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Nelson Travnik
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Para a civilização cristã é mais um ano que passou. Em meio a festas,brindes e abraços, em algum momento lhe passou pela cabeça queestamos comemorando o ano errado? Uma pesquisa histórica nos ensina que a era cristã tem inicio no nascimento de Cristo cuja data verdadeira é desconhecida. A estimativa de datas em que se baseia o nosso calendário, foi feita durante a Idade Média por um monge chamado Dionisyus Exiguus e, segundo uma série de fontes, inclusive a Enciclopédia Católica, de fixar o ano 1 de nossa era em 753 A.U.C. (Ab Urba Condita), depois da fundação de Roma. Acontece que Dionisyus utilizando a data de 25 de dezembro do ano 753 errou nas contas por cerca de 4 anos e além disso não se deu conta de fixar o ano zero; ele apenas chamou o ano 752 de ano 1 antes de Cristo e o de 753 de ano 1 AD (Ano Domini ou Ano do Senhor).
A era cristã foi adotada pela Igreja em 532 por sugestão de Dionisyus que decidiu contar os anos a partir de 1º de janeiro em seguida ao nascimento de Cristo. Em 440 é que a Igreja decidiu que a data do nascimento de Cristo seria 25 de dezembro do calendário romano. Os cronologistas por sua vez, decidiram retardar sete dias o inicio da era cristã para que coincidisse com o inicio do ano 754 da fundação de Roma. Analisando fatos históricos ligados a Roma e Israel, palco dos acontecimentos, o cálculo de Dionisyus carece de fundamento. Isto porque se Cristo houvesse nascido em 754 da fundação de Roma, Herodes já estaria morto há cinco anos e os apóstolos Mateus e Lucas estariam mentindo. Sendo válido este raciocínio, estamos pois brindando o ano de 2021 ou 2022 segundo o qual Cristo deve ter nascido cerca de seis ou sete anos que o registrado pelo calendário ocidental, considerando o erro maior cometido por Dionisyus.
Em seu livro “A Infância de Jesus”, editado em cinqüenta países, o papa Bento XVI diz que Maria deu à luz entre 7 e 6 a.C. o que vem corroborar o acima colocado. Nosso calendário é Gregoriano que adveio do Juliano e este por sua vez dos egípcios. Ao longo dos séculos, as modificações introduzidas não teve como corrigir as discrepâncias que ocorriam e a que para isto consultou o astrônomo napolitano Luigi Lilius (1510-1576) e depois o matemático alemão Cristophorus Clavius (1537-1612). Mesmo com as regras estabelecidas no calendário gregoriano que utilizamos a partir de 1582, ele não é perfeito e apresenta um excesso de 0,0003 dia sem relação ao ano trópico, ou seja, de 1,132 dias em quatro mil anos. Essa diferença pouco significa para a humanidade mas para a datação de fatos históricos, em astronomia, ciência espacial e cálculos relativísticos, tal é inadmissível e para isso é que foram criados os relógios atômicos. São eles que controlam a diminuição da rotação do nosso planeta via marés e no fato da Lua afastar-se de nós 3,5 a 4 centímetros por ano. O efeito acumulativo da diminuição da rotação da Terra cresce proporcionalmente não ao tempo, mas ao seu quadrado. Isso faz com que várias medições diárias com resolução de nanosegundo são realizadas contribuindo assim com o estabelecimento do Tempo Universal, UT. Isso tem levado alguns organismos a pensar em um novo calendário, mas por enquanto essas tentativas não vingaram e o calendário atual parece que vai permanecer por longo tempo.
Esses cálculos mostram que a diminuição da rotação da Terra se encarregará no futuro de se elaborar um novo calendário. Acredito que o calendário deveria ser universal, segundo cálculos astronômicos. Como está é historicamente arbitrário e matematicamente errôneo. Quando brindamos um ano novo significa que transcorreram 365 dias, 05 horas,48 minutos e 14 segundos. São essas voltas ao redor do Sol que ditam a nossa existência. Quanto anos você tem? Ah, eu já dei tantas voltas ao redor do Sol. Ninguém diz isso, mas poderia falar.
Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.
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