domingo, 3 de março de 2019

MACHU PICCHU E OS MISTERIOS DAS CIVILIZAÇÕES ANDINAS


Como foi possível adquirir tantos conhecimentos astronômicos, cortar e remover pedras de toneladas ? Observatório convida especialista para abordar o fascinante assunto que intriga gerações de estudiosos.
No próximo sábado, 09, com entrada franca, o astrônomo e pesquisador da civilização Inca, Prof. Carlos H. Amaral de Andrade, diretor do Observatório Municipal de Americana e representante no Brasil do “Projeto INTI”, fará ás 19h30 uma palestra no Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum, órgão da Secretaria Municipal de Educação abordando algumas questões que tem intrigado há anos os pesquisadores.
A palestra tem como objetivo o entendimento das civilizações pré-colombianas, incas e pré-incas, através de estudos da sua arqueologia e conhecimentos astronômicos. Irá também mostrar teorias sobre como foi possível aos incas (uma das civilizações estudadas) cortar, remover e unir pedras de toneladas com várias faces sem que para isso contassem com a ajuda de “deuses astronautas”.
A palestra irá abordar também aspectos do chamado Turismo Científico Cultural, onde as pessoas irão conhecer detalhes de uma viagem aos Andes para conhecer os mais importantes sítios, construções e monumentos da civilização Inca (projetointi.blogspot.com.br). O astrônomo também estará à disposição para responder perguntas dos interessados. As excursões a Machu Picchu desponta como um dos destinos preferidos por aqueles que se interessam conhecer mistérios e aspectos das grandes edificações feitas pelas civilizações antigas.

SERVIÇO
O Observatório fica no km 3 da rodovia Fausto Santomauro, SP 127, que liga Piracicaba a Rio Claro. Apenas 40 lugares estarão disponíveis. A idade mínima para assistir a palestra é de 14 anos. O Observatório possui amplo estacionamento. Após a palestra, mediante condições atmosféricas favoráveis, serão realizadas observações dos astros em evidência com destaque para as belezas das constelações de Orion , Touro e o Cão Maior. A programação se estenderá até ás 22h00.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

SOB O LUMINOSO CÉU DO BRASIL


Há cem anos a Relatividade de Einstein era confirmada no Brasil e pouca gente sabe que os conceitos da ciência no século XX mudaram radicalmente após um eclipse total do Sol tendo como palco a cidade de Sobral no Ceará.
Por Nelson Travnik(*)
A partir do dia 10 de maio de 1919, a cidade com apenas 10 mil habitantes foi surpreendida com a chegada de astrônomos brasileiros, ingleses e americanos. Na Praça do Patrocínio (fig. 1) em frente a igreja, várias tendas com um arsenal de instrumentos científicos começaram a ser montadas. Tudo teria que estar pronto para a manhã do dia 29, dia do eclipse. A equipe brasileira era composta por Henrique Morize, Domingos Costa, Lélio Gama e Allyrio de Mattos, todos do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, ON. A inglesa por Charles R. Davidson e Andrew Claude de La Cherois Crommelin do Real Observatório de Greenwich e a americana por Daniel Wise e Andrew Thomson,

comissionados pela fundação Carnegie Institution de Washington, interessada nos possíveis efeitos do eclipse sobre o magnetismo terrestre. A equipe brasileira instalou um fotoheliógrafo Zeiss com objetiva de 10,5 cm com a missão de fotografar a coroa solar, e a inglesa um celostato com os dois espelhos direcionados a uma luneta com objetiva de 33 cm diafragmada para 20,3 cm e uma outra de 10,1 cm, ambas para o teste da possível curvatura do raio luminoso de estrelas próximas ao bordo solar.


PORQUE SOBRAL?
A faixa de totalidade com 130 km de largura, começou no Peru, Brasil, Oceano Atlântico, Ilha do Príncipe, África Central e Moçambique. Após consenso geral, os melhores locais escolhidos foram o Brasil e a Ilha do Príncipe, (fig. 2). No Brasil, após criterioso exame, os astrônomos optaram por Sobral em pleno sertão cearense por várias razões: próxima a linha de centralidade; tempo de exposição da luz solar que oferecia durante o eclipse; facilidade no transporte dos instrumentos pela Estrada de Ferro Viação Cearense e pelo apoio logístico oferecido pelo ON. Sobral encontrou-se, pois, no lugar e no tempo certo para ser palco de um espetáculo científico que trouxe profundas repercussões científicas para a humanidade.

