quarta-feira, 12 de novembro de 2014

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA: CÉU DA BANDEIRA ESTÁ EM DESACORDO COM A ASTRONOMIA

                             Bandeira do Brasil
                             Imagem:http://navegandonahistoria-costa.blogspot.com.br/2012/11/historia-do-brasil-dia-da-                              bandeira.html


Nelson  Travnik - nelson-travnik@hotmail.com


Como uma tarefa dos astrônomos foi parar nas mãos de um pintor por puro sentimento revanchista

No sábado, 15 de novembro, o País celebra 125 anos da Proclamação da República, após um golpe militar perpetrado contra o Imperador D. Pedro II.  Com isso impunha a substituição da bandeira do império por aquela introduzida em 1822. A nova Bandeira Nacional foi estabelecida através do Decreto nº 4 de 19/11/1889  redigido por Rui Barbosa e assinado por :Marechal  Deodoro  da  Fonseca,  chefe  do  Governo  Provisório,  Quintino Bocaiuva,  Aristides da Silveira Lobo,  Rui  Barbosa,  M. Ferraz de Campos Sales, Benjamin Constant Botelho de Magalhães e Eduardo Wandenkolk.


UM  CÉU  DE  PURÍSSIMO  AZUL

A Bandeira do Brasil  uma das mais belas e sugestivas,  é a única do mundo que representa grande parte do firmamento que envolve a Terra. É a mais completa ilustração já imaginada para uma bandeira nacional.  O círculo interno  em  azul corresponde  a  uma  visão  da  esfera  celeste  inclinada segundo a latitude do Rio de Janeiro às 08h30 do dia 15/11/1889, data e local da Proclamação da República. Nesta hora a constelação do Cruzeiro do  Sul  encontra-se  no  meridiano  do  Rio  de  Janeiro.  Como é  dia,obviamente o céu só seria visível se ocorresse nessa data um eclipse total do Sol. Qualquer carta celeste mostra isso bem como no dia 20 de maio às 20h00 a situação se repete. É só olhar o céu e conferir.


CÉU   ÀS   AVESSAS

O céu representado na Bandeira evidencia erros e falhas astronômicas. Aposição das estrelas não coincidem com as estampadas na Bandeira. Isto é mais evidente na constelação do Cruzeiro do Sul com a posição da estrela épsilon (popularmente conhecida como ‘intrometida’) e que representa o Estado  do  Espírito  Santo.  Está  invertida.  Veja numa  carta  celeste  ou compare com o Cruzeiro do Sul  estampado nas bandeiras da Austrália,Samoa Ocidental, Papua-Nova Guiné , Nova Zelândia ou se preferir, com acamisa do Cruzeiro de Belo Horizonte, MG.  Outro fato é que as estrelas não coincidem em suas posições e magnitudes aparentes.  É o caso da constelação  do  Escorpião  que  não  é  possível  verificar  quais  sejam  as estrelas tão erradas estão.  Por último temos o caso da faixa “Ordem e Progresso” que alguns afirmaram tratar-se do Equador Celeste ou outros da eclíptica, faixa zodiacal onde se deslocam o Sol, a Lua e os planetas com exclusão de Plutão que não é mais considerado planeta e os asteroides. Do ponto de vista da astronomia não pode ser nem uma nem outra. Para ser eclíptica a estrela Spica, alfa da constelação da Virgem e que representa o Estado do Pará, teria que ficar abaixo dela e a estrela beta do Escorpião(Maranhão) acima.


ERROS   GROSSEIROS   DE   ASTRONOMIA

É  difícil  conceber  que  astrônomos  do  então  Imperial  Observatório,denominado a seguir  para Observatório Nacional,  que estavam ali  bem pertinho, não tenham sido consultados para estabelecer corretamente as posições das estrelas e da faixa que corta o céu da Bandeira. A reação não se  fez  esperar.  Na  época,  Eurico  de  Góis  declarou que o  pintor  Décio Villares ao desenhar a Bandeira não interpretou corretamente o Decretonº 4 que exigia que as estrelas fossem dispostas na situação astronômica quanto a distância,  tamanho e brilho relativo. Em vez de adotar a representação do céu quese encontra nos atlas celestes, adotou o sistema dos globos. Como atribuira um pintor uma tarefa exclusivamente da competência dos astrônomos? Porventura  um  espírito revanchista  sabendo  que  o  Imperador  era astrônomo amador e que possuía até um quarto privativo no Observatório para  descansar  após  as  observações?  A  Lei  nº  5.443  de  28/05/1968 explica em seu artigo 3º, §1º, que as constelações do céu às 08h30 do dia 15/11/1889  devem ser consideradas como vistas por um observador fora da esfera celeste. Um céu portanto  só acessível  a um astronauta!  Na ocasião os legisladores procuraram amenizar  apresentando justificativas para convencer os leigos. Uma delas é que o céu representado na Bandeira é a imagem do firmamento que seria visto às 08h30 do dia 15/11/1889,portanto em pleno dia,  refletido nas  águas  da  baia  da  Guanabara!  A questão foi debatida nos jornais, na tribuna do Congresso e até o povo foi instado a opinar. Mas tudo ficou como estabelecido pelo pintor. Todos os erros astronômicos constam de dois livros : o primeiro de Eduardo Prado “A Bandeira Nacional”, publicado em 1903 pelo IBGE e o de Rubens de Azevedo “A Bandeira Nacional”, publicado em 1988 pela edições Tukano-Arte & Literatura.


O  QUE   FAZER ?

O  projeto  poderia  ser  alterado  no  inicio  com  a  tarefa  a  cargo  dos astrônomos  do Observatório  Nacional.  Fica  complicado  que  passados tantos  anos,  agora  que  estamos  solidários  com  a  Bandeira,  proceder modificações. O mais sensato é portanto deixá-la como está e consider arque tudo é simbólico e as estrelas nas constelações estão como se fossem atiradas ao acaso. “Cientes de que nada é perfeito, orgulhamo-nos de que nossa Bandeira contenha lineamentos fundamentais da cultura humana,segmentos  de nossa  história  e  projetos  permanentes  de  realizações futuras.  A  Bandeira  ai  está, mais  gloriosa  que  nunca”. (Raimundo  O. Coimbra) 

Nelson Travnik é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba, SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

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