Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
Para o leigo, o título a primeira vista sugere que se trata de um astronauta brasileiro ir à Lua. No futuro isto irá acontecer mas por enquanto no espaço ficamos apenas com o Major Marcos C. Pontes que a bordo na nave russa Soyuz TMA-8, partiu em 30/03/2006 rumo a Estação Espacial Internacional, ISS, ali ficando até 8 de abril. Da ISS à Lua há um longo caminho... Mas não se trata de um astronauta ir a Lua mas sim, que em nosso satélite natural, grandes personalidades mundiais em diversas áreas do conhecimento, tem lá seus nomes perpetuados bem como nos planetas rochosos e alguns de seus satélites. Embora tenhamos no Brasil muitos nomes consagrados internacionalmente, até o presente há somente dois deles homenageados na Lua. O primeiro é Santos- Dumont, uma cratera com 8.7 km de diâmetro situada nas coordenadas selenográficas de 27.7° N e 4.8° E, na região dos Montes Apeninos, próxima por sinal ao local da alunissagem da Apollo 15. Ela foi batizada em 1976 na 16ª Reunião da União Astronômica Internacional, IAU, realizada na Austrália, por sugestão do astrônomo Luiz Muniz Barreto (1925-2006) então diretor do Observatório Nacional do Rio de Janeiro. Ele havia enviado cinco nomes de ilustres brasileiros para a IAU batizar crateras na Lua. Só conseguiu a de Santos-Dumont. A cratera está na face visível e é melhor observada com telescópios de porte médio no sétimo dia de lunação quando o terminador (círculo máximo que separa as regiões iluminadas das não iluminadas pelo Sol) coloca em evidência a formação. Há 18 anos, no dia 20/09/1996, ela foi por mim fotografada pela primeira vez no País no Observatório Astronômico de Piracicaba, SP, órgão da Secretaria Municipal de Educação através do refrator “Steinheil” 175/2625 mm com ampliação de 300 vezes. Antes disso, ela só existia desenhada ou fotografada em mapas lunares, mas sem denominação. Recentemente a cratera foi fotografada com grande definição pelo Observatório Lunar de Belo Horizonte, MG, por seu diretor Ricardo José Vaz Tolentino.
A outra cratera lunar com nome de um brasileiro é a De
Moraes, alusiva ao astrônomo Abraão de Moraes (1916-1970), emérito diretor do
Observatório Astronômico e Geofísico da USP. O nome foi aprovado pela IAU em
1979. A cratera de impacto com 3,5 km de profundidade e nas coordenadas
selenográficas 49.38° N e 143° E, fica no lado oculto da Lua, portanto
inacessível para nós. Com um diâmetro de 54.4 km possui ao lado duas crateras
satélites batizadas de De Moraes S (diâmetro de 43.2 km) e De Moraes T
(diâmetro de 46.8 km). O nome dessas crateras foram aprovadas pela IAU em 2006.
UMA NOVA CRATERA BRASILEIRA?
É provável que mais um astrônomo brasileiro seja
imortalizado no espaço. Trata-se de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
(1935-2014) conhecido como o “Flammarion Brasileiro”. Ele faleceu em 25 de junho
deste ano (2014) no Rio de Janeiro, sua cidade natal. No Brasil é até a presente data
o maior divulgador da astronomia. Escreveu mais de 65 livros e centenas de
artigos em revistas e jornais. Seus trabalhos de pesquisa e descobertas são
conhecidos internacionalmente bem como o estímulo e atenção que sempre
dispensava aos astrônomos amadores. Nada mais justo que seu nome tenha sido
lembrado para que seja perpetuado em uma cratera lunar ou marciana consoante
proposta apresentada por mim em 9 de novembro último na Assembléia Final do 17º
Encontro Nacional de Astronomia, celebrado na cidade de Maceió, AL. A proposta
aprovada por unanimidade ficou de ser encaminhada pela Comissão Organizadora do
17º Encontro, a Sociedade Astronômica Brasileira, SAB, e esta, julgando válida,
a encaminhará a União Astronômica Internacional, IAU, para apreciação e aprovação. Será mais um
brasileiro no espaço, imortalizando assim sua memória da qual os astrônomos e
amantes da ciência do céu muito lhe devem.
Nelson
Travnik é astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba, SP, e
Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.
Nenhum comentário:
Postar um comentário