O GRANDE DIA
As atenções do mundo inteiro estavam convergidas para Sobral e a Ilha do Príncipe. Seria uma oportunidade única para comprovar se a teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein (1879-1955) estava correta segundo a qual a luz de uma estrela passando de raspão por um corpo maciço, no caso o Sol, seria levemente desviada de sua posição original devido a deformação do espaço pela gravidade do Sol. Conhecida a posição da estrela antes, durante e depois do eclipse, essa posição seria alterada devido a força gravitacional do Sol deformando o espaço (fig. 3). Em Sobral, o inicio do eclipse estava previsto para às 08:56 com duração de 6 minutos e 14 segundos, um tempo ótimo considerando o máximo previsto de um eclipse total do Sol
de 7 minutos e 14 segundos. Mas o tempo amanheceu com forte nevoeiro causando grande apreensão nos astrônomos. Contudo, como num passe de mágica, 5 minutos antes da totalidade, dissipou-se o nevoeiro deixando o Sol num campo livre e desembaraçado para a obtenção das fotografias desejadas. A equipe brasileira obteve 7 chapas e a inglesa 19 chapas com a luneta de 20,3 cm e 8 com a luneta de 10,1 cm, num total de 27 chapas sendo 8 consideradas muito boas.

 As exposições fotográficas variaram de 5 a 58 segundos. A mais famosa fotografia foi obtida por Henrique Morize do   ON (fig. 4) mostrando uma grande protuberância chamada “Tamanduá” pela semelhança com esse animal. Todo o eclipse com as fases parciais terminou às 10:29.


EINSTEIN X NEWTON
Segundo Isaac Newton (1642-1727), os raios de luz não têm massa e não teriam sua trajetória afetada pela gravidade. Para ele, o espaço-tempo eram absolutos e não falava nada sobre aceleração e tampouco sobre a curvatura do espaço. Com a teoria da Relatividade Geral, Einstein explicou primeiramente um fenômeno que a física newtoniana não explicava: o avanço do periélio de Mercúrio após múltiplas órbitas. Entretanto, para derrubar Newton de seu pedestal intocável por mais de três séculos, a comunidade de físicos exigiam mais. Ademais, Einstein era alemão e os ânimos contra a Alemanha estavam acirrados em 1919 após o armistício de 1918. Na Inglaterra muitos olhavam torto para a idéia de patrocinar expedições a cantos remotos do planeta com objetivo de comprovar a teoria de um alemão com sua teoria revolucionária e mesmo audaciosa revolucionando a concepção do espaço-tempo e gravidade. Entretanto, como a ciência paira sempre acima da estupidez humana, a Relatividade Geral de Einstein que descreve a distorção do espaço-tempo quando um raio de luz se encurva, ao passar por um corpo de muita massa, precisaria ser provado experimentalmente e nada melhor que um eclipse total do Sol. Segundo Newton, uma estrela atrás do Sol não poderia ser vista. Einstein dizia que sim e calculou que o desvio dos raios de uma estrela próxima a borda solar seria de 1. 75” segundos de arco, durante um eclipse total do Sol. Confrontando com sua posição original, ela se mostraria alterada devido a deformação do espaço pela força gravitacional do Sol. No eclipse de 29 de maio o Sol estaria na constelação do Touro (fig.5) numa região rica de estrelas brilhantes e isso era um fator altamente favorável para provar a teoria.
A COMPROVAÇÃO DE EINSTEIN


