sexta-feira, 25 de julho de 2014

UNIVERSO: Nascimento, Vida, Morte e Renascimento

Nebulosa Helix, conhecida como "Olho de Deus". Créditos: NASA


Nelson Travnik, astrônomo, Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.


NASCIMENTO

"E a luz se fez"

Tudo está ligado a uma expansão cósmica ocorrida após o Big Bang. Nuvens de gases e poeira ao se contraírem deram início a formação das primeiras protoestrelas e em um processo contínuo de contração resultou nas estrelas tal como conhecemos. O disco de gás e poeira já enriquecendo com elementos pesados que não participou da formação das estrelas - tal como já detectamos em outros sistemas estelares - deu início há cerca de 4,6 bilhões de anos a formação do Sistema Solar e com isto aos planetas. Assim, todos os átomos que formam o nosso corpo, foram criados inicialmente em um disco de gás e poeira e posteriormente no núcleo de uma estrela: o Sol. O calor e a pressão no núcleo do Sol iniciou o processo da fusão nuclear no qual quatro núcleos de hidrogênio (prótons) se transformam em um núcleo de hélio, conhecida come reação próton-próton. Esta reação que ocorre no interior do Sol e das estrelas, possibilita que além desse processo surjam novos elementos químicos mais pesados embora ionizados, fruto de temperaturas altíssimas. Ao longo da vida do Sol e das estrelas surgem inúmeros elementos entres os quais o carbono, o nitrogênio e oxigênio, todos eles com um papel essencial  na elaboração das moléculas da vida. As descobertas cada vez maior dos exoplanetas corrobora a teoria da formação planetária a partir de um disco de gás e poeira.


VIDA

"O ser humano é poeira de estrelas!"

A Terra já foi inóspita e inabitável. Existem várias teorias científicas sobre a origem da vida em nosso planeta. Uma delas foi proposta independentemente por J.B. S. Haldane e Alexander L. Oparin em 1922. Para eles, ela teria surgido em decorrência de processos físico-químicos ocorridos nas águas tépidas dos primitivos oceanos quando as primeiras moléculas orgânicas constituídas por compostos de carbono teriam gerado as primeiras moléculas e organismos vivos. A atmosfera era então constituída por metano, amônia, hidrogênio e vapor d' água. Outra teoria postulada por alguns estudiosos é que a vida na Terra veio do espaço pela queda de cometas que como sabemos contém gelo, rocha, poeira e substâncias pré-bióticas que teriam possibilitado o processo vital na Terra. Esse bombardeio intenso de cometas há 3,5 bilhões de anos, segundo alguns pesquisadores, trouxe também água para o planeta. Essa teoria não é nova e foi sugerida inicialmente por J. B. S. Haldane e Svant Arrhenius e mais tare revitalizada por Fred Hoyle e Chandra Wickramasingue em 1978. Durante pelo menos 2 bilhões dos 4,6 que tem, só houve bactéria por aqui. Seja de uma forma ou de outra, os cientistas são unânimes em dizer que para surgir vida é imperioso existir água. Que formas ela irá assumir, está condicionada a sua evolução no ambiente que estiverem. Evolução é algo cientificamente comprovada e não parou. Continuará ocorrendo através dos séculos e milênios. Na Terra os humanos surgiram na África entre cinco a sete milhões de anos, depois que houve uma diversificação da linhagem do chipanzé, nosso parente mais próximo. Não se concebe no mundo atua que os criacionistas nas escolas continuem a ensinar ideias religiosas contrárias aos fatos científicos. É um desserviço à educação. É querer representar as aspirações e angústias humanas em cima de algo que não é real. No final, "somos todos viajantes de uma jornada cósmica, poeira de estrelas, girando e dançando nos torvelinhos e redemoinhos no infinito" (Deepak).


