Imagem: Filme A guerra dos mundos
Fonte: http://cinemania01.blogspot.com.br/2013/04/critica-guerra-dos-mundos-de-steven.html
|
Nelson Travnik
O problema
da existência ou não de outros planetas habitados, sempre foi motivo de grande
discussão. Desde tempos imemoriais, filósofos e homens de ciência dele se
ocuparam. A partir da descoberta do primeiro planeta extrassolar em 1992
orbitando o pulsar PSR 1257, seguiram-se milhares de outros e hoje sabemos que
não estamos sozinhos no universo, não somos uma civilização especial e muito
menos centro da criação e privilegiados pelo grande arquiteto.
C L I M
A T E N S O
Transcorria o ano de 1938. O mundo particularmente a
Europa e Estados Unidos vivia um clima tenso provocado pela ameaça de um novo
conflito mundial. A Alemanha arruinada pelo Tratado de Versailles, ressurgia
como potência tecnológica e militar pretendendo ocupação de mais territórios, o
chamado “espaço vital”. Nos ares a presença imponente do dirigível Hindenburg
com aquela enorme suástica, incomodava enormemente europeus e americanos. Como
se não bastasse, a possibilidade de Marte abrigar vida inteligente, era algo
que dividia a opinião dos astrônomos provocando a mais acirrada discussão da
história da ciência. Se Marte era habitado, como seriam seus habitantes? Que
grau de civilização estariam? Como sobreviviam em um planeta desértico com uma
atmosfera extremamente rarefeita, submissos a receber doses letais de radiações
solares e do espaço? E é justamente nos Estados Unidos que surge o maior
defensor da presença de habitantes em Marte: Percival Lowell (1855-1916).
Diplomata, homem rico, ele abandonou a carreira para construir um grande
observatório, o seu “Castelo de Marte” nos altiplanos do norte do Arizona,
Flagstaff, munido de uma grande luneta com objetiva de 61 cm de diâmetro.
Dedicou sua fortuna e 15 anos de sua vida para estudar Marte. Desenhando centenas
de canais, ele defendia a idéia que eram obra de engenharia dos seus habitantes
para retirar água dos pólos na irrigação das áreas desérticas. Até certo ponto,
a obstinação de Lowell era explicável: no século XIX, os canais eram de importância
crucial para o comercio internacional e o maior deles, o de Suez, constituía
uma marca da inteligência humana. Aqui mesmo no Brasil não estamos construindo
um canal para levar água do rio São Francisco as regiões áridas do nordeste? Em
um futuro longínquo talvez a escassez de água potável não nos leve também a
construir uma rede de canais partindo dos pólos? Sendo válido este raciocínio,
se os marcianos estariam em um grau avançado de civilização, aquele globo azul
com abundante atmosfera e conseqüentemente muita água, não seria a solução para
uma migração?
OS MARCIANOS
INVADEM A TERRA
Sob um clima tenso já mencionado, na tarde de domingo
30 de outubro de 1938, a crença nos marcianos transformou-se em dura realidade
para, pelo menos, 20 milhões de norte-americanos que ouviam através da Rádio
CBS de Nova York, no programa Mercury Theatre, uma encenação da “A Guerra dos
Mundos”, obra de ficção escrita em 1898 pelo romancista e escritor de ficção
científica, Herbert George Wells (1866-1946). Através de boletins sucessivos,
os ouvintes eram informados de que hordas incontroláveis de naves marcianas
invadiam a Terra em atitude hostil. As forças armadas do nosso planeta
requisitadas para repelir o invasor estavam sendo desmanteladas, destruídas e
pulverizadas uma após a outra. Os marcianos, exóticos seres esverdeados de
baixa estatura, haviam escolhido New Jersey para seu quartel general. Lançando
feixes de raios vermelhos e verdes, as naves invasoras iam minando as defesas
penetrando nas cidades e destruindo tudo a sua frente. A evacuação dos grandes
centros processava-se como única alternativa. Antes do inicio do programa havia
sido feita uma advertência de que o mesmo tratar-se-ia de uma encenação.
Contudo muitos pegaram ‘o bonde andando’ e o resultado foi que durante os 45
minutos que durou o programa, a população de Nova York principalmente se
envolveu de tal forma, que o pânico se apoderou de mais de um milhão de pessoas que saíram às ruas aterrorizadas
com as ‘noticias’ que anunciavam uma invasão marciana e a destruição da cidade.
A evacuação da cidade por muitos que
temiam ver um marciano em cada esquina, provocou um engarrafamento colossal. O protagonista da brincadeira que gerou até
suicídio e milhares de telefonemas à Rádio, era Orson Welles que se transformaria
mais tarde em um dos mais consagrados cineastas que o mundo conheceu.
Desnecessário dizer que após o programa, muitos foram a porta da Rádio que
viu-se em sérios apuros para convencer seus ouvintes de que tudo não passava de
uma encenação. Com medo de ser linchado, Orson Welles teve que sair por uma
porta dos fundos! Muitos sentindo-se prejudicados, moveram processos contra a
Radio que ao final saiu-se ilesa devido ao aviso feito antes do programa
começar. Refeito o susto, todos puderam respirar aliviados. Mais tarde o tema
viu-se transportado as telas sob o mesmo título: “A Guerra dos Mundos”,
primeiro em 1953 e depois em 2005, este último sob a direção de S. Spielberg,
ambos num estrondoso sucesso de bilheteria.
Orson Welles
ensaia pouco antes de transmitir por rádio a sua adaptação
de “A Guerra dos Mundos”, de H. G. Wells. |
Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da
Sociedade Astronômica da França.
Nenhum comentário:
Postar um comentário