No dia do eclipse o tempo esteve chuvoso na Ilha do Príncipe e só duas chapas foram conseguidas, mas somente uma apresentou estrelas com resultados precários e bastante incertos. Ela não permitiu a equipe chefiada por Arthur S. Eddington (1882-1944)  do
Observatório Real de Greenwich, provar a contento a teoria de Einstein. Ao contrário, 8 chapas obtidas pelos ingleses em Sobral foram consideradas muito boas e 7 estrelas (fig. 5) apareciam nelas. As medidas deram o valor de 1.98” segundos de arco de deflexão da luz, muito próximo do previsto por Einstein de 1.75” segundos de arco. Os resultados confirmando o chamado efeito Einstein, só foi possível ao se comparar as chapas do dia 29 de maio com chapas obtidas posteriormente nos dias 10, 13, 14, 16 e 17 de julho, na mesma região do céu onde o Sol estivera antes, no mesmo local e com os mesmos instrumentos. Os resultados foram divulgados em 6 de novembro de 1919 no famoso encontro da Royal Society em Londres. No dia seguinte, manchetes ocupavam os jornais de todo o mundo. Na Inglaterra, particularmente em Londres, o impacto foi enorme e produziu manchetes como: “A teoria do alemão Einstein suplantou a teoria do inglês Newton”. No Times: “Uma revolução na ciência: as idéias de Newton estão arruinadas”! A observação do eclipse solar em Sobral, foi a primeira comprovação convincente da Relatividade Geral. Atualmente não se usa mais eclipses solares totais para comprovação da teoria e sim ondas de rádio emitidas por quasares e detectadas por rádio telescópios. Mais tarde Einstein visitou o Brasil de 4 a 12 de maio de 1925, ocasião em que disse: “O problema concebido pelo meu cérebro, incumbiu-se de resolve-lo o luminoso céu do Brasil”.

(*) Nelson Travnik é astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.


Referências – Para conhecer mais
  • Einstein no Brasil, Marcomede R. Nunes, ON, Editora Régis Aló, 2005;
  • Astronomia no Ceará, Rubens de Azevedo, IOCE, Fortaleza, 1986;
  • Correio da Semana, jornal de Sobral, dias 17, 24 e 31 de março e 12 de julho de 1919;
  • Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Ronaldo R. F. Mourão, Editora Nova Fronteira, 1995;
  • Testing Relativity from the 1919 Eclipse a question of bias, Daniel Kennefick, American Institute of Physics, 2009;
  • A Determination of the Deflection of Light by the Sun’s Gravitational Field, from Observations made at the Total Eclipse of May 29, 1919, by Sir F. W. Dyson, F. R. S. Astronomer Royal, Prof A. S. Eddington, F. R. S. and Mr. C. Davidson;
  • Observatório Nacional 185 Anos, Terezinha Rodrigues, ON, 2012;
  • História do Observatório Nacional, Antonio A. Passos Videira, gráfica Duo Print, 2007.


Agradecimentos
Ao Dr. Julio Penereiro, astrofísico do Observatório Municipal de Campinas Jean Nicolini, pela revisão e sugestões ao presente artigo.



sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

O ECLIPSE TOTAL DA LUA DE 21 DE JANEIRO

Eclipse Lunar . Imagem: Wikipedia






O Eclipse Total da Lua na madrugada do dia 21 de janeiro próximo, será visível integralmente no Brasil com as etapas nos seguintes horários (fuso GMT – 3h e com acréscimo de + 1 hora do Horário de Verão, hora de Brasília)

Entrada da Lua na penumbra : 00:36
Entrada da Lua na sombra : 01:33
Inicio da totalidade : 02:41
Meio do eclipse : 03:12
Fim da totalidade : 03:43
Saída da Lua da sombra : 04:50
Saída da Lua da penumbra : 05:48

NO OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO DE PIRACICABA ELIAS SALUM
O Observatório abrirá ao publico para observação do eclipse a partir da 01h00 da madrugada encerrando ás 04:00. Vários telescópios serão utilizados bem como binóculos. Haverá projeção do eclipse em um telão. A entrada é franca, não é necessário agendamento, não há limite de idade e há amplo estacionamento. Lembrando para os que não puderem ir ao Observatório, que o eclipse poderá ser visto de qualquer ponto da cidade.