MORTE

"Tudo morre mas tudo ressuscita. Aniquilamento não é mais do que transformação"

Em um passado não muito distante, o universo para o homem representou um lugar de quietude e harmonia. Hoje sabemos que ao contrário, ele é palco de eventos de extrema violência. Explosões de supernovas e hipernovas varrendo com raios X e gama tudo a sua volta, canibalismo cósmico perpetrado pelos buracos negros, estrelas engolfando planetas ao seu redor, são alguns exemplos. Se pudéssemos viajar a um bilhão de anos para o futuro, estaríamos vivendo em um dos satélites de Júpiter ou Saturno. Isto porque a esta altura, gradativamente, o Sol foi se transformando em uma gigante vermelha já teria "engolido" o planeta Mercúrio. Na Terra os oceanos já teriam fervido e desaparecido. Neste cenário apocalíptico, decorridos mais de um bilhão de anos, Vênus não existiria mais e seríamos envoltos pelos gases e poeira que o sol gradativamente iria expelir para o espaço formado ao longo do tempo um anel gigantesco, uma nebulosa planetária. No centro, o Sol tendo expelido suas camadas externas não seria nada mais nada menos que uma estrela anã branca, superdensa, com luminosidade um milionésimo da que outrora possuía e do tamanho da Terra. Nessa fase, não há mais combustível nuclear para alimentar os Sol. Ele vai esfriando lentamente, emitindo sob forma de luz os restos do seu calor interior. Mais um tempo e ele se tornará um astro sem luz e sem vida, assumindo a forma de um enorme rochedo esférico de carbono. A esta altura soará a hora final do sistema solar. Como já mostrado em livros e filmes de ficção, os humanoides se ainda existirem, terão que imigrar para outro sistema estelar. Juntamente com habitantes de outros sistemas estelares, estarão vivenciando um espetáculo grandioso: a aproximação da nossa galáxia com de Andrômeda. Ambas a 500 000 km/h estão em rota de colisão. Estima-se que daqui a cinco bilhões de anos elas irã interagir. Bilhões, trilhões de estrelas, aglomerados e nebulosas não se tocarão e buracos negros no centro de ambas galáxias farão ambas se contorcerem num cenário semelhante a muitas dessas "trombadas" já fotografadas pelos astrônomos. A galáxia de Andrômeda tomará todo o céu dos planetas da Via Láctea e vice-versa. Novas simulações indicam que daqui a cinco bilhões de anos, Andrômeda e Via Láctea formarão uma única galáxia. Situações desse tipo estão acontecendo em todo universo. Diante desse panorama chega-se a conclusão de que o universo está pouco ligando para o fim do sistema solar e muito menos que existiu um planeta chamado Terra.


RENASCIMENTO

"Tudo nasce, vive, morre e renasce"

Por enquanto os cientistas apostam em duas teorias: ou o universo continuará em eterna expansão até que cesse a temperatura de todas as estrelas terminando o cosmo no mais absoluto frio e escuridão ou, em determinado momento a expansão terminará e nesse caso o universo começaria a se contrair. Todas as galáxias, quasares, buracos negros, matéria escura e nuvens moleculares desabarão em um ponto hiperdenso, análogo ao que existia antes do Big Bang. É difícil para a mente humana conceber a inexistência do espaço e tempo antes do Big Bang. Segundo A. Einstein, apoiado na sua Teoria da Relatividade Geral, o espaço e o tempo surgiram com o Big Bang e não faria sentido pensar em um momento anterior a esse evento. Mas, e se o Big Bang não assinala o começo de tudo mas sim o fim de um universo que existia antes dele? É o que sustentam os cosmólogos Roger Penrose da univêniaersidade de Oxford no Reino Unido e Vahe Gurzadyan da Universidade de Yerevan na Armênia para um universo cíclico. Tal teoria abre naturalmente espaço para muitas dúvidas e especulações. Se nossa concepção de escala de tempos maiores que alguns milênios já provoca uma vertigem cerebral, o que pensar sobre bilhões e bilhões de anos? O que a ciência noa mostra até o presente - e há muita coisa ainda para ser descoberta - apoiada na observação e experimentação de laboratórios avançadíssimos, é que no universo tudo nasce, vive, morre e renasce. Nesse raciocínio e contemplação retrospectiva, surge inevitavelmente uma questão de cunho filosófico: qual é o papel dos seres inteligentes que certamente existiram, existem e vão existir em infinitos mundos? Somos simplesmente feito do pó das estrelas e a elas retornaremos? Simplesmente isso? Nada sobrevive além disso? Tema de uma milenar discussão, não cabe nesse artigo enveredar sobre essa questão pois somos engrenagens microscópicas de um mecanismo desconhecido.



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