milhares  de  amantes  da  ciência  do  céu.  Como prometeu, seu intuito era trazer ao homem comum as luzes do céu e do conhecimento. Amou a música com tamanha devoção a ponto do grande compositor e amigo Camille Saint-Saens declarar um dia que o astrônomo estava  a  lhe  fazer concorrência.  Quase  todos  os astrônomos  daqueles séculos foram, mesmo sem o pressentir, “crias” de Flammarion.                   
       Todos os anos no dia 3 de junho, membros da SociedadeAstronômica  da  França,  SAF  e  admiradores,  reúnem-se  à  volta  do  seutúmulo no jardim do Observatório, reverenciando sua memória e a grande contribuição à astronomia que mais despertou mentes voltadas ao estudodo céu. Entre seus admiradores estavam o imortal   Victor  Hugo (1802-1885), o grande músico Camille Saint Saëns (1835-1921) e os imperadoresNapoleão III (1808-1873) e D. Pedro II d’ Alcantara (1825-1891) do Brasil.Nosso Imperador, um grande aficionado da astronomia ,foi membro nº 85da  SAF  bem  como  Alberto  Santos-Dumont  (  1873-1932),  tambémaficionado e grandes admiradores de Flammarion.                   
          Após receber de presente o livro “Urania’, D. Pedro  II foi uma das  primeiras  personalidades  a  visitá-lo,  atendendo  convite  para  a inauguração do Observatório de Juvisy-sur- Orge  em 29 de julho de 1887.Nessa ocasião com uma observação do planeta Vênus, inaugurou a luneta de 24 cm com óptica de Bardou, concedeu a Flammarion a comenda da“Ordem  da  Rosa”  bem  como  plantou  no  jardim  do  Observatório  uma muda de cedro do Líbano.  Esta  árvore  existe até hoje e há uma placa alusiva  ao  simpático  gesto  do  nosso  Imperador.  Constatei  isso  quando estive em 17 de setembro de 2011 na reinauguração do Observatório após amplas reformas há muito necessárias. Em março de 1882 fundou a revista L’ Astronomie, que existe até hoje, 133 anos ! Uma efeméride difícil de ser igualada. Em 1887 fundou a Sociedade Astronômica da França, SAF, ainda uma das mais ativas do mundo com milhares de sócios em todo o mundo.É  seu primeiro presidente e assume a direção do Boletim Mensal.  Em 1879  surge  a  primeira  edição  do  seu  livro  “Astronomia  Popular”,  sua grande obra e que lhe valeu o prêmio Montyon em 1880 concedido pela Academia Francesa. Em 1955 sob direção de sua esposa Gabrielle Camille Flammarion,  Secretaria  Geral  da  SAF  e  de  André  Danjon,  diretor  do Observatório de Paris, o livro com 609 páginas é reeditado inteiramente refeito com os conhecimentos atuais da astronomia até aquele ano. Como suplemento ao livro, em 1896 surge “As Estrelas e as Curiosidades do Céu”,uma descrição completa do céu visível a olho nu e de todos os objetos celestes fáceis de observar. O ponto alto do livro com 792 páginas, é a observação de estrelas duplas. Convém lembrar que em 1878 Flammarion havia publicado um Catálogo de Estrelas Duplas Visuais que foi por muito tempo considerado o melhor do mundo. Por essas e muitas outras obras,Flammarion recebeu em 1912 um prêmio da Legião de Honra pela sua contribuição  dada  a  divulgação  da  astronomia.  Em  1899  fundou   o Observatório das Sociedades Eruditas . Flammarion escreveu 55 obras de ciência e filosóficas, Atlas Celeste, Carta Celeste, Planisfério Móbil, Carta Geral da Lua, cartas astronômicas e globos da Lua e de Marte.  Publicou muitos trabalhos de pesquisa na Academia de Ciências de Paris . É curioso atentar  uma relação neste  Ano Internacional  da Luz com o sobrenome ‘FFlammarion’ : na letra e significação galoromana é “aquele que leva a luz”.E realmente levou a luz das estrelas a milhões de pessoas.

REFERÊNCIAS 
L’ Astronomie, revista mensal da Sociedade Astronômica da França.
Camille Flammarion, Astronomie Populaire, edição de 1955
Camille Flammarion, Les Etoiles et les Curiosités du Ciel, edição de 1896.
Camille Flammarion, La Pluralité des Mondes Habités, edição de 1921.
Ronaldo R. Freitas Mourão, Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Editora Nova Fronteira, 1995. 

O  autor  é  diretor  do  Observatório  Astronômico  de  Piracicaba,  SP,  e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França. Fundou em MatiasBarbosa, MG, o Observatório Astronômico Flammarion (1954-1976).


Nenhum comentário:

Postar um comentário