O FENÔMENO TEM ALGUMAS PARTICULARIDADES INTERESSANTES
O eclipse não será central pois não passará no centro do cone de sombra da Terra. O diâmetro do cone de sombra onde passará a Lua será de 9.800 km enquanto o do globo lunar é de 3.476 km. A totalidade irá durar 62 minutos e vai ocorrer muito próxima a Lua na menor distância a Terra,(perigeu), 357.714 km e por isso este eclipse está sendo chamado de Eclipse Lunar de Perigeu. Nessa posição sua velocidade angular é 29% superior quando ela se encontra na posição mais afastada da Terra (apogeu). Isso porque a excentricidade da órbita lunar é bastante forte, três vezes maior que a orbita terrestre ao redor do Sol. Com a Lua alta no céu, é um eclipse altamente favorável no Brasil. Quando da totalidade será possível ver que ela está na constelação de Câncer. Ao observar a sombra da Terra na Lua convém lembrar que ela se desloca a razão de 1km/s. Mesmo imersa totalmente no cone de sombra da Terra, ela não desaparece por completo porque a atmosfera do nosso planeta retrata os raios solares e eles ao atingir a Lua assumem uma tonalidade condizente com o estado da nossa atmosfera devida a poeira e gases ejetados pelas erupções vulcânicas , grandes incêndios e até por gases das fábricas. As grandes erupções vulcânicas de 2018 e grandes incêndios ocorridos particularmente nos Estados Unidos e na Europa é de molde a prever que a Lua deverá assumir uma tonalidade avermelhada/alaranjada. Esse eclipse pertence ao Saros nº 134. A melhor visão do eclipse será com binóculos e instrumentos de curta distância focal. Não é necessário nenhuma proteção a vista. Belas fotografias da fase parcial e principalmente da totalidade poderão ser obtidas com as câmaras digitais.

IMPORTÂNCIA
Ao contrário dos eclipses totais do Sol que são fontes de preciosas pesquisas, os lunares estão praticamente esgotados. Contudo para os ambientalistas, a coloração que a Lua oferece nessas oportunidades, é muito importante para medir o grau de poluição da nossa atmosfera. Outrossim, os eclipses são bastante úteis aos historiadores para datação de importantes eventos antigos da humanidade. O fenômeno é também importante para que os professores trabalhem o assunto com os alunos fazendo-os compreender o mecanismo do eclipse , empreendendo uma descrição e cronometragem dos instantes do eclipse. Tudo isso sendo possível com binóculos ou pequenas lunetas.

sábado, 29 de dezembro de 2018

FOGUETES ARTESANAIS

Imagem: Secretaria Municipal de Educação

O lançamento faz parte da programação de hoje do Observatório Astronômico

 

 O Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum (Oapes), órgão da Secretaria Municipal de Educação, estará aberto à visitação pública neste sábado, encerrando as atividades do ano, A visitação terá início às 17h30 com observações solares, demonstrações junto ao relógios de Sol e até lançamento de foguetes artesanais que constituem uma grande atração principalmente para as crianças. A partir das 20h terão início as observações aos telescópios com destaque para as belezas das comstelações de Órion e de Touro.

Segundo Nelson Travnik, responsável pelo Oapes, 2019 ae inicia com um Eclipse Total da Lua no dia 20-21 de janeiro, visível no Brasil com início as 23h36 e terminando as 4h48. A totalidade começa as 1h41 e o fim às 2h43, com duração de 62 minutos. No dia 2 de julho irá ocorrer um Eclipse Total do Sol com visibilidade apenas para Argentina e Chile. Em Piracicaba será visto apenas como parcial com 38% do disco solar encoberto pelo disco lunar. Enquanto nesse dia o Oapes ficará aberto para observação pública, um astrônomo deverá se deslocar para a cidade escolhida de La Serena, no Chile, para observações científicas. Interessante notar que em 14/12/2020 outro Eclipse Total do Sol também irá ocorrer na Argentina e no Chile. No dia 16 também de julho estará  ocorrendo um Eclipse Parcial da Lua com algumas partes visíveis no Brasil. No dia 11 de novembro teremos uma rara passagem do planeta Mercúrio na frente do disco Solar e que será visível no Brasil. O próximo depois só em 13/11/2032.

2019 - Um ano de evento

Em 20/12/2017, a ONU proclamou 2019  como o "Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos", em homenagem aos 150 anos da descoberta de um sistema periódico de elementos químicos por Dmitri Mendeleev.

No Brasil, o evento de maior expressão e que atrairá as atenções de todo o mundo, está reservado para o dia 29 de maio. Há 100 anos dessa data, na cidade de Sobral - CE, num Eclipse Total do Sol, com visibilidade plena, foi comprovado a distorção do espaço-tempo na presença de um forte campo gravitacional, pela Teoria da Relatividade Geral do alemão Albert Einsten (1879-1955). Mais tarde em visita ao Brasil ele diria: "O problema concebido pelo meu cérebro, incumbiu-se para resolvê-lo o luminoso céu do Brasil". Celebrando o ano dessa importante efeméride, o 22º Encontro Nacional de Astronomia (Enast) será realizado em Sobral, do dia 4 a 18 de novembro.


Saiba mais

Estão programados três cursos  de astronomia, que serão abertos a população com idade mínima  de 14 anos. As inscrições podem ser feitas até o dia 5 de fevereiro. Também estão programadas palestras de astrônomos convidados. As datas ainda não foram divulgadas.   

Fonte: Gazeta de Piracicaba, 29/12/2018 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

ESPAÇO, TEMPO, VIDA: Ano que foi, ano que vem

 
Imagem: wikipedia

Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
Pelo Calendário Gregoriano que adotamos, estamos adentrando em 2019 muito embora uma pesquisa histórica, indique que, na realidade, iremos ingressar o ano novo de 2025 ou 2026. Mais recentemente, abordando o assunto, no seu livro “A Infância de Jesus”, o papa Bento XVI diz que Maria deu a luz entre 7 e 6 a.C. Seja um ou outro, o fato é que neste 1º de janeiro iniciamos mais uma jornada ao redor do Sol. Nesses 365 dias, nosso planeta irá percorrer 942,4 milhões de quilômetros algo que, em linha reta, nos levaria além do planeta Júpiter. Isso permite algumas reflexões sobre espaço, tempo e vida.
No mundo atual, como estranhos em seu próprio habitat, multidões não se interessam em saber afinal o que são, onde estão, para onde vão e seu destino final. A maioria vive porque respiram e se contentam com o preconizado pelas religiões, sem questionar o que lhe é imposto pelos livros sagrados. Advindo qualquer infortúnio, é a vontade de Deus. É mais cômodo viver assim. Infelizmente não se dão conta que estão entorpecidos pelo sistema que as transforma em máquinas de consumismo como símbolo da felicidade. Um sistema inserido na sociedade que as utiliza e descarta como objetos. Seu dia-a-dia é preenchido pela chupeta eletrônica e por infindáveis conquistas tecnológicas que todavia a prende a um emaranhado de dúvidas sobre sua própria existência. O ser humano tão complexo é desconhecido por ele próprio, vive a Era Espacial de grandes realizações científicas mas ainda não aprendeu a encontrar a grandeza de sua pequenez e da sua estupidez.
Continuamos a ser um enigma, uma gota num oceano de incertezas que por um instante aparece e dissipa como bolhas de sabão que as crianças fazem flutuar no ar. Poucos são cônscios de que a sabedoria do ser humano não está no quanto ele sabe, mas no quanto ele tem consciência de que não sabe. É preciso portanto ter humildade para compreender o mundo insondável da psique humana; que somos ínfima partícula na vastidão cósmica e que o universo estará ignorando quando o Sol, nosso habitat e os demais planetas um dia desaparecer sem testemunha do último gemido. Pura ilusão é pois achar que somos o ápice da civilização. Os egípcios, os romanos, só para ficar nesses dois exemplos, cultuavam o mesmo pensamento. O que sobrou dessas civilizações? Ruínas, pedras e pó. No universo, nascimento e morte estão sempre de mãos dadas. Quando nascemos estamos programados para morrer. Tudo que é belo um dia morre. Não sentimos o perfume das flores que já morreram.
Somos apenas uma espécie transitória, viajantes em uma jornada cósmica, dentro de uma cápsula do tempo, girando e dançando nos torvelinhos e redemoinhos de um universo infinito. O céu nos envolve por todos os lados e a luz de miríades de estrelas que contemplamos, é um monumental concerto cósmico que aconteceu há dezenas, milhares ou milhões de anos. A observação do céu é, por conseguinte, uma experiência de transformação e ampliação da consciência, uma grande elevação espiritual que proporciona uma imensa satisfação íntima e nos ensina que na história da Criação, cem milhões de anos passam como um dia; apagam-se e dissipam-se como fugitivo sonho no seio da eternidade que todo absorve. Mais do que uma mera propriedade lógica de certos enunciados, o conhecimento do cosmos é um poema da vida, um poder espiritual que aprofunda e transforma a visão de nós mesmos. Através da lei universal de ação e reação, causa e efeito, há o equilíbrio do Universo.
Nesse raciocínio e contemplação retrospectiva, surge uma inevitável questão de cunho filosófico : qual é o destino final de todos os seres inteligentes que existiram, existem e vão existir nesse planeta? Somos apenas um cérebro sofisticado que tomba numa sepultura para não ser mais nada? Apenas feitos do pó das estrelas ? Nada sobrevive além disso ? Tema de uma milenar discussão, não cabe nesse artigo enveredar por essa questão pois somos engrenagens microscópicas de um mecanismo desconhecido.
Nelson Travnik é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

domingo, 2 de dezembro de 2018

A BANDEIRA DA REPÚBLICA

ASTRÔNOMOS NÃO FORAM CONSULTADOS
Nelson Travnik
nelson-travnik@hotmail.com
A Bandeira do Brasil é uma das mais belas e sugestivas do mundo e também a única que representa grande parte do firmamento que envolve a Terra. Contudo contém erros grosseiros de astronomia.
Há exatos 129 anos, com a deposição de D. Pedro II, era proclamada a República Federativa do Brasil, então nação considerada de 1º mundo com uma forte economia. Naturalmente a Bandeira do Império introduzida em 1822, teria que ser substituída por outra. A nova Bandeira foi estabelecida pelo Decreto nº 4 de 19/11/1889, mantendo a tradição das antigas cores nacionais e inserindo um céu de puríssimo azul. É a mais bela e completa ilustração já imaginada para uma bandeira nacional, única no mundo que corresponde a uma visão da esfera celeste, inclinada segundo a latitude do Rio de Janeiro, local da Proclamação, às 08h30 do dia 15/11/1889. 






CÉU ÀS AVESSAS

Uma consulta a uma simples carta do céu, mostra que o céu da Bandeira está às avessas. A posição das estrelas não coincide em suas posições e magnitudes aparentes. O erro mais grosseiro é a posição do Cruzeiro do Sul. A posição da estrela épsilon conhecida como ‘intrometida’ e que representa o Estado do Espírito Santo está invertida bem como a constelação do Escorpião. A reação não se fez esperar e na época Eurico de Góis declarou que os que trabalharam na elaboração da Bandeira não interpretaram convenientemente o Decreto nº 4 que exigia que as estrelas fossem dispostas na sua situação astronômica quanto a posição, distância e tamanho relativo. Os legisladores procuraram na ocasião apresentar uma justificativa para amenizar e convencer os leigos que aquele céu visto às 08h30 do dia 15 de novembro estaria refletido na Baia da Guanabara, portanto em pleno dia! Outros argumentaram que era o céu visto fora da Terra sobre o Brasil. A questão foi debatida nos jornais, na tribuna do congresso e até o povo foi instado a opinar. Mas logo tudo ficou esquecido. Mais tarde, a Lei nº 5443 de 28/05/1968 surgiu para justificar o erro, mas nada foi feito. Não só o céu, mas também há erros quanto a faixa com os dizeres ‘Ordem e Progresso’ que alguns afirmam ser o Equador Celeste e outros a Eclíptica (faixa zodiacal onde se deslocam o Sol, os planetas e asteróides do cinturão). Do jeito que está não pode ser nem uma nem outra. Todos os erros astronômicos constam de dois livros: “A Bandeira Nacional” de Eduardo Prado publicado em 1903 e depois pelo IBGE e “A Bandeira Nacional” de Rubens de Azevedo publicado em 1988 pela Edições Tukano – Artes & Literatura.

O QUE FAZER?

O projeto poderia ser realizado corretamente com a tarefa a cargo dos astrônomos do Observatório Nacional que estavam ali pertinho, no bairro de São Cristovão. Porque isto não foi feito? Talvez por puro revanchismo. Os republicanos sabiam que o Imperador era astrônomo amador, amava astronomia, tinha um pequeno observatório no telhado do Palácio Imperial de São Cristovão, hoje Museu Nacional, onde recebia as crianças para palestras e observações, bem como um apartamento no então Imperial Observatório para descansar após horas de observação. Além de custear expedições científicas, adquiriu instrumentos, modernizou o Observatório e contratou astrônomos europeus de renome para aqui trabalhar. Convidado pelo renomado astrônomo francês Camille Flammarion, em 29/07/1877 compareceu para a inauguração do seu Observatório de Juvisy. Na ocasião inaugurou a luneta de 24 cm, plantou nos jardins do Observatório um cedro do Líbano (que existe até hoje!) e concedeu a Flammarion a comenda da “Ordem da Rosa”. Era Membro Titular da Sociedade Astronômica da França e mais tarde foi imortalizado no asteroide ‘Brasília’ descoberto por A. Charlois (1864-1910) no Observatório de Nice, França. Quanto a Bandeira, no inicio o projeto poderia ser alterado e várias consultas foram feitas posteriormente aos astrônomos do Observatório Nacional para uma correção, mas tudo ficou como o estabelecido no Decreto nº 4 de 19/11/1889. A mudança seria simples, poucas pessoas notariam a diferença e o mais importante: mostraria o céu de acordo com o que vemos. Tal pode ser conferido no dia 20 de maio às 20h00 pois a situação se repete com o Cruzeiro do Sul alto no céu no meridiano do Rio de Janeiro. Mas após décadas fica difícil proceder modificações agora que todos estão solidários com a Bandeira. O mais sensato é, portanto, deixá-la como está e considerar então que tudo é simbólico e as estrelas nas constelações estão como se fossem atiradas ao acaso. “Cientes de que nada perfeito, orgulhamo-nos de que a nossa Bandeira contenha lineamentos fundamentais da cultura humana, segmentos de nossa história e projetos permanentes de realizações futuras. A Bandeira aí está mais gloriosa que nunca” (Raimundo O. Coimbra).




Nelson Travnik é astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.


quarta-feira, 25 de julho de 2018

Há 80 anos, O DIA DA INVASÃO EXTRATERRESTRE


Nelson Travnik

Este mês em que o planeta Marte após 15 anos estará novamente mais próximo à Terra, é licito recordar um evento que causou nos Estados Unidos um clima de grande apreensão e temores generalizados.
O problema da existência ou não de outros planetas habitados, sempre foi motivo de grande discussão. Desde tempos imemoriais, filósofos e homens de ciência dele se ocuparam. Hoje sabemos que está comprovado a existência de milhares de planetas ao redor das estrelas, que não estamos sozinhos no universo, não somos uma civilização especial e muito menos centro da criação e privilegiados pelo grande arquiteto.

CLIMA TENSO
Transcorria o ano de 1938. O mundo particularmente a Europa e Estados Unidos vivia um clima tenso provocado pela ameaça de um novo conflito mundial. A Alemanha arruinada pelo Tratado de Versailles, ressurgia como potência tecnológica e militar pretendendo ocupação de mais territórios, o chamado “espaço vital”. Nos ares a presença imponente do dirigível Hindenburg com aquela enorme suástica, incomodava enormemente europeus e americanos. Como se não bastasse, a possibilidade de Marte abrigar vida inteligente, era algo que dividia a opinião dos astrônomos provocando a mais acirrada discussão da história da ciência. Se Marte era habitado, como seriam seus habitantes? Em que grau de civilização estariam? Como sobreviviam em um planeta desértico com uma atmosfera extremamente rarefeita, submissos a receber doses letais de radiações solares e do espaço? E é justamente nos Estados Unidos que surge o maior defensor da presença de habitantes em Marte: Percival Lowell (1855-1916). Diplomata, homem rico, ele abandonou a carreira para construir um grande observatório, o seu “Castelo de Marte” nos altiplanos do norte do Arizona, Flagstaff, munido de uma grande luneta com objetiva de 61 cm de diâmetro. Dedicou sua fortuna e 15 anos de sua vida para estudar Marte. Desenhando centenas de canais, ele defendia a idéia que eram obra de engenharia dos seus habitantes para retirar água dos pólos na irrigação das áreas desérticas. Até certo ponto, a obstinação de Lowell era explicável: no século XIX, os canais eram de importância crucial para o comercio internacional e o maior deles, o de Suez, constituía uma marca da inteligência humana. Aqui mesmo no Brasil não estamos construindo um canal para levar água do rio São Francisco as regiões áridas do Nordeste? Em um futuro longínquo talvez a escassez de água potável não nos leve também a construir uma rede de canais partindo dos polos? Sendo válido este raciocínio, se os marcianos estariam em um grau avançado de civilização, aquele globo azul com abundante atmosfera e conseqüentemente muita água, não seria a solução para uma migração?

OS MARCIANOS INVADEM A TERRA
Sob um clima tenso já mencionado, na tarde de domingo 30 de outubro de 1938, a crença nos marcianos transformou-se em dura realidade para, pelo menos, 20 milhões de norte-americanos que ouviam através da Rádio CBS de Nova York, no programa Mercury Theatre, uma encenação da “A Guerra dos Mundos”, obra de ficção escrita em 1898 pelo romancista e escritor de ficção científica, Herbert George Wells (1866-1946). Através de boletins sucessivos, os ouvintes eram informados de que hordas incontroláveis de naves marcianas invadiam a Terra em atitude hostil. As forças armadas do nosso planeta requisitadas para repelir o invasor estavam sendo desmanteladas, destruídas e pulverizadas uma após a outra. Os marcianos, exóticos seres esverdeados de baixa estatura, haviam escolhido New Jersey para seu quartel general. Lançando feixes de raios vermelhos e verdes, as naves invasoras iam minando as defesas penetrando nas cidades e destruindo tudo a sua frente. A evacuação dos grandes centros processava-se como única alternativa. Antes do inicio do programa havia sido feita uma advertência de que o mesmo tratar-se-ia de uma encenação. Contudo muitos pegaram ‘o bonde andando’ e o resultado foi que durante os 45 minutos que durou o programa, a população de Nova York principalmente se envolveu de tal forma, que o pânico se apoderou de mais de um milhão de pessoas que saíram às ruas aterrorizadas com as ‘noticias’ que anunciavam uma invasão marciana e a destruição da cidade. A evacuação da cidade por muitos que temiam ver um marciano em cada esquina, provocou um engarrafamento colossal. O protagonista da brincadeira que gerou até suicídio e milhares de telefonemas à Rádio, era Orson Welles que se transformaria mais tarde em um dos mais consagrados cineastas que o mundo conheceu.
Desnecessário dizer que após o programa, muitos foram a porta da Rádio que viu-se em sérios apuros para convencer seus ouvintes de que tudo não passava de uma encenação. Com medo de ser linchado, Orson Welles teve que sair por uma porta dos fundos! Muitos sentindo-se prejudicados, moveram processos contra a Radio que ao final saiu-se ilesa devido ao aviso feito antes do programa começar. Refeito o susto, todos puderam respirar aliviados. Mais tarde o tema viu-se transportado as telas sob o mesmo título: “A Guerra dos Mundos”, primeiro em 1953 e depois em 2005, este último sob a direção de S. Spielberg, ambos num estrondoso sucesso de bilheteria.  

Nelson Travnik é